Transição para baixo carbono vai demorar mais, diz diretor da ANP
A guerra na Ucrânia mostrou que a transição energética para uma economia de baixo carbono não será tão simples e rápida como o previsto, disse o novo diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Cláudio Jorge de Souza. “Precisamos que esse processo de transição seja gradual e consistente. A própria indústria de óleo e gás será uma das financiadoras desse processo. Com isso, ainda teremos por muito tempo energias não renováveis”, afirmou durante cerimônia de posse na manhã de ontem.
Em vídeo enviado à cerimônia, o ministro de Minas e Energia (MME), Adolfo Sachsida, afirmou que, nesse contexto, a indústria brasileira de petróleo está passando por uma transformação com a atração de novos agentes em todos os segmentos para competirem entre si e com a Petrobras.
“Na atual conjuntura energética, em face das questões geopolíticas mundiais e do realinhamento global dos investimentos privados, as agências reguladoras têm um papel ainda mais fundamental”, afirmou.
Segundo Sachsida, o MME segue comprometido em trabalhar em conjunto com a ANP em ações estruturantes para promover melhorias ao setor. “Assumi a função de ministro para dar prosseguimento ao projeto ‘Brasil, porto seguro do investimento’”, disse o ministro, que está no cargo desde maio.
A guerra na Ucrânia levou a um forte aumento dos preços do petróleo no mercado internacional nos últimos meses. Nesse cenário, o novo diretor da ANP ressaltou ainda a necessidade de o Brasil estimular a atração de atividades de exploração e produção de petróleo e gás natural na região da margem equatorial, ao norte do país. “Essa é uma tarefa fundamental da agência, dado o sucesso em países vizinhos como a Guiana.”
Souza lembrou ainda que o país vive uma abertura no setor de refino, com a entrada de novos agentes a partir da venda de refinarias da Petrobras. “A produção de combustíveis se caracterizou historicamente no Brasil pela elevada concentração e pelo baixo nível de concorrência. Com isso, será necessária uma regulação mais contemporânea, ágil, com foco na atração de investimentos e redução de barreiras na entrada”, disse.
Também tomaram posse ontem os diretores Daniel Maia e Fernando Moura. Além disso, foi renovado mandato da diretora Symone Araújo. Os nomes foram aprovados no plenário do Senado em abril para mandato de dois anos.
No discurso de posse, Moura ressaltou que a agência está atuando para assegurar o abastecimento de combustíveis no país. “A ANP está adotando medidas no sentido de ampliar o monitoramento de estoques de combustíveis, possibilitando ações de mitigação de risco de abastecimento.”
Também presente ao evento, o diretor-geral da ANP, Rodolfo Saboia, lembrou que o abastecimento de derivados de petróleo e gás é hoje desafio global. “Temos trabalhado com grande afinco para garantir o abastecimento e proteger os interesses dos consumidores.”
Sobre os preços de combustíveis, o governo do Estado do Rio, Cláudio Castro, defendeu a necessidade de uma grande discussão envolvendo o tema. “Um ou outro órgão ser diminuído não é a solução para o país. A solução é uma discussão de toda a cadeia.”
Atualmente, o Congresso discute a redução de impostos estaduais, como o ICMS, de forma a reduzir os preços de combustíveis aos consumidores finais.
Fonte: Valor