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Pode acabar mal a dose diária de hostilidade entre EUA e China

A cada dia um novo movimento empurra relações entre os países para mais perto do precipício.

A cada dia um novo movimento empurra as relações EUA-China para mais perto do precipício.

Já se tornou lugar comum dizer que a Covid-19 acelerou tendências que estavam em curso. Mas em nenhuma área isso é tão significativo quanto na deterioração do relacionamento mais importante deste século.

Nos últimos meses, aumentou nos EUA a pressão pelo descolamento econômico e tecnológico entre os dois países. Jornalistas chineses foram expulsos dos EUA, e o mesmo se passou com americanos na China.

Tensões a respeito de Hong Kong tornaram-se agudas. Divergências entre ambos impediram a adoção, no Conselho de Segurança da ONU, de um cessar-fogo mundial durante a pandemia. A Organização Mundial da Saúde foi transformada em campo de batalha.

É fácil perder de vista a gravidade de episódios específicos e, pior, não enxergar o quadro perigoso que se compõe na esteira de tantos infortúnios.

Preocupa também a velocidade com que a retórica se tornou mais agressiva. Outro dia, um canal de televisão chinês mostrava o secretário de Estado americano num de seus proverbiais ataques à China —nem lembro mais qual era.

O que me chamou a atenção veio depois. A cena congela na imagem de Mike Pompeo, o chefe da diplomacia da maior potência mundial.

De repente, o rosto de Pompeo é carimbado com “mentiroso” em letras garrafais vermelhas, em pleno noticiário. Alvo favorito da imprensa chinesa, ele acumula os apelidos de inimigo da humanidade, vírus político e praticante de diplomacia venenosa.