Trump deve frustrar pauta econômica de Bolsonaro em viagem aos EUA
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve frustrar algumas das principais pautas comerciais que o governo brasileiro espera conquistar na visita de Jair Bolsonaro a Washington, na terça-feira (19).
Autoridades norte-americanas já avisaram membros da administração Bolsonaro que dificilmente Washington realizará um endosso enfático às ambições brasileiras de ingressar na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
A entrada na OCDE é um pleito brasileiro desde 2017. O argumento é que o ingresso no chamado clube dos países ricos melhoraria a confiança dos investidores internacionais no Brasil. Por isso, um dos maiores defensores da incorporação do Brasil ao organismo é o ministro da Economia, Paulo Guedes.
No entanto, a expansão da OCDE encontra forte resistência dentro do governo dos Estados Unidos. Segundo negociadores brasileiros, os EUA têm questionamentos sobre o modelo de governança da organização e querem critérios mais claros para candidaturas de novos países.
Hoje, membros do governo brasileiro avaliam que os norte-americanos não devem aceitar incluir numa declaração escrita o aval de Washington à candidatura do Brasil.
Apesar disso, pontuam que o tema deverá ser tratado na conversa privada de Bolsonaro com Trump, cujo resultado é imprevisível. Os brasileiros apostam que a conversa entre os dois possa resultar num aceno positivo do mandatário norte-americano às pretensões brasileiras.
A adesão do Brasil ao clube dos países ricos é um dos principais objetivos da política externa do chanceler Ernesto Araújo.
Além desse pleito, ao menos outros dois acordos que poderiam melhorar o ambiente comercial entre os dois países — e que geravam expectativa do lado brasileiro — não serão assinados na terça-feira.
O primeiro deles é o acordo de reconhecimento mútuo de operadores econômicos autorizados, que facilita os trâmites de exportação e importação para um grupo pré-selecionado de empresas.
Não houve tempo hábil para a conclusão desse acordo, mas a ideia é que Brasil e EUA se comprometam a impulsionar as conversas para fechá-lo no curto prazo. O outro texto que não será assinado na terça é o chamado Global Entry, que agiliza a entrada em território norte-americano de viajantes frequentes.
Essa medida visa atender empresários e viajantes de alta renda que tenham negócios e propriedades nos EUA. Os EUA toparam celebrar esse entendimento, mas ele encontra entraves ainda não solucionados pelas próprias autoridades brasileiras e só poderá ser assinado depois da visita de Bolsonaro a Trump.
No agronegócio, tampouco deve haver uma sinalização positiva no sentido de reabertura do mercado dos Estados Unidos para a carne bovina in natura brasileira, um dos principais pedidos da ministra da Agricultura, Tereza Cristina.
Tereza Cristina disse que espera “boa vontade” dos EUA e que o Brasil já havia cumprido “tudo o que foi pedido” para a retomada das exportações.
Os norte-americanos, entretanto, informaram Brasília que se trata de um tema de controle fitossanitário, que precisa respeitar dinâmicas próprias que impossibilitam um anúncio na terça-feira.
Os EUA, por exemplo, precisam agendar uma visita de inspeção no Brasil para a liberação da carne brasileira, o que ainda não aconteceu.
O tema gera forte ansiedade entre produtores brasileiros, uma vez que os Estados Unidos vêm pressionando para que o Brasil reduza suas barreiras para a entrada de três produtos daquele país: etanol, trigo e carne de porco.
A possível entrada dessas mercadorias norte-americanas no Brasil sem a conquista de mercado para produtos brasileiros é considerada prejudicial por produtores rurais.
Dentre os acordos que serão assinados e que têm reflexo na área comercial, o mais importante deles são as salvaguardas tecnológicas para a exploração da base de Alcântara, no Maranhão.
O acerto é fundamental para que a Aeronáutica possa explorar comercialmente o centro de lançamentos em Alcântara, colocando o Brasil num mercado internacional milionário.
Além de Alcântara, Brasil e Estados Unidos devem celebrar outros acordos, como a reativação da comissão de um acordo de comércio e cooperação entre os dois países; o lançamento de um fórum de executivos; a constituição de um fundo para financiar pequenas empresas que atuem na área de sustentabilidade na Amazônia e a criação de um fórum na área de energia.
Fonte: Folha de S. Paulo