Excesso de carga reduz a segurança viária, alerta professora da USP
Transitar com excesso de peso em caminhões traz problemas como aumento de custos do transporte e maior desgaste da infraestrutura viária, mas também prejudica muito a segurança. O alerta, incluído em um informe lançado pela CNT no dia 23 de abril, foi reafirmado pela professora da USP (Universidade de São Paulo), Liedi Bernucci, especialista em pavimento. “O desempenho é prejudicado”, afirma Liedi.
Pelo informe da CNT, no Brasil, apenas nas rodovias federais, foram registrados 382 acidentes causados por carga excessiva e/ou mal acondicionada, em 2018. Esses acidentes deixaram 233 pessoas feridas e 11 mortas. Os registros fazem parte do banco de dados da Polícia Rodoviária Federal e são feitos a partir do agrupamento do número de acidentes causados por excesso de peso e carga mal acondicionada na mesma categoria, não sendo possível separá-los.
No informe Transporte em Movimento – “As vantagens de transportar sem sobrecarga”, estão listados alguns benefícios para o transportador e para o motorista que trafegam dentro dos limites de peso. “Esse informe é muito importante e contribui para orientar e conscientizar os transportadores”, afirma a professora da USP, que ressalta também a necessidade de se debater outros temas, como a extensão da malha, o preço dos combustíveis etc.
Como está hoje a questão do excesso de peso de caminhões nas rodovias brasileiras? É uma situação que preocupa?
A situação preocupa, pois o excesso de carga dos caminhões é uma realidade brasileira que interfere em alguns pontos relevantes. Reduz a segurança viária devido ao tráfego de caminhões fora das condições de trafegabilidade normal, com desempenho prejudicado e gasto maior de peças de reposição veicular, inclusive. Também leva ao sobrecarregamento de pavimentos e à deterioração precoce dos mesmos. Faz com que a durabilidade dos pavimentos seja prejudicada, obrigando maiores investimentos em infraestrutura, o que não vem acontecendo.
Há uma diferença no excesso de peso bruto total do caminhão e excesso de peso por eixo em relação ao efeito no pavimento, pontes e viadutos?
Sim. Para os pavimentos, consideramos peso por eixo e para pontes e viadutos o peso do veículo como um todo.
A CNT lançou um informe para orientar motoristas e empresas. A orientação é importante? Além da orientação, o que a senhora citaria como essencial para resolver esse problema?
O informe é muito importante e contribui para orientar e conscientizar os transportadores. Creio que todos os atores (transportadores, projetistas, órgãos rodoviários, empresários de maneira geral, consumidores, investidores, entre outros) devem discutir de forma muito objetiva a importância de aumento de extensão da malha rodoviária brasileira, da melhoria de manutenção de pavimentos e do financiamento de obras rodoviárias em geral. Sem essa discussão, ficamos focados apenas em impedir sobrecarga dos caminhões sem discutir financiamento, preço de combustível, frete, competitividade, crescimento econômico, redução de emissões de gases de efeito estufa, veículos elétricos, veículos autônomos etc.
A senhora faria alguma comparação sobre o que ocorre no Brasil e em outros países em relação ao sobrepeso de caminhões?
Apesar de os países europeus transportarem suas cargas em geral pelo modo rodoviário (cerca de 70%), os produtos transportados são de maior valor agregado. As cargas por eixo são maiores que as permitidas no Brasil. Em geral, na Europa são 11,5 toneladas nos eixos simples de rodas duplas (no Brasil, a carga legal é de 10 toneladas com aceitação e tolerância em até 10% de excesso). Na França, a legislação permite 13 toneladas. Porém, os pavimentos são calculados para essas cargas e para maiores períodos de operação (maior durabilidade). Apesar de maior carga por eixo praticadas na Europa, a porcentagem de veículos comerciais no total de veículos é menor, em torno de 10% a 30%, que as praticadas no Brasil, que tem média em torno de 30% a 60%. Há rodovias brasileiras que são corredores de carga, principalmente em época de safra, com participação de 70% a 80% de veículos comerciais nessas épocas.
Fonte: CNT