Relações comerciais explicam interesse do Brasil no resultado da eleição argentina
A eleição presidencial argentina foi acompanhada com atenção total do lado de cá da fronteira e as relações comerciais entre os dois países explicam esse interesse.
O presidente Jair Bolsonaro nunca escondeu que preferia ver a Argentina reeleger o atual presidente Mauricio Macri. Chegou a dizer que não ligaria para o vencedor Alberto Fernández. Depois, amenizou o tom.
O vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, o deputado Marcel Van Hatten (NOVO-RS), disse que os dois países têm a perder com atritos: “É o terceiro maior destino das exportações brasileiras, a Argentina. E, por isso, nós precisamos manter, o máximo possível, as relações dentro da normalidade”.
É uma parceria histórica. As vendas para a Argentina renderam ao Brasil em 2018 quase US$ 15 bilhões. Quase tudo, produtos industrializados: carros, caminhões e autopeças. Para se ter uma ideia, o valor dessa exportação é dez vezes mais do que a China, nosso maior parceiro comercial, comprou de manufaturados brasileiros em 2018.
Em crise, a Argentina caiu do terceiro para o quarto destino das nossas exportações em 2019. O Brasil levou um tombo nas vendas para os argentinos na comparação até setembro: 39% a menos em relação a 2018. E as nossas compras também caíram.
Somos o principal destino das exportações argentinas. O Brasil compra, principalmente, caminhões, carros e trigo. Foram US$ 11 bilhões em 2018.
“A integração entre os dois países é quase inevitável, por motivos históricos, por motivos geográficos, por motivos econômicos. Acho que o Brasil tem para perder, talvez no curto prazo, um parceiro comercial. E, no longo prazo, a possibilidade de ter um protagonismo na América Latina diferenciado, a partir de uma associação lógica, razoável, com a Argentina”, avalia Federico Servideo, presidente da Câmara de Comércio Argentino Brasileira.
A relação é tão próxima que, se não tivesse crise no país vizinho, o Brasil poderia crescer até meio ponto percentual a mais em 2019. Especialistas entendem que o desafio dos dois presidentes será deixar de lado as diferenças ideológicas e trabalhar pela estabilidade regional, já que outros países da América Latina, e até mesmo o futuro do Mercosul, dependem de Brasil e Argentina.
“O Brasil, por mais forte que seja, ele tem que liderar num processo regional, sul-americano. Ele não pode ser um fator isolado. Veja o caso da China. A China que é hoje a segunda economia do mundo estreitou as suas relações com os outros países asiáticos, seus vizinhos. Os Estados Unidos têm relações intensas com o Canadá e com o México. Trump resolveu acabar com o Nafta, mas teve que fazer o acordo paralelo ou substitutivo. E o Brasil vai ficar sozinho na América do Sul? É tolice”, afirma o embaixador José Botafogo.
Fonte: G1