Petrobras alerta que política de preços pode mudar em documento para investidores
A Petrobras alertou os investidores que sua política de preços de combustíveis pode mudar no futuro, destacando as declarações do presidente Jair Bolsonaro (PL) a esse respeito. O aviso consta em documento depositado nesta quarta-feira (30) na SEC (Securities and Exchange Commission), órgão regulador do mercado de capitais dos Estados Unidos.
“No futuro, pode haver momentos em que os preços de nossos produtos não estarão em paridade com os preços internacionais dos produtos. Ações e legislação impostas pelo governo brasileiro, como nosso acionista controlador, podem afetar essas decisões de preços”, afirma a estatal em texto que integra a prestação de contas anual da empresa.
O documento também lista outros fatores de risco do negócio, como adversidades no setor de óleo e gás.
A disputa sobre os preços dos combustíveis levou à renúncia do presidente da empresa, general Joaquim Silva e Luna, por Bolsonaro na segunda-feira. Gasolina, diesel e gasolina estão entre os itens com maior peso na inflação, problema que preocupa o Planalto em ano eleitoral.
Uma pesquisa do Datafolha divulgada nesta semana mostra que, para a maioria dos brasileiros (68%), o governo Bolsonaro é o responsável pelo aumento dos preços dos combustíveis.
Luna estava sob pressão para revisar o aumento dos preços após o aumento do preço do barril de petróleo como resultado da guerra na Ucrânia. O general foi pressionado publicamente pelo próprio Bolsonaro e pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
O militar, porém, disse internamente que as variações são conjunturais e não estruturais e que ainda não havia chegado o momento de rever o mega-aumento promovido pela empresa.
Em quase um ano de gestão de Silva e Luna, os preços da gasolina subiram 27% e os do diesel, 47%. O botijão de gás subiu 27% e o GNV (gás veicular), 44%.
No documento enviado à SEC, denominado formulário 20-F, a Petrobras afirma que “o presidente brasileiro, em alguns momentos, fez declarações sobre a necessidade de modificar e ajustar nossa política de preços às condições domésticas”.
“À luz das declarações feitas pelo presidente, um novo conselho ou conselho de administração pode propor mudanças em nossas políticas de preços, inclusive decidindo que essas políticas não buscam alinhamento com a paridade internacional de preços”, afirmou a empresa no documento.
A Petrobras destaca ainda que as decisões tomadas pelo governo podem afetar negativamente seus negócios, resultados e condições financeiras.
Não é a primeira vez que a estatal faz esse tipo de alerta à SEC. No formulário 20-F arquivado pela empresa no ano passado, a Petrobras já havia destacado que sua política de preços poderia mudar diante das declarações do presidente brasileiro, um novo CEO — na época, a estatal também passava por uma mudança de comando, com substituição de Roberto Castello Branco por Luna—, um novo conselho de administração ou um novo Conselho de Administração.
Fonte: O Petróleo