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Plano de desinvestimentos da Petrobras enfrenta desafios em meio à guerra de preços

Um movimento da Petrobras para reduzir a produção, os investimentos e adiar pagamento de dividendos coloca a empresa estatal em linha com seus rivais globais, confrontados com uma pandemia global e uma queda nos preços do petróleo.

Mas uma nuvem permanece sobre a ambiciosa iniciativa de desinvestimento da empresa, que é um elemento-chave da estratégia da atual administração.

A Petrobras agradou investidores nos últimos dois anos com a venda rápida de dezenas de ativos não essenciais, à medida que a administração da empresa se esforça para reduzir a grande dívida.

Mas a crise do petróleo colocou um freio nesse ambicioso impulso de desinvestimento por enquanto, e alguns acordos já anunciados podem até desmoronar, segundo várias fontes do setor.

As ações preferenciais da Petrobras recuaram mais de 50% neste ano, uma das piores performances dentre grandes empresas de petróleo listadas nas bolsas. Parte dessa queda se deve à aversão generalizada a ativos de mercados emergentes em um momento de severas incertezas. Mas a dificuldade na desalavancagem certamente não ajuda, disseram analistas.

Ao final do quarto trimestre de 2019, a companhia acumulava 78,9 bilhões de dólares em dívida líquida, com alavancagem medida pela dívida líquida sobre lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) de 2,41 vezes.

O objetivo formal da empresa é reduzir essa proporção para 1,5 vez até o fim de 2020. Logo no começo de seu mandato, iniciado em janeiro de 2019, o presidente-executivo Roberto Castello Branco chegou a dizer que a petroleira poderia reduzir o índice para 1 vez, por meio de vendas agressivas de ativos como refinarias, dutos e campos de petróleo.

No ano passado, a Petrobras vendeu uma grande quantidade de ativos, incluindo uma enorme rede de dutos e uma participação na maior distribuidora de combustíveis do Brasil.

No entanto, na semana passada, a empresa adiou em dois meses a venda de oito refinarias, um processo que deve arrecadar vários bilhões de dólares. Pelo menos uma venda de campo de petróleo também foi adiada, de acordo com duas fontes familiarizadas com o assunto.

Isso ajudou a desanimar muitos investidores e analistas ligados à gigante brasileira.

“Anteriormente, víamos essas metas (redução da dívida) como viáveis, se não um alongamento, dado o rápido progresso nas vendas de ativos e os preços mais altos do petróleo”, disseram analistas da Morningstar em nota publicada na quarta-feira.

Em uma teleconferência com investidores nesta quinta-feira, os executivos minimizaram os riscos de seu programa de desinvestimento. O presidente da petroleira Castello Branco acrescentou, no entanto, que a empresa não venderá ativos se as ofertas ficarem abaixo do que a empresa considera justas.

VENDAS ADIADAS
O choque no preço do petróleo não é considerado disruptivo para as vendas de refinarias, em parte porque os compradores estão mais preocupados com os “crack spreads” —ou a diferença de preço entre produtos brutos e refinados— do que com os preços do petróleo.

Anelise Lara, diretora-executiva de Refino e Gás Natural da Petrobras, disse que não acredita que os preços atuais do petróleo e as questões de demanda afetem os preços de oito refinarias que a empresa colocou à venda.

Mas fontes de dois potenciais compradores disseram que estavam, pelo menos, analisando novamente suas premissas de preços.

Os negócios de exploração e produção estão mais em risco.

As ofertas vinculantes para um campo de petróleo marítimo de médio porte que a Petrobras está vendendo, Polo Garoupa, previstas para o início de março, foram adiadas para o fim de abril, segundo duas fontes com conhecimento do assunto.

Várias fontes do setor no Rio de Janeiro também levantaram preocupações sobre os aproximadamente 2,75 bilhões de dólares em desinvestimentos classificados como “assinados”, mas não “fechados” pela Petrobras até fevereiro. Pelo menos um dos maiores campos de petróleo que se enquadram nessa categoria foi comprado por um comprador que ainda está alinhando o financiamento.

A australiana Karoon Energy, que anunciou a compra do campo Baúna da Petrobras em julho por 655 milhões de dólares, disse recentemente que não iria mais concluir o pacote de empréstimos esperado no primeiro trimestre.

“A Karoon está sempre procurando criar valor, onde quer que possa ser encontrado, para seus investidores, e vai trabalhar através do atual ambiente na tentativa de concluir essa aquisição”, disse o diretor-gerente da empresa, Robert Hosking, em um comunicado divulgado no início de março.

Fonte: Reuters

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