Tecnologias incorporadas à governança melhoram processos dos portos, afirmam gestores
Autoridades portuárias destacaram, durante a última edição do Brasil Export de 2022, as inovações tecnológicas implementadas nos últimos anos, visando oferecer mais agilidade aos processos administrativos e operacionais, como a digitalização de documentos que, antes, só estavam disponíveis em papel.
De um porto superendividado, “quebrado” do ponto de vista das dívidas acumuladas acima de R$ 1 bilhão, e um prejuízo de quase R$ 470 milhões somente em 2018, para um complexo portuário que vem passando por mudanças intensas, a partir de uma agenda de transformação digital que visa à eficiência tecnológica. Foi assim que Marcus Mingoni, diretor de administração e finanças da Santos Port Authority (SPA), descreveu o atual momento do Porto de Santos (SP).
O maior porto da América Latina foi um dos destaques do painel “Tecnologias incorporadas à governança das autoridades portuárias”, realizado nesta quarta-feira (19) em Brasília (DF), no primeiro dia da última edição do Brasil Export de 2022.
“Nossos números mostram isso, a partir de pilares estratégicos baseados na transformação digital e na inovação. Dentro do planejamento de estratégias que implementamos em Santos, nós conseguimos fazer essa transformação. E atualmente, temos uma companhia saudável, pronta para a desestatização e para gerar ainda mais valor para a cadeia logística nacional. E a questão da modernização tecnológica foi crucial nesse processo”, reforçou Mingoni.
Na área de meio ambiente, o diretor da SPA elencou a adoção de um novo programa de monitoramento do ar, com estações de monitoramento do vento, de dispersão de articulados e de gases em tempo real. “Hoje, nossa sala de controle permite uma fiscalização muito mais assertiva – real time –, que atua de forma muito eficaz, atuando com outras autoridades [do porto]. Se tiver algum evento, nós conseguimos entender para onde está indo a dispersão daquele material, daquele gás. Essa parte ambiental é uma revolução muito importante, a partir da tecnologia e da fiscalização”, informou.
Mingoni também destacou as atividades da central de supervisão de controle por câmaras de vídeo, cujo sistema é muito mais inteligente, além dos próximos passos, que incluem a implementação de softwares de inteligência artificial, aplicativos para os fiscais, tecnologias que vão identificar a evolução da prancha operacional e o “dashboard” da movimentação no porto, entre outras soluções digitais.
“Tudo isso será feito a partir de uma central muito mais inteligente e unificada de monitoramento. Ainda temos nosso sistema de acesso logístico – batizado de See Log –, que será constituído a partir de sete portais, sendo que um deles já foi implantado. Quando passa um caminhão por esse portal, já temos uma identificação, um cruzamento com o sistema de agendamento desse caminhão”, entre outras situações mencionadas pelo diretor, que ainda ressaltou a digitalização do portal de clientes fornecedores e da parte financeira do Porto de Santos.
Saindo do papel
Diretor de negócios e sustentabilidade da Companhia Docas do Rio de Janeiro (CDRJ),
Jean Paulo Castro e Silva lembrou que, até pouco tempo, a maioria dos procedimentos do complexo portuário era muito focada em papéis. “A empresa ainda funcionava muito pelo meio físico e a pandemia acabou sendo um catalizador da digitalização dos nossos processos”, disse ele comentando que, quando os colaboradores foram “forçados” a trabalhar remotamente, o processo de transformação digital na empresa teve de ser acelerado.
Conforme Silva, a interação com os usuários e clientes melhorou muito, depois que a CDRJ implantou processos de digitalização, a exemplo do acesso terrestre de caminhões que, anteriormente, tinha um prazo de agendamento que durava mais ou menos uma semana, mas agora, ele é feito em poucas horas. Ainda ressaltou que a companhia já contava com um moderno centro de controle de operações e, atualmente, está buscando implementar soluções de inteligência judicial para o monitoramento de suas atividades portuárias.
Presidente do Porto de Cabedelo, localizado em João Pessoa (PB) e vice-presidente da Associação Brasileira de Entidades Portuárias e Hidroviárias (ABEPH), Gilmara Temóteo sugeriu uma discussão mais ampla, visando à integração e à rastreabilidade de cargas em todos os portos do Brasil, indo além das respectivas realidades regionais. “Nós temos um novo sistema, que faz nosso controle de documentos de digitalização, e acabamos de implantar e modernizar nosso sistema de controle de cargas, mas tratam-s de soluções individuais”, ressaltou.
Na visão dela, a evolução histórica da governança portuária deve passar por novos processos tecnológicos. “Esses sistemas vão realmente trazer economia, segurança jurídica e agilidade”, afirmou Gilmara, ressaltando que ainda há limitações para muitos documentos, que ainda precisam ser físicos (em papel), devido à legislação brasileira.
Diretora-presidente da Companhia Docas do Ceará (CDC), Mayhara Chaves lembrou a inexistência de sistemas de tramitação de processos, quando assumiu o cargo. “Os primeiros processos que eu peguei, em 2019, ainda tramitavam no papel. Com o advento da pandemia, eu falei: tem uma luz aí, no fim do túnel”, relatou a executiva, contando que o complexo portuário cearense foi o primeiro do país a implantar o Sistema Eletrônico de Informações (SEI).
Conforme descreve o governo federal, o SEI é uma “plataforma de gestão de processos e documentos eletrônicos, tendo como principais características a libertação do paradigma do papel, como suporte físico para documentos institucionais e a comunicação de novos eventos em tempo real”. Esse sistema foi escolhido como a solução de processo eletrônico no âmbito do projeto Processo Eletrônico Nacional (PEN), uma iniciativa conjunta de órgãos e instituições de diversas esferas da administração pública, visando aos ganhos em agilidade, produtividade, transparência, satisfação do público usuário e redução de custos.
Fonte: Portos e Navios