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Novo presidente do Porto de Santos traça plano para operações e finanças

O novo diretor-presidente da Autoridade Portuária de Santos (APS), Fernando Biral, já tem definidas as prioridades para sua gestão. As metas incluem aumentar a eficiência operacional do complexo santista, dar continuidade ao processo de modernização da APS, melhorar a comunicação da empresa com investidores e preparar as finanças da companhia para o aumento das despesas e para a queda de receita prevista para este ano, consequência dos impactos da pandemia do novo coronavírus no comércio internacional. O planejamento foi revelado pelo próprio Biral em entrevista exclusiva para A Tribuna, realizada no sábado (25) e na tarde desta segunda-feira (27).

Foi sua primeira conversa com a imprensa desde a nomeação para o cargo, ocorrida na sexta-feira passada (24). O novo dirigente da APS armou que uma de suas primeiras ações é o anúncio das novas regras para atracação de navios, aprovadas na noite de ontem e que integram o projeto de “modernização das atividades do Porto”. E revelou que assume o cargo “em definitivo”, não teme interferências políticas e fará uma gestão técnica, seguindo a linha traçada por seu antecessor, Casemiro Tércio Carvalho, que se despediu da presidência nessa segundafeira.

Sem revelar os motivos, o Governo Federal determinou a saída de Tércio na semana passada. Na sexta-feira, na reunião do Conselho de Administração (Consad) da APS, ele apresentou seu pedido de desligamento, que foi aprovado e entrou em vigor hoje. Na mesma sessão, a União indicou o nome do então diretor de Administração e Finanças da APS, Fernando Biral, para ocupar a presidência, medida aprovada pelo colegiado. Ocialmente, ele foi nomeado diretor-presidente interino e aguarda apenas avais técnicos da Casa Civil para ser oficializado no posto. Biral explica que uma de suas principais ações será melhorar a eficiência do Porto de Santos, uma forma de auxiliar a logística do País e facilitar seu comércio exterior, ao reduzir custos. “O Governo disse que temos de ser eficientes”.

Esse ganho de eciência passa, em especial, pela modernização das operações do Porto. Um exemplo é a série de alterações que a Autoridade Portuária fará com o serviço de atracação de navios, que prepara o cais santista para a escala dos meganavios (com 366 metros de comprimento – no caso de conteineiros, capazes de transportar 14 mil TEU, unidade que equivale a um contêiner de 20 pés). As novas regras para o serviço integram a Resolução 59.2020, com data de sexta-feira da semana passada (24), mas publicada pela empresa na noite de ontem (27). O texto altera normas estabelecidas há mais de 40 anos pela Portobrás (estatal que administrava os portos do governo federal, criada em 1975 e extinta em 1991).

Para o novo presidente da APS, o novo regulamento é “um marco importante” para a modernização das atividades do cais santista. Suas regulações foram debatidas com a comunidade do Porto por meio de uma consulta pública. A Resolução 59 estabelece um novo plano para amarração de navios (inclusive os de 366 metros) e prevê a inclusão de movimentação mínima de carga em cada berço, o que, segundo a Autoridade Portuária, permitirá “um controle mais eficiente” e “a otimização da ocupação dos espaços públicos”. O texto ainda estabelece a Requisição Virtual de Atracação, determinando que os pedidos de atracação de navios sejam apresentados por meio eletrônico (a princípio, por e-mail e, no futuro, em um sistema próprio). Com essa modernização, terminam as reuniões presenciais para definição das atracações.

Segundo Biral, o m dessas sessões e a sua realização de forma virtual representam o encerramento de um ciclo e é um exemplo da modernização de processos que implantará na empresa. “Temos de trabalhar de forma mais eficiente, ágil, repensando nossas atividades e melhorando o serviço oferecido no Porto de Santos. O (ex-presidente) Tércio tinha identificado essa demanda muito bem. A transformação digital que defendemos para o Porto também faremos na Autoridade Portuária em vários outros serviços”, destacou.

Finanças

Outra preocupação do novo diretor-presidente são com as nanças da companhia. No ano passado, a empresa reverteu o prejuízo de R$ 468 milhões (do exercício anterior) em um lucro líquido de R$ 87,3 milhões. E as projeções para 2020 eram “bem positivas”. Após o Porto registrar um recorde operacional no primeiro trimestre (com a operação de 31,6 milhões de toneladas), espera-se um desempenho semelhante no resultado do quadrimestre, que “tem a possibilidade de ser o melhor da história”, afirmou Biral.

Mas o surgimento da pandemia do novo coronavírus mudou as expectativas do dirigente para o ano. “A crise que estamos vendo em vários setores (da economia brasileira, devido à covid-19) ainda não chegou ao Porto, mas vai chegar. Não sabemos quando, mas o impacto está próximo”, disse o presidente, complementando que executivos de terminais previam a redução de suas operações a partir deste mês. “Teremos uma queda de arrecadação, o que a gente lamenta muito”.

Neste cenário, a Autoridade Portuária ainda prevê um aumento de suas despesas. Entre elas, estão o início do pagamento do plano para equacionar a crise financeira do fundo complementar de previdência dos funcionários das companhias docas, o Portus (são parcelas mensais de R$ 5,5 milhões), e a retomada do serviço de dragagem no complexo marítimo (a um custo estimado de R$ 12,15 milhões mensais, a partir de maio).

“Fizemos uma virada no ano passado e teremos de fazer mais uma este ano. Os gastos da Autoridade Portuária vão aumentar, com os pagamentos do Portus e a volta da dragagem, que até então estava com o Ministério da Infraestrutura. Vamos precisar reequilibrar nossa balança, sermos mais eficientes e reduzir as despesas, para não afetar o custo do serviço”, armou o novo diretor-presidente. Questionado se pensa em um reajuste tarifário, a m de melhorar a arrecadação, ele respondeu que, “primeiro temos de fazer nossa lição de casa. Vamos estudar tudo o que poderemos fazer para assumirmos esses custos. Se depois de tudo, não tivermos o resultado esperado, podemos pensar em reajuste. Mas vamos discutir isso com muita calma. Vamos ter sensibilidade para isso”.

Comunicação com investidores

Fernando Biral também quer melhorar a divulgação dos dados da empresa, adotando uma política de comunicação com investidores semelhante a de grandes companhias do país com capital aberto, como Vale e Petrobras. Diante do processo de desestatização da companhia, que começou a ser estudado pelo BNDES este mês, ele pretende dar maior visibilidade a essas informações.

“Elas são públicas e estão espalhadas em nossa internet. Queremos melhorar essa comunicação, especialmente ao fazer um link entre os resultados financeiros e o desempenho operacional”, disse. Desde o ano passado, quando teve início a gestão de Casemiro Tércio à frente do Porto, alguns dados da empresa deixaram de ser divulgados. Os relatórios de análise do movimento físico mensal, por exemplo, deixaram de ser disponibilizados. No site da companhia, até ontem, a última edição que podia ser acessada era a de dezembro de 2018. Tornar mais acessível as informações da empresa aos investidores tem um papel ainda mais estratégico diante dos planos do Governo Federal de ampliar os investimentos privados no setor de infraestrutura, inclusive no portuário. Neste segmento, são planejados leilões de terminais – como os de celulose, na Ponta da Praia, previstos para o próximo semestre. O ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, tem dito, em recentes entrevistas, que considera essas concessões como ferramentas estratégias para a retomada da economia no pós-pandemia.

Continuidade

O novo presidente da Autoridade Portuária de Santos também garantiu a continuidade dos projetos em desenvolvimento, inclusive da nova versão do Plano de Desenvolvimento e Zoneamento (PDZ, que estabelece as regras para as explorações das áreas do Porto), que chegou a ser criticado por empresários do setor, que defendem um maior debate sobre seu conteúdo. Ele ainda assegurou que não estão previstas trocas entre os profissionais. “É a mesma equipe de trabalho. Não haverá mudanças”, armou. A única novidade será a escolha do próximo diretor de Administração e Finanças. Biral foi contratado por Tércio a partir de um processo conduzido por headhunters (consultores de Recursos Humanos especializados, principalmente, na seleção de executivos). Essa forma não deve ser utilizada agora.

“Estou analisando alguns nomes da minha confiança. E terá um perfil técnico. E essa será uma decisão em conjunto, de toda a diretoria. Todos terão de concordar”. A mudança no comando da administração portuária ocorre em meio a negociações do Palácio do Planalto com deputados federais, para a obtenção de apoio político no Congresso Nacional. Nessas tratativas, postos estratégicos na APS chegaram a ser citados como moeda de troca, como admitiu o deputado federal Paulo Pereira da Silva (SD-SP), conhecido como Paulinho da Força. Na segunda-feira (27), ele citou à imprensa que o Porto de Santos lhe foi oferecido, mas que não iria aceitar. Fernando Biral garante que assume a presidência da Autoridade Portuária “em definitivo”.

Conforme apurou A Tribuna, na sexta-feira (24), enquanto o Conselho de Administração da empresa aprovava sua nomeação, ele estava em Brasília, se reunindo com o ministro Tarcísio Gomes de Freitas, debatendo sua gestão à frente do complexo marítimo. Na sequência, o titular da pasta o levou ao presidente Jair Bolsonaro, apresentando-o como o novo presidente da APS.

O executivo destaca que foi colocado no cargo por Tarcísio e não teme interferências políticas. “Estou atendendo a uma missão que foi dada pelo ministro. Minha missão é servir o País e tornar esse empresa a mais eficiente possível”.

Fonte: A Tribuna

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