Privatizar a Petrobras ajudaria a baixar o preço da gasolina?
Presidente Jair Bolsonaro reforçou nesta segunda-feira o desejo de privatizar a companhia; no entanto, preços dos combustíveis dependem de outros fatores.
Pela segunda vez em menos de um mês, o presidente Jair Bolsonaro disse que considera privatizar a estatal Petrobras. O ministro da Economia, Paulo Guedes, também havia dito que a privatização da maior empresa brasileira deveria acontecer em um horizonte de dez anos nas últimas semanas.
A fala de Bolsonaro desta segunda-feira, 25, acontece em meio a mais uma escalada de preços dos combustíveis. Também nesta segunda, a empresa divulgou um novo aumento da gasolina e do diesel nas refinarias.
Desde o inicio do ano, o preço internacional do petróleo tem se mantido em valores altos, principalmente devido à pouca oferta feita pelos países do Oriente Médio que não retornaram à produção pré-pandemia.
Com isso, a Petrobras é alvo de desgastes, que geraram inclusive a demissão de seu ex-presidente do início do ano, Roberto Castello Branco.
Em entrevista nesta segunda-feira a uma rádio do Mato Grosso do Sul, o presidente Jair Bolsonaro disse que gostaria de privatizar a empresa, mas que o movimento não é fácil.
“[A privatização] entrou no nosso radar. Mas privatizar qualquer empresa não é, como alguns pensam, pegar empresa, botar na prateleira, amanhã quem der mais leva embora. É uma complicação enorme. Ainda mais quando se fala em combustível, né. Se você tirar do monopólio do estado que existe e colocar no monopólio de uma pessoa apenas particular fica a mesma coisa ou talvez até pior”, disse o presidente.
Com a fala de Bolsonaro, as ações da empresa dispararam 7% durante o dia. Na visão de analistas, a privatização da Petrobras poderia até aliviar o governo federal de sofrer cobranças da população quando há aumento do petróleo — e do combustível, consequentemente, mas não reduziriam o preços dos combustíveis.
Uma pesquisa feita pela EXAME em parceria com Instituto IDEIA mostra que a população não tem responsabilizado a empresa pela alta, mas sim o governo.
Para o analista da Ativa Investimentos Ilan Albertman, a fala de Bolsonaro foi mais contudente do que das outras vezes. Para ele, existem formas mais efetivas de atuar para diminuir os preços dos combustíveis.
“Eu vejo que você pode ser mais efetivo nessa pauta com uma reforma abrangente do que com um processo de alienação das ações que o governo tem da Petrobras. Você teria um sucesso maior tendo uma economia brasileira mais estável, por exemplo, porque na fórmula de preços tá o dólar. Também se poderia reduzir a carga tributária — estadual ou federal — aí você também tem um sucesso”, explica Ilan.
Como domina o setor de refino no país, a empresa acaba saindo como culpada quando os preços internacionais do petróleo sobem e ela aumenta os valores do derivados, mesmo que a pesquisa citada acima não mostre isso. Isso acontece porque ela segue a cotação internacional para precificar os derivados, algo visto como essencial pelos acionistas.
Além da Petrobras, companhias importadoras de combustíveis também compram os derivados no mercado internacional nesta cotação alta e vendem para as distribuidoras de combustíveis donas dos postos por estes preços.
O problema para o governo federal é que, como a Petrobras é estatal, mesmo com ações abertas na bolsa, a alta do petróleo costuma respingar na popularidade.
Foi assim durante o governo Dilma Rousseff, que forçou a empresa a segurar preços, causando fortes prejuzídos em seu caixa, e no governo de Michel Temer, que inaugurou a política mais responsável e que agradava mais ao mercado, de paridade internacional como reajustes diários, mas que tinha uma oscilação forte.
Venda de refinarias ajuda na pressão política
O analista Rafael Chacur lembra que a empresa está em processo de vender metade de seu parque de refino, devido a um acordo feito com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica. Das oito refinarias colocadas à venda, duas já foram vendidas. Apesar de certa lentidão no processo, abrir mão do monopólio neste setor pode ajudar a empresa (e o governo) a sofrer menos pressão quando há alta do petróleo.
“Privatizar a Petrobras retiraria toda a pressão política, mas ao privatizar parte da refinarias, mesmo as mais regionais, você consegue tirar parte da pressão da Petro porque aí ela não vai conseguir acessar o mercado todo. Hoje ela já não consegue”.
Para Chacur, se a venda de todas essas refinarias já tivesse ocorrido, o cenário dos preços dos combustíveis seria mais positivo neste cenário atual. “Você teria um mercado mais eficiente, sem monopólio, sem tanta pressão política”.
Alta do petróleo
Fonte: Exame