Startup inova na exportação de café especial
Será embarcado neste mês o primeiro contêiner com cafés especiais brasileiros negociados pela Farmly, startup vencedora da edição da Universidade Federal de Viçosa (UFV), na Zona da Mata, do programa Avança Café, destinado a incentivar soluções inovadoras para a cadeia do café por meio de novos empreendimentos.
O programa é uma iniciativa do Consórcio Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café (DF). Neste ano, a startup mineira estima faturar R$ 967 mil e saltar para R$ 7,7 milhões nos próximos dois anos.
A Farmly identificou um desafio importante que aguardava solução: pequenos cafeicultores brasileiros têm dificuldade de exportar grãos especiais em menores quantidades. Do outro lado do balcão, pequenos torrefadores no exterior são obrigados a comprar de grandes empresas de exportação. A inovação proposta pela startup foi unir essas duas pontas da cadeia por meio de tecnologia.
Os seis jovens empreendedores da Farmly desenvolveram uma plataforma digital para que cafeicultores no Brasil possam oferecer lotes de cafés especiais a torrefadores estrangeiros interessados em comprar grãos gourmets em menor quantidade.
Como resultado, o produtor consegue faturar cerca de 20% a mais em comparação ao que receberia com uma exportação convencional e o pequeno processador no exterior tem acesso facilitado a pequenos lotes especiais pelos quais paga, em média, 14% menos em relação às importadoras locais.
“Em alguns casos, uma saca que seria vendida a R$ 420,00, por meio de exportadores tradicionais, pode chegar a valer R$ 1 mil ao produtor na plataforma da Farmly”, compara o engenheiro mecânico Telmo Baldo, responsável pelo gerenciamento financeiro da startup. Ele conta que a diferença é explicada pelo fato de a inovação dispensar diversos intermediários no roteiro de exportação.
No sistema convencional, o produtor é contatado por um coffee hunter, profissional responsável por identificar lotes de café de qualidade. Depois, o produto é negociado com uma exportadora brasileira e recebido por uma empresa do mesmo setor no país de destino. Passa por um centro de distribuição de onde é finalmente enviado ao comprador final. O grande número de elos e de lotes nesse processo favorece perdas durante o transporte.
A inovação proposta pelos sócios, porém, vai além do aumento de ganhos para os participantes.
“Queremos promover uma relação mais próxima e pessoal, em que compradores conheçam a propriedade que produz os cafés. Dizemos que o objetivo é fazê-los perceber ‘o cheiro’ da fazenda e se sentirem em um relacionamento familiar, o que originou o nome da empresa”, conta o sócio Lucas Faria, estudante de Engenharia de Controle e Automação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e desenvolvedor da plataforma.
Plataforma – Para exportar pela plataforma digital, o cafeicultor deve procurar a Farmly e enviar as amostras de grãos que pretende vender para o exterior. O café é remetido a especialistas que avaliam a qualidade, estimam o valor aproximado do lote e o endereçam a mercados específicos de acordo com as características observadas.
Com o café aprovado, as informações sobre o grão são disponibilizadas na plataforma com dados sobre o produtor e sua propriedade. É contada, por exemplo, a história do cafeicultor, o que acrescenta valor e pessoalidade ao negócio.
O lote é então enviado à Farmly, que o exporta e armazena em estoques no exterior próximos aos centros consumidores. De lá são despachados aos clientes que encomendaram e o restante forma um estoque que é oferecido a outros torrefadores. “Isso garante agilidade de entrega e preserva a qualidade do produto”, afirma Faria.
Os empresários ressaltam que a plataforma ainda permite a identificação de lotes especiais, gerados em safras excepcionais em que as condições climáticas favoreceram a produção de grãos superiores e que, por isso, são muito valorizados pelo mercado internacional.
Projeções – Neste ano os empreendedores exportarão dois contêineres, totalizando R$ 967 mil. Em 2020, eles preveem vender oito, faturando R$ 3,87 milhões e, em 2021, a intenção é dobrar para 16 contêineres e registrar R$ 7,74 milhões em faturamento.
“O mercado de cafés especiais é de US$ 20 bilhões anuais e cresce à taxa de 20% ao ano”, comemora Faria, anunciando que além das vendas à Europa, a empresa já se aproxima da Ásia para ampliar sua área de atuação. “Isso é algo realmente animador e inovador”, avalia o chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Café, Omar Cruz Rocha.
Lucas Faria conta que a ideia do negócio estava engavetada e que ganhou vida graças ao Hackaton Avança Café. “A competição nos fez organizar o projeto e submetê-lo à etapa em Viçosa”, lembra o estudante. Para a equipe, o programa ajudou a dar disciplina além de fornecer o know how necessário para montar um novo negócio.
“O fato de termos de fazer entregas semanais sobre o andamento do trabalho acelerou a empresa e construiu o negócio. Saímos da ideia e partimos para a ação”, avalia Faria. Os participantes também elogiaram os facilitadores envolvidos. (Agência Embrapa)
PROJETO FOMENTA A INOVAÇÃO NO SETOR EM MG
O Avança Café é um programa de pré-aceleração de startups com o intuito de fomentar a geração de soluções tecnológicas de vanguarda para a cadeia produtiva da cultura. Teve início no começo de 2019 por meio de parceria assinada entre o Consórcio Pesquisa Café e as universidades Federal de Lavras (Ufla) e Federal de Viçosa (UFV).
Sob a coordenação da Embrapa Café, o programa ocorreu em duas etapas. A primeira fase envolveu a seleção de equipes a partir de maratonas de desenvolvimento de aplicativos, conhecidas como hackathons. Na etapa posterior, as equipes melhor colocadas passaram por um processo de pré-aceleração durante 12 semanas, tempo em que foram subsidiadas com capacitação e informações para que formassem startups.
Os participantes receberam cursos sobre Formação de Equipe, Validação de Dor de Mercado, Mínimo Produto Viável (MVP), Pitch, Desenvolvimento de Produto, Mercado, Financeiro, Vendas, Marketing e Planejamento Estratégico.
“O Avança Café quer constituir um banco de ideias inovadoras para o café e, a partir desse conhecimento, buscar interessados que apostem na jovialidade das startups, transformando o que era apenas uma ideia inicial em grandes negócios”, detalha o coordenador do programa, Antonio Heberlê.
“Precisávamos trazer o universo da inovação para dentro do Consórcio Pesquisa Café e para isso contamos com a estrutura da Ufla e da UFV, que são duas consorciadas fundadoras”, conta o chefe da Embrapa Café, Antônio Fernando Guerra, lembrando que as instituições dispõem de estrutura de equipamentos, estudantes e toda a infraestrutura necessária para o programa.
A versão desenvolvida em Minas Gerais teve tema livre para alunos e profissionais interessados em produzir soluções para o setor cafeeiro, como aplicativos móveis, software e internet das coisas. Além das universidades, passaram a integrar o programa a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), o Instituto Interamericano de Cooperação Agrícola (IICA) e a Federação da Agricultura de Minas Gerais (Faemg).
Guerra lembra que serão envolvidas todas as instituições do setor cafeeiro. “Nossa intenção é fazer com que o conhecimento e a tecnologia sejam inclusivas e estejam cada vez mais disponíveis ao setor produtivo”, complementa. A expectativa é que, em breve, o modelo do programa Avança Café seja levado a todo o País.
A premiação das startups foi assumida pela OCB, sendo estipulado o valor de R$ 10 mil reais para o primeiro lugar, R$ 7 mil para o segundo e R$ 4 mil para o terceiro colocado em cada uma das universidades participantes. Na Universidade Federal de Viçosa, foram premiadas as startups Farmly, LogExpress e Promai.
Fonte: Diário do Comércio/Agência Embrapa