Petrobras e preço do combustível: privatização é a solução?
A privatização da petroleira Petrobras não é um assunto novo em território brasileiro, especialmente no governo do presidente Jair Bolsonaro. Recentemente, ele voltou a defender a privatização da empresa em entrevista e também afirmou que há um grande apoio popular para a venda da petroleira.
Em 2016, durante o governo de Michel Temer, a estatal adotou uma política de preços chamada Import Parity Price (IPP), onde a Petrobras fixa o preço interno dos derivados de petróleo pelo preço internacional do petróleo. Isso significa que se o preço da commodity subir, esse aumento será repassado pela empresa
ESSA POLÍTICA DE PREÇOS FUNCIONA?
Segundo o economista e professor da Faculdade de Ciências Econômicas da PUC-Campinas, Valdir Iusif Dainez, essa política de preços tem problemas. “A Petrobras foi fundada exatamente em um contexto em que o preço do combustível era muito alto, então você desejava um petróleo nacional com preços diferenciados no mercado internacional”, explica o professor.
Dainez ressalta que, como o preço do petróleo nacional é indexado ao mercado internacional, não há vantagem em produzir petróleo, pois o valor é o mesmo do petróleo internacional.
O alto preço do combustível se deve a vários fatores, como explica o economista. O preço do petróleo já estava subindo, porque os países produtores haviam reduzido sua produção de petróleo, então estourou a guerra Rússia-Ucrânia e toda a situação aumentou. Além disso, desde o início do governo Bolsonaro, “temos uma desvalorização muito grande do câmbio, o que eleva o preço dos produtos importados, inclusive do petróleo”, diz Dainez.
Mas os defensores dessa política argumentam que o repasse de preços evita que a estatal tenha prejuízos.
PRIVATIZAÇÃO É A SOLUÇÃO?
“É importante lembrar que parte das distribuidoras da Petrobras já foi privatizada”, lembra o economista. Em 2019, o governo Bolsonaro privatizou a BR Distribuidora, o que faz com que essas distribuidoras importem diesel a preços de mercado, como aponta Dainez.
O professor explica que não há motivos para privatizar a Petrobras, “é uma estatal extremamente lucrativa, que paga dividendos altíssimos ao governo”, ressalta. “Como o governo é o acionista majoritário, ele deve tomar as rédeas da gestão da empresa”, acrescenta.
É legítimo privatizar uma empresa – argumenta o professor – quando a estatal não oferece um serviço de qualidade a preços acessíveis. Com a privatização da petroleira, “o governo quer tirar de seus ombros a responsabilidade pelo aumento do preço dos combustíveis”, diz Dainez.
Como possível solução, o economista discute a possibilidade de o Governo Federal – principal acionista da Petrobras – impor uma mudança na política de preços da empresa. “Na prática, o governo vem congelando o preço do diesel e da gasolina, ele tem poder para isso”, acrescenta.
Outra alternativa seria o governo investir em combustíveis alternativos, como o álcool, que é 100% produzido na indústria interna. Ou, ainda, incentivar a compra de carros elétricos, como menciona Dainez, seguindo o exemplo do Canadá, que oferece subsídios para a compra de modelos elétricos.
Fonte: Petro Notícias