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Maersk aprendeu com os erros, diz novo presidente do conselho

A AP Moller-Maersk, gigante do transporte marítimo de contêineres, aprendeu com os erros do passado e se sairá melhor nos novos esforços para erigir operações logísticas mais abrangentes, segundo o acionista controlador da empresa, que está prestes a assumir como próximo presidente do conselho de administração.

Em rara entrevista, Robert Uggla, de 43 anos, da quinta geração da família fundadora da Maersk, disse ao “Financial Times” que, no passado, o grupo fez aquisições a respeito das quais “talvez devêssemos ter dito não”.

A Maersk vem aproveitando os lucros recorde trazidos pelas altíssimas tarifas de frete dos últimos tempos para acelerar a expansão em logística terrestre. Nos últimos quatro meses, já anunciou mais de US$ 6 bilhões em aquisições.

Alguns investidores mostram-se céticos. Uggla, por sua vez, afirma que desta vez o grupo encontra mais facilidade para concentrar-se na procura pelos negócios certos, graças à decisão da família fundadora, em 2016, de dividir a empresa em duas e vender suas operações de energia para dedicar-se a navegação e logística.

Um dos argumentos para mudar a estrutura na época foi a “falta de disciplina de capital”, disse. “Não estou dizendo que nunca pagaremos demais por uma aquisição, mas a estrutura cria maior disciplina de capital. Todos os acionistas, incluindo o controlador, desejam dividendos e recompras de ações. Era diferente no passado.”

Uggla, que nos últimos cinco anos havia concedido apenas uma outra entrevista, deve se tornar presidente do conselho da Maersk em março, substituindo Jim Snabe. Ele já coordena os investimentos da família como executivo-chefe da AP Moller Holding, que juntamente com duas fundações da família controla mais de 70% dos votos na Maersk.

A mudança na presidência foi “planejada para proteger o ímpeto da [atual] estratégia”, permitindo que a próxima geração da família assuma um papel mais ativo do que se deu no caso de sua mãe, Ane, que não quis seguir a tradição de chefiar o conselho.

A Maersk continuará com sua estratégia atual, segundo Uggla, com os objetivos de se tornar um grupo com serviços de logística da fábrica até o consumidor; de investir no transporte marítimo “verde”; e de aumentar a distribuição de dinheiro aos acionistas. A empresa anunciou investimentos de US$ 1 bilhão para expandir sua operação de fretes aéreos em novembro, além das compras de uma empresa de logística na Ásia em dezembro, por US$ 3,6 bilhões, e de um grupo de logística nos Estados Unidos por US$ 1,7 bilhão neste mês.

“Vivemos em tempos extraordinários”, disse Uggla. “Estamos todos conscientes de que chegará um momento em que as taxas de frete se normalizarão. Precisamos aproveitar o momento”.

Niels Andersen, gerente de carteiras de investimento da gestora de fundos dinamarquesa Bankinvest, ressaltou que a Maersk já havia tentado expandir-se em logística antes “e [fracassado] muitas vezes antes”. Por exemplo, a Maersk teve dificuldades por muito tempo com a marca de logística Damco, adquirida como parte da compra da P&O Nedlloyd, em 2005, por € 2,3 bilhões, que a empresa sofreu para conseguir integrar. No fim das contas, a Maersk acabou precisando extinguir a marca há dois anos.

“As aquisições são sensatas? Vão gerar bons retornos ou são feitas principalmente porque havia capital de sobra e ele estava fazendo um buraco em seus bolsos? O tempo vai mostrar”, disse.

Uggla também falou sobre a gestão da AP Moller Holding (APMH), o veículo de investimento recém-criado que detém a maior parte da participação da família na Maersk e em várias empresas menores. Ele a chamou de “uma startup dentro de um grupo de 100 anos de idade”, cujo propósito também é aproveitar “alguns temas macro”.

A APMH, que possui ativos de US$ 88 bilhões e receitas anuais de US$ 65 bilhões, investe no longo prazo em áreas como cadeias de abastecimento mundiais, transição energética e negócios sustentáveis “circulares”. Possui empresas com investimentos em energia geotérmica, fornecedores de turbinas eólicas, embalagens sustentáveis e diagnósticos de saúde, além de ter criado um centro sem fins lucrativos para pesquisar o transporte marítimo livre de emissões de carbono.

A Maersk, porém, continua sendo o núcleo dos interesses comerciais da família, disse Uggla, acrescentando que nunca será vendida. A APMH também é a maior acionista do Danske Bank, que esteve envolvido em um escândalo de lavagem de dinheiro nos últimos anos. A empresa também não tem intenção de vender essa participação, de acordo com Uggla.

A família passou a ficar mais em segundo plano desde que Maersk McKinney Moller, o grande impulsionador por trás da ascensão da empresa no transporte marítimo de contêineres, deixou o cargo em 2003, aos 90 anos.

Uggla, que teve várias funções operacionais no grupo de navegação antes de ingressar no conselho em 2014, disse que, entre 2000 e 2016, a Maersk “estagnou-se como grupo [e] ficou claro que faltava renovação”. “Realmente, não plantamos muitas sementes para o futuro. Então, o ponto de vista da família em 2016 era que a estrutura era um dos impedimentos para a renovação.”

Uggla disse que na divisão de 2016 – o negócio de petróleo foi vendido para a Total por US$ 7,5 bilhões no ano seguinte e a empresa de sondas de perfuração, desmembrada – os “riscos de não fazê-lo eram maiores do que os riscos de fazê-lo”.

“Do ponto de vista da família, é difícil mudar o que você tem e que vinha sendo bem-sucedido. Então, não foi uma decisão fácil. Mas, [olhando] em retrospectiva, foi a decisão certa.”

 

 

 

 

Fonte: Valor

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