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Postado em 10 de janeiro de 2019 | 17:58

Previsões apontam para redução nas exportações

A expectativa para a balança comercial brasileira é de redução no saldo em 38,6% em 2019 ante 2018, em movimento que não chega a ser negativo. Isso porque há uma tendência de retomada da economia nacional, o que fortalece a produção e gera uma maior demanda por importações, que devem crescer 2,1% no mesmo comparativo. Contudo, é a queda das exportações de 7,3% que gera incertezas e desafios ao País, diante do novo cenário político que se desenha internacionalmente e de uma tendência de retração dos preços das commodities.

As projeções são da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil). Os dados indicam que as vendas ao exterior passarão de US$ 237,485 bilhões neste ano para US$ 220,117 bilhões em 2019. As compras aumentarão de US$ 182,534 bilhões para US$ 186,360 bilhões, o que gerará uma redução no saldo de US$ 54,951 bilhões para US$ 33,757 bilhões.

Parte dos desafios já foi colocada à mesa em 2018 e o País acabou mais beneficiado do que prejudicado, o que é pouco provável que se repita em 2019. O destaque fica para as disputas comerciais promovidas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, principalmente contra a China.

Esse movimento levou ao fortalecimento de negociações bilaterais em detrimento de acordos entre blocos comerciais, o que exigirá maior competência para vencer nesse tabuleiro. No Brasil, haverá um tempero especial porque o novo governo federal, capitaneado por Jair Bolsonaro, tem gerado um burburinho maior nas relações exteriores do que analistas do setor gostariam de ouvir.

Por fim, a crise econômica na Argentina, que é um dos principais parceiros comerciais brasileiros, tende a ser duradoura depois de ganhar força somente no segundo semestre deste ano. “Todos os aspectos positivos na Argentina foram capitalizados pelo Brasil nos primeiros meses e, no fim, sentimos todos os negativos. Em 2019, sentiremos a parte ruim por 12 meses”, diz o presidente da AEB, José Augusto de Castro.

A nação vizinha também enfrentou quebra de safra de 17 milhões de toneladas (t) de soja, que, aliada à maior demanda chinesa pelos grãos brasileiros pela disputa com os EUA, faz com que as exportações do produto passem dos 82 milhões de t, segundo projeção da AEB. Para 2019, a projeção é de 72 milhões de t, ainda assim acima das 68 milhões de t de 2017. “Tudo o que deu errado no mundo neste ano [2018] deu certo para o Brasil e é por isso que teremos esse superavit robusto na balança”, explica Castro.

Somente por essas questões, ele considera que seria difícil repetir o resultado. Entretanto, cita que os desdobramentos das disputas comerciais gerarão sobretaxas aduaneiras, elevação dos custos de importação e redução da demanda. Castro lembra ainda que o crescimento chinês segue alto, mas perde força naturalmente conforme a economia daquele país se estabelece, o que também tem impacto.

Por fim, lembra que problemas econômicos em nações como Turquia e Itália, além de políticos, como a saída do Reino Unido da União Europeia, impactarão negativamente sobre as cotações das commodities. “A vantagem é que o mercado interno vai crescer, o que também explica o aumento das importações pela demanda. Então, reduz o superavit, mas não é necessariamente negativo”, diz Castro.

O presidente da AEB afirma que o Brasil precisa ganhar competitividade, com reformas macroeconômicas e investimentos em infraestrutura, para fortalecer as exportações de manufaturados. Segundo a AEB, a dependência da venda de produtos básicos deixa o País mais indefeso a demandas menores. Vale lembrar que soja, petróleo e minério serão responsáveis por 32,5% das exportações totais projetadas para 2018. “O ciclo positivo das commodities começou em 2001 e está longo, mas todos os países já sentem a redução da demanda da China.”

BURBURINHO
Desde a transição, o presidente Jair Bolsonaro, familiares e membros de sua equipe de governo federal têm dado declarações que geraram burburinho, para dizer o mínimo, com importantes parceiros no comércio exterior. Três declarações geraram mais do que um ruído. Bolsonaro afirmou que pretende seguir o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e transferir a embaixada brasileira, em Israel, de Tel Aviv para Jerusalém. Em resposta, o Egito, um dos principais compradores de carne brasileira, cancelou então visita do ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, ao país e, no último dia 18 de dezembro, a Liga Árabe enviou cartas urgentes ao governo brasileiro para pedir que aborte a mudança, sob risco de incentivar o conflito entre palestinos e israelenses. “Somos exportadores de carnes, temos clientes com suas ideologias e crenças e não é interessante criar problemas que não existem”, diz o presidente da Abrafrigo (Associação Brasileira dos Frigoríficos), Péricles Salazar.

Bolsonaro também concordou com o ministro da Economia, Paulo Guedes, que afirmou que haverá prioridade para acordos bilaterais entre países, e não ao Mercosul, que busca negociar parceria com a UE (União Europeia). “O ideal seria que não tivesse dito, porque depois pode assumir, não fazer, mas já deu espaço para contestação”, afirma o presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro.

Para o coordenador do Conselho de Negócios Internacionais da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), Paulo Roberto Pupo, o melhor é esperar até seis meses de governo para se pronunciar. “Como Fiep, a instituição, vamos monitorar certamente, mas sabemos que os acordos em bloco estão em baixa, com Brexit e Trump como exemplos, então me parece que eles estão seguindo uma tendência”, diz.

Fonte: Folha de Londrina


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