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Presidente da Suzano diz que é difícil saber como ficará celulose após a pandemia

Com a maior parte de suas receitas geradas no exterior, a Suzano tem se beneficiado da maior demanda de celulose nos mercados doméstico e externo.

Com a maior parte de suas receitas geradas no exterior, a Suzano tem se beneficiado da maior demanda de celulose nos mercados doméstico e externo, mas não é possível afirmar, neste momento, como será a relação entre oferta e demanda no mundo passados os efeitos da crise da covid-19.

“É muito difícil antever como ficará a relação entre oferta e demanda de celulose, então somos neutros nessa questão”, disse o presidente da Suzano Walter Schalka (foto acima), após ser questionado sobre o cenário traçado pela companhia para a economia após a pandemia.

Neste momento, comentou Schalka, o consumo de papéis para fins sanitários (tissue) tem sido estimulado pela doença e deve haver mudança estrutural nos níveis de demanda a partir desse evento. Por outro lado, a queda no consumo de papel de imprimir e escrever tem um componente conjuntural e outro estrutural, observou.

“Parece haver uma correção direta entre consumo de papel de imprimir e escrever e medidas de fechamento ou isolamento social por causa da covid-19”, afirmou o executivo. Nos países onde essas medidas estão sendo relaxadas, já teve início a recuperação do consumo, acrescentou.

Alavancagem

O diretor de finanças e relações com investidores da Suzano, Marcelo Bacci, reiterou há pouco a meta de redução da alavancagem financeira da companhia para três vezes, em dólares, até o fim do ano que vem, e informou que não há intenção de alterar a política de hedge cambial neste momento.

O executivo não forneceu detalhes das premissas consideradas na meta, mas indicou que o preço de celulose é inferior a US$ 600 por tonelada. “Em termos de investimento, devemos ficar bem perto do necessário para manutenção até chegar a três vezes”, acrescentou. Para 2020, a companhia anunciou ontem redução do orçamento de R$ 4,4 bilhões para R$ 4,2 bilhões.

O executivo comentou ainda que a estratégia de hedge foi repassada pela diretoria e pelo conselho de administração e a ideia é mantê-la neste momento. “É importante enfatizar que, como temos um fluxo de caixa negativo em reais, teríamos de ter algum tipo proteção”, comentou, acrescentando que a política atual dá mais previsibilidade ao fluxo de caixa.

Bacci afirmou ainda que a Suzano não vê benefício na eventual adoção da contabilidade de hedge neste momento.

Em relação ao custo caixa de produção de celulose da Suzano, que caiu a R$ 596 por tonelada no primeiro trimestre, o diretor de operação de celulose, Aires Galhardo explicou que a melhora foi proporcionada pelas sinergias com a Fibria, que foi comprada pela Suzano, e pela performance operacional. “A mensagem mais importante é que essa redução é estrutural e vai se manter”, comentou.

Preço

A Suzano considera que há condições de mercado para aplicação integral do aumento de US$ 30 por tonelada anunciado para Estados Unidos e Europa em maio. “A demanda segue firme em todos as regiões”, comentou o diretor comercial de celulose da Suzano, Carlos Aníbal, em teleconferência com analistas.

Conforme o executivo, a demanda de fibra segue puxada pelo segmento de papéis para fins sanitários (“tissue”) e a menor oferta de fibra reciclada, um dos efeitos das medidas de restrição adotadas para conter a covid-19, tem estimulado a migração para a fibra virgem. “A demanda de tissue e a menor disponibilidade de fibra reciclada mais que compensaram a retração no segmento de imprimir e escrever”, afirmou o executivo.

Além disso, a diferença de preços entre a celulose de fibra curta e a de fibra longa segue acima de US$ 100 por tonelada, estimulando a migração para a fibra curta. De acordo com Aníbal, a Suzano mantém a estratégia de produzir mais em 2020, vender mais e encerrar o ano com menos celulose estocada.

Parada

A Suzano vai estender até junho a parada comercial realizada em duas fábricas de papel de imprimir e escrever, em Mucuri (BA) e Rio Verde (SP), uma vez que a demanda segue em queda, pressionada pela covid-19, disse há pouco o diretor de papel da companhia, Leonardo Grimaldi.

No primeiro trimestre, as vendas consolidadas de papel recuaram 2% na comparação anual, para 268 mil toneladas, sem considerar as vendas da unidade de bens de consumo (“tissue”). Tradicionalmente, as vendas no primeiro trimestre são mais fracas, devido à sazonalidade do consumo no mercado brasileiro, mas a pandemia de covid-19 gerou uma queda “sem precedentes” na demanda a partir de meados de março, conforme o executivo.

“Começamos a sentir os primeiros efeitos da covid-19 no segmento de imprimir e escrever em março”, comentou Grimaldi.

Naquele mês, o consumo nacional de papéis d imprimir e escrever recuou mais de 20%, levando a uma queda de cerca de 15% no trimestre. Neste momento, o ambiente para o negócio de imprimir e escrever permanece bastante “desafiador” e a retração no mercado brasileiro deve ser ainda maior no segundo trimestre.

“Com isso, os estoques subiram muito e decidimos parar a produção de papel em Mucuri e Rio Verde em maio”, comentou Grimaldi. Os dois meses de parada vão retirar 50 mil toneladas de papel de imprimir e escrever do mercado e a celulose utilizada como matéria-prima será redirecionada para outros mercados.

Fonte: Valor

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