Opinião

Portos brasileiros dependem da convergência entre OT e TI para ganhar competitividade e reduzir o tempo de permanência do navio no cais

Navios. Contêineres. Trens. Caminhões. Carros. Guindastes. Balanças. Minerodutos. Dutos para transporte de grãos. Órgãos governamentais. Terminais de petróleo. Terminais refrigerados para alimentos. Pessoas. Cada um desses elementos está presente nos portos brasileiros, espaços físicos onde o fluxo de veículos, mercadorias, dinheiro e pessoas acontece 24×7, ao longo do ano todo.

Dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) informam que o país conta com 175 portos — 99 deles marítimos, 76 fluviais. Os cinco maiores polos nacionais são os portos de Santos (SP), Paranaguá (PR), Itapoá (SC), Navegantes (SC) e, finalmente, Rio Grande (RS). Os portos têm um papel crítico no crescimento da economia brasileira. Especialmente em relação a setores exportadores como o agronegócio, a mineração e óleo e gás, a eficácia dos portos é determinante para o avanço global das organizações dessas verticais. Hoje, 95% do comércio exterior brasileiro — setor que movimentou, em 2021, 293 bilhões de reais — depende dos portos para acontecer.

Muito mais do que simplesmente receber navios em seus cais, os portos brasileiros oferecem serviços de operação de terminais e de armazenamento, distribuição e pesagem de produtos, além de serviços náuticos como pilotagem de embarcações no espaço do porto, reboque e gerenciamento do tráfego dos navios. Todos os portos brasileiros acolhem dentro de si três tipos de atividades: cais de uso público, terminais arrendados pelo governo a iniciativas privadas e, finalmente, terminais privados.

Estudo da United Nations Conference on Trade and Development (Unctad), o órgão da ONU que analisa o transporte global, indica que há cerca de 11 agências governamentais atuando em cada porto — grupo que acolhe de secretarias de fiscalização agrícola e sanitária a forças policiais — e 13 entidades privadas. Essa área engloba os armadores (os donos dos navios), os proprietários dos terminais privados e até mesmo despachantes alfandegários.

Vessel Turnaround Time é uma métrica estratégica para o setor

Um dos mais estratégicos índices de competitividade de cada porto é o Vessel Turnround Time, ou tempo de permanência da embarcação no porto. Segundo a Unctad, há portos na África em que o Vessel Turnaround Time pode chegar a 16 dias — a duração padrão global é, porém, de 24 horas por embarcação. Cada minuto a mais do navio no porto traz altos custos para os armadores. Portos extremamente digitalizados como o de Rotterdam, nos Países Baixos, reduzem esse tempo em até 50% com ajuda de inovadoras tecnologias implementadas neste hiper complexo ambiente. Um dos terminais de Rotterdam, o ETC, tem tal nível de automação e digitalização que não conta com nenhum profissional. Mais recentemente, o porto de Xangai, na China, tem se destacado como um player emergente graças ao alto nível de conectividade que apresenta.

As métricas brasileiras ainda têm espaço para evoluir. O porto de Vitória (ES), por exemplo, apresentava em outubro de 2021 um tempo médio de permanência de embarcações de 48 horas e 47 minutos.

Um dos segredos dos baixos índices de Vessel Turnround Time é a forte adesão dos portos mais competitivos ao modelo da Indústria 4.0. Está acontecendo de forma acelerada a implementação de sensores IoT ou IIoT que medem desde a temperatura de um terminal refrigerado à capacidade de vazão de um mineroduto, passando pelo controle de processos que envolvem todas as entidades que compartilham desse condomínio. O porto inteligente conta com aplicações como identificação de contêineres por radiofrequência (RFID), gates eletrônicos, monitoramento da condição dos equipamentos portuários, gerenciamento dos ativos de equipamentos de engenharia e leitura automática wireless de medidores e balanças.

Digital Twins

Uma das tecnologias que mais tem atraído a atenção dos gestores dos portos é o “Digital Twin”. Dados recolhidos pela miríade de sensores IoT e IIoT implementados no porto são a base para a construção de um modelo virtual deste espaço onde as mais diversas simulações — inclusive de segurança pessoal e patrimonial — são executadas em paralelo à vida real. O Digital Twin é uma plataforma de testes das inovações a serem implementadas no porto, além de colaborar com a gestão em longo prazo desse ambiente. Para isso, o Digital Twin é atualizado em tempo real 24×7, projetando de forma fidedigna a imagem mais verdadeira do porto e de seus muitos sistemas.

Para aumentar o controle sobre o porto como um tudo, é essencial contar com uma plataforma de monitoramento que atue tanto sobre o ambiente industrial (OT, Operational Technology) quanto IT (Information Technology). A demanda é por uma solução multiprotocolo que leia com precisão os dados gerados pelas tecnologias proprietárias utilizadas no espaço de produção do porto e, ao mesmo tempo, suporte o processamento dos dados gerados pela TI. A integração do universo da Indústria 4.0 com os ambientes administrativos e comerciais acelera os processos de negócios do porto e de todas as empresas privadas que utilizam esse espaço.

Além da preservação da conectividade entre o porto e seus muitos stakeholders, utiliza-se a plataforma de monitoramento OT/TI para gerar uma visão preditiva sobre esse complexo universo. A meta é garantir a consistência dos processos e indicar de forma precisa a possibilidade de uma falha acontecer. Essa abordagem preditiva aumenta a competitividade dos portos brasileiros, reduzindo atrasos e gerando riqueza. A economia brasileira depende desse fator para, em 2023, avançar ainda mais.

 

 

 

Fonte: David Montoya é gerente global de Desenvolvimento de Negócios de IoT da Paessler

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