Opinião

Novas ferrovias e ampliação do Arco Norte são essenciais para o escoamento de grãos nos próximos 10 anos Camila Affonso OPINIÃO 08 Novembro 2021

O debate sobre a expansão da infraestrutura no Brasil segue aquecido, principalmente no que tange a alternativas ferroviárias e o Arco Norte, que abrange diversos portos fluviais e marítimos das regiões Norte e Nordeste. O tema vem sendo acompanhado até mesmo fora do país, já que esta infraestrutura é vital para o escoamento da produção brasileira de grãos, cuja exportação é significativa para diversas regiões do mundo.

De acordo com as nossas projeções, que estão em linha com projeções oficiais do Brasil (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA) e dos Estados Unidos (United States Department of Agriculture – USDA), as produções de soja, milho e farelo de soja devem subir, respectivamente, 27%, 15% e 19% em 2030 em comparação a 2020. Sem ampliação da malha ferroviária e da capacidade portuária, no entanto, os gargalos no escoamento serão intensificados, o que encarecerá o transporte e, consequentemente, o preço final dos produtos.

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Para projetar este cenário futuro com precisão, utilizamos um modelo matemático próprio, que abrange mais de 10 mil variáveis – dentre elas, os diversos tipos de produtos do agronegócio, pontos de origem do excedente para exportação / necessidade de insumos, capacidade de armazenagem e de transporte em diferentes modais, pontos de transbordo, quantidade e tipos de berços de atracação, etc. Nosso estudo projeta, ainda, o excedente de exportação das principais commodities agrícolas (soja, milho, farelo, açúcar) e a necessidade de importação de fertilizantes, através de uma metodologia própria detalhada no nível municipal. As projeções de produção consideram novas áreas adequadas ao plantio, excetuando biomas de preservação ambiental, e outros fatores que impactam a produção e o consumo das commodities.

O aumento do volume virá acompanhado de uma redistribuição da produção entre as diferentes regiões do Brasil. Sul e Sudeste devem perder participação, dos atuais 24,6% e 12,2% para 22,4% e 10,7% em 2031, respectivamente. Já Centro-Oeste, Nordeste e Norte ganham mais peso, passando dos atuais 50,7%, 8,3% e 4,3% para 51,3%, 9,4% e 6,3% em 2031, respectivamente. É justamente nas regiões com maior potencial de crescimento que falta infraestrutura.

Fig 2

Atualmente, o escoamento é feito principalmente por caminhões, mas o modal rodoviário tem menor capacidade unitária, maior custo, é mais poluente e oferece menos segurança, com mais acidentes, furtos e roubos – em algumas regiões do país, estradas fundamentais ao escamento não são sequer asfaltadas.

Daí a importância do atual debate em torno dos novos projetos ferroviários, como a Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (FICO), a Ferrovia de Integração do Oeste-Leste (FIOL), a Ferrogrão e as concessões ferroviárias estaduais, como a anunciada recentemente pelo Mato Grosso. Estes projetos vão mudar a dinâmica do escoamento de grãos, o que deve reduzir o custo do frete de chegada aos portos.

Segundo os cálculos que realizamos internamente, o impacto destas novas infraestruturas no custo varia conforme a origem das cargas, mas deve permitir uma redução de 12% em média, considerando o transporte realizado até os portos do Arco Norte. No Porto de Barcarena, no Pará, a produção deve chegar até 21% mais barata devido à diminuição no custo do frete.

Uma malha ferroviária maior, no entanto, não é suficiente para solucionar os gargalos de infraestrutura gerados pelo aumento na produção de grãos nas regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte. Nosso estudo aponta que a ampliação da capacidade dos portos fluviais e marítimos que compõem o Arco Norte é vital para o escoamento das safras, porque estes terminais já estão operando próximo do limite de suas capacidades.

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Se nada mudar, as estimativas indicam que o volume movimentado nos portos do Arco Norte vai crescer apenas 1,5% em 2031 em relação a 2020, atingindo quase 38 milhões de toneladas de grãos. Se forem realizadas expansões na capacidade portuária, este aumento será de 71,6% em 2031 em relação a 2020, o que representa um volume de 64 milhões de toneladas de grãos.

As projeções mostram que haverá crescimento na exportação de grãos com um deslocamento de parte dessa produção para o Norte. Diante disso, é fundamental que os projetos ferroviários em discussão hoje saiam do papel para permitir a redução de custo de escoamento e que sejam realizadas expansões na capacidade dedicada a grãos nos portos do Arco Norte, para capturar este aumento na exportação.

 

 

 

Fonte: Artigo – Camila Affonso é sócia da Leggio Consultoria

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