-->
Home | Highlights | Mesmo com casos de mormo, Bahia poderá exportar carne de jumento para a China
Postado em 23 de setembro de 2019 | 18:48

Mesmo com casos de mormo, Bahia poderá exportar carne de jumento para a China

Os casos de mormo, que em maio deste ano levaram à morte nove jumentos que iam para o abate em frigoríficos de Amargosa e Itapetinga, na Bahia, com vistas à exportação de carne e couro para a China, não impediram que o país asiático habilitasse um dos três frigoríficos da Bahia autorizados pelo Ministério da Agricultura a exportar carne, couro e derivados de asininos.

O anúncio da habilitação dos frigoríficos foi feito. No total, são 25 estabelecimentos do tipo no Brasil que poderão exportar carne para a China. Da Bahia, o único frigorífico habilitado é o Frinordeste, de Amargosa, que desde junho de 2017 vinha abatendo jumentos, de olho na exportação para a China.

A carne e o couro, contudo, passavam antes por Vietnã e Hong Kong (território autônomo do sudeste da China) antes de ir para o território chinês, onde se extrai da pele e couro do animal substância usada para fazer o ejiao, remédio tradicional que promete combater o envelhecimento, aumentar a libido nas mulheres e reduzir doenças do órgão reprodutor feminino.

E os abates de jumentos, proibidos por decisão liminar (temporária) da Justiça Federal desde 18 de novembro de 2018, serão retomados logo em breve. É que na quinta-feira, 12, uma decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região cassou a liminar que os proibia.

Para o Governo da Bahia, os casos de mormo que foram registrados no estado não devem ser impeditivos para que a exportação da carne, couro e derivados de jumento ocorra. A Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab) garante que a doença já está controlada no estado.

Em maio, além de mormo, houve ainda mais cinco animais que tiveram resultados positivos para anemia infecciosa equina (AIE), doença conhecida como “febre do pântano”, causada por um retrovírus e transmitida por insetos sugadores de sangue.

Mas apesar de supostamente controlado na Bahia, somente um estudo que será feito até 2021 pela Adab, sobre a saúde dos equídeos do estado, deve atestar que a Bahia não enfrenta mais problemas com a doença de mormo, zoonose (transmite dos animais para o homem) infectocontagiosa que não tem cura.

Para ser zona livre da doença de mormo, causada pela bactéria Burkholderia mallei e que pode infectar ainda outros animais, como felinos, a Bahia precisa ficar três anos sem registrar nenhum caso. No Brasil, segundo o Ministério da Agricultura, não há estado que seja livre da doença de mormo.

“Hoje não há nenhum caso em aberto de mormo na Bahia. Nos próximos meses, vamos iniciar o levantamento completo sobre a doença no estado e submetê-lo ao Ministério da Agricultura para avaliação da situação sanitária no estado”, disse o diretor de Defesa Animal da Adab, Rui Leal.

Em maio, quando os jumentos foram identificados com mormo, eles estavam juntos com outros 694 animais num confinamento em Canudos, no centro-norte da Bahia – os que tiveram exame confirmado para a doença foram sacrificados e enterrados. Hoje, contudo, são pouco mais de 240 animais no local, de acordo com Rui Leal.

Os demais morreram devido a uma doença metabólica conhecida como hiperlipemia, desenvolvida em razão das condições de maus-tratos a que os jumentos eram submetidos quando foram encontrados em fevereiro desde ano em Canudos – eles passavam sede e fome e quando foram localizados já havia mais de 200 animais mortos.

Tutela

Questionado sobre a decisão da 1ª Vara Federal Cível da Bahia, dada em 19 de março e que obrigava a União e o Estado da Bahia a darem assistência veterinária e garantir abrigo, alimentação e água aos animais, Rui Leal disse que “os jumentos estão sendo cuidados pela Frente”.

Ele se refere à Frente Nacional de Defesa dos Jumentos, baseada em Salvador e que faz parte do Fórum Nacional de Proteção Animal, entidade com sede em São Paulo. Mas a tutela dos animais, formalmente, foi dada ao Fórum, que assinou um acordo como fiel depositário dos animais.

Mas como houve a decisão judicial que obriga o Estado da Bahia e a União a darem a assistência aos jumentos, o Fórum Nacional de Proteção Animal deixou de realizar ações mais efetivas.

Os animais, nesse tempo, vêm sendo alimentados com ração doada pela prefeitura de Euclides da Cunha, quem primeiro localizou os jumentos em situação de maus-tratos. Uma campanha chegou a ser feita pelas ONGs de defesa dos animais para arrecadação de dinheiro com vistas à compra de ração e remédios, mas ela não foi à frente.

Para a Frente Nacional de Defesa dos Jumentos, a liberação dos abates mostra “o descaso tanto do Ministério da Agricultura como do Governo do Estado e coloca em risco ainda mais nossa população e animais, descumprindo protocolos sanitários nacionais e mundiais e destruindo um patrimônio animal, que é o jumento”.

De acordo com o Ministério da Agricultura, a exportação de carne, pele e derivados de equídeos, bem como de animais vivos, depende das exigências sanitárias do país comprador.

Fonte: Canal Rural


119 queries in 6,380 seconds