Cúpula dos Brics coroa melhora das relações do Brasil de Bolsonaro com a China
As críticas frequentes de Jair Bolsonaro à China durante a campanha presidencial do ano passado deixaram diplomatas dos dois lados receosos de que ele pudesse partir para a ofensiva em uma das maiores parcerias comerciais do mundo.
Mas 11 meses depois de ele assumir a Presidência, a visita do presidente chinês, Xi Jinping, nesta semana para a cúpula dos Brics parece prestes a consumar uma restauração do relacionamento.
Presidentes do grupo de grandes economias emergentes —Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul— se reunirão em Brasília na quarta e quinta-feiras para o que muitos preveem como debates técnicos de pouca repercussão.
Os cinco líderes se concentrarão em estimular investimentos em seus países em meio à desaceleração econômica mundial, e ao mesmo tempo a sanar discórdias em questões como a Venezuela e a Bolívia, disseram diplomatas.
Antes da cúpula, Bolsonaro e Xi terão uma reunião bilateral na manhã de quarta-feira.
“Será o ponto final de um processo de apaziguamento depois do que foi a pior crise do relacionamento entre Brasil e China nas últimas décadas”, avaliou Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
A China provavelmente tentará sinalizar que é uma amiga de todas as horas do Brasil, disse Stuenkel.
Maior parceira comercial do Brasil, com quem teve um fluxo comercial de 98,7 bilhões de dólares no ano passado, a China compra vastas quantidades de commodities brasileiras. A demanda chinesa por soja e outros produtos agrícolas disparou em meio à guerra comercial de Pequim com os Estados Unidos.
Na véspera da eleição do ano passado, as coisa pareciam muito diferentes. “A China não está comprando no Brasil, está comprando o Brasil”, disse Bolsonaro em diversas ocasiões.
Mas o capitão da reserva adotou um tom mais conciliador desde que chegou ao poder —houve reuniões de alto nível e gestos amistosos.
A China autorizou exportações de 45 processadores de carne brasileiros, um gesto estimulado pelas visitas do vice-presidente, Hamilton Mourão, e da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, no início do ano.
As estatais petroleiras chinesas CNOOC (0883.HK) e CNODC foram as únicas licitantes, além da Petrobras (PETR4.SA), em um grande leilão de jazidas de petróleo na semana passada após um convite feito por Bolsonaro durante sua visita à nação asiática.
Talvez ainda mais digno de nota será o anseio de evitar um confronto a respeito da Venezuela, tema sobre o qual o Brasil discorda de Pequim e Moscou.
“A Venezuela não está fora da mesa de discussões, mas não será mencionada na declaração conjunta”, disse um diplomata de um país do Brics, pedindo para não ser identificado devido à sensibilidade do assunto.
Na semana passada, diplomatas do Ministério das Relações Exteriores brasileiro delinearam a pauta dos Brics, incluindo um reforço na cooperação no combate ao terrorismo e à corrupção.
Fonte: Reuters