Força de trabalho de Óleo e Gás precisará de Novas habilidades diante do novo momento do setor, diz Accenture
O mundo vive intensas transformações e o setor de óleo e gás não está alheio a esse processo de mudanças provocadas pela pandemia e pela transição energética. Em um cenário desafiador para todos, a irlandesa Accenture vê novas tendências, como a digitalização, se firmando de vez na indústria de O&G.
O diretor executivo da área de energia da empresa, Edson Bouer, conversou com o Petronotícias e apontou quais serão as implicações da digitalização para os profissionais do setor. “Isso vai gerar uma necessidade de skills diferentes daquelas tipicamente usadas naquilo que é feito presencialmente em campo”, explicou. “Nós vemos as organizações preocupadas com reskilling e upskilling. Isto é, trazer aos profissionais o conhecimento necessário depois dessas transformações digitais que estão ocorrendo. É uma nova geração de talentos que será criada”, acrescentou.
Além de abordar as características “força de trabalho do futuro”, Bouer também comentou sobre outras tendências do setor de óleo e gás, como a busca por negócios em renováveis, revisão de portfólios, preocupação com cibersegurança e foco nos temas ligados a ESG (meio ambiente, social e governança).
Eu gostaria de começar nossa conversa lembrando do ano de 2020. Queria sua avaliação sobre como foi a resposta das petroleiras globais frente ao combo pandemia, estoques em excesso e queda da demanda.
A Accenture já abordou o duplo choque da indústria de petróleo – excedente de produção e baixa demanda. De fato, a produção do petróleo caiu, em média, por volta de 6 milhões de barris por dia em 2020. Do outro lado, a demanda de petróleo caiu 8,6 milhões de barris por dia, passando para 92,1 milhões de barris por dia. Essas condições de mercado levaram a maior parte das empresas a tomar decisões pesadas: corte de custos, lay off com grande magnitude e grande revisão do valor dos ativos. Foi uma consequência importante para o mercado.
Um grande número de empresas reportou perdas que, na prática, significaram corte de dividendos. Alguns programas de recompras de ações foram pausados e reduzidos. As empresas também cortaram custos e retardaram projetos de capital. Aproximadamente 400 projetos de capital no ano passado foram retardados ou cancelados. Os investimentos em E&P, principalmente os globais, foram reduzidos em 28% se comparados com os de 2019. O total de CAPEX teve uma redução de US$ 40 bilhões – comparado com os US$ 190 bilhões de 2019. Muitas empresas do setor acabaram se encaminhando para a falência. Cerca de 200 empresas entraram em bankruptcy. Houve uma aceleração da transição energética, principalmente entre os grandes players europeus.
As empresas de petróleo entraram em parceria com empresas de tecnologia para buscar soluções e alavancar inteligência artificial, principalmente no espaço de renováveis. As empresas do setor no pós-Covid buscaram implementar novas tecnologias, o que chamamos de Work Force of the Future: contrataram muito mais especialistas em data analytics e experts para suportar remotamente múltiplas operações.
Em termos de digitalização, além da própria digitalização das operações dos ativos, aconteceu a busca de automação, o uso de data analytics e otimização. Esses tópicos ilustram o que foi o setor de óleo e gás em 2020.
E o impacto da transição energética e das energias renováveis? Como esses movimentos afetaram o balanço do setor de óleo e gás?
Vemos claros movimentos de diversas espécies. Vemos a Shell investindo em solar, a BP e a Equinor em wind power, a Total indo para os carros elétricos – depois de comprar uma empresa de charging-, e a Chevron indo para uma mistura de investimentos em solar e wind. Quer dizer: não significa que os efeitos de produção e demanda de petróleo afetaram por causa dos investimentos, mas alteraram o perfil do que está por vir dessas empresas.
Nosso approach tem sido muito na questão da descarbonização dessa indústria. Existe toda a parte estratégica que eu acabei de mencionar, que são as renováveis. Mas existem coisas típicas da indústria que também estão sendo consideradas como alavancas importantes da redução de carbono. Algumas delas são: as reduções de metano, a redução dos flarings, a aplicação do biocombustível de refinaria, o armazenamento de carbono e o próprio hidrogênio.
Existe uma busca, dentro desse contexto, de uma transformação da estrutura de custos, que está ligada, entre outra coisas, a conectar e otimizar as operações, pensando em Internet das Coisas (IoT), na Inteligência Artificial, no Big Data Analytics, na realidade aumentada e na realidade virtual.
O oil & gas foi um dos setores que sofreu com os cyber attacks. Então, toda a preocupação que o mercado global teve, a indústria de óleo e gás também teve. Isso certamente fez com que as empresas se preocupassem e, de alguma maneira, passaram a investir de forma pesada na segurança de dados e na proteção contra esses ataques.
Aproveitando que o senhor mencionou a digitalização, queria a sua avaliação sobre como esse processo muda o cenário para o profissional de óleo e gás.
Nós vemos as organizações preocupadas com reskilling e upskilling. Isto é, trazer aos profissionais o conhecimento necessário depois dessas transformações digitais que estão ocorrendo. É uma nova geração de talentos que será criada.
Existe a necessidade de permanecer atraindo as pessoas. A indústria de petróleo nesse ano sofreu, de alguma forma, o viés negativo da informação. Sabemos que as pessoas estão cada vez mais preocupadas, não só com o emprego, mas com uma ocupação onde se sentem à vontade de estar trabalhando. Então, há uma necessidade de se preparar e comunicar com essa nova geração, para atrair esses talentos com habilidades que são necessárias para a indústria, que está se transformando.
O que muda para o profissional de óleo e gás? Quais habilidades deve desenvolver?
Algumas coisas são muito relevantes, sendo algumas delas ligadas às operações, que são cada vez mais remotas. Isso vai gerar uma necessidade de skills diferentes daquelas tipicamente usadas naquilo que é feito presencialmente em campo. Por exemplo: o digital twins e a realidade aumentada. É uma tendência natural, seja no refino ou no E&P. Cada vez mais isso está sendo implementado nas empresas do setor.
Outro tema é a questão ligada à sustentabilidade. Haverá muito foco técnico e tecnológico na questão da sustentabilidade e nas operações ligadas às condições de menor emissão.
Estamos vendo esses investimentos de forma global. Vejo as grandes empresas se preocupando com essas questões. Eu acho que é um tema extremamente relevante e que deve ser considerado no work force of the future.
A tendência de portfólio mais enxuto das empresas de óleo e gás deve permanecer no cenário de pós-pandemia?
Boa pergunta. Começamos a ver algumas empresas concentrando as suas estratégias em atividades que trazem um maior retorno sobre o capital, o que é super razoável. Em especial, quem faz esse movimento são as empresas de maior porte, que podem revisitar seus portfólios. Isso não significa que as atividades que essas companhias deixaram de desempenhar se tornaram em atividades sem valor. Pelo contrário.
Nesse cenário, começam a aparecer empresas especializadas em certos tipos de ativos. Por exemplo: organizações que se interessam em campos maduros de produção, que focam no aumento da vida de produção desses ativos. São empresas de porte mundial que buscam essas oportunidades. Vemos esse movimento no upstream, no midstream em todo o mundo.
Sobre a sua pergunta, eu não usaria a palavra enxuta. Eu falaria que está havendo uma revisão de portfólio, de forma a atender suas estratégias, seja migrando para novas energias ou aproveitando os seus ativos existentes. O papel da indústria de petróleo é ainda muito relevante. O setor terá muito mais responsabilidade com ESG, descarbonização e outros temas, compondo assim uma matriz energética com as energias renováveis.
Fonte: Petro Notícias