Petrobras adia venda de fatia no polo de Marlim devido ao coronavírus, dizem fontes
A Petrobras adiou planos para a venda de fatia do polo de Marlim, na Bacia de Campos, disseram à Reuters três fontes com conhecimento do assunto nesta semana, destacando os desafios que a companhia estatal enfrenta em sua tentativa de reduzir a dívida em meio à pandemia do novo coronavírus.
A petroleira havia iniciado preparativos no início deste ano para vender participação minoritária no polo, na costa do Rio de Janeiro, disseram as fontes, que pediram anonimato para falar sobre o tema.
No entanto, a estatal optou por adiar o projeto depois que a demanda por petróleo caiu em meio às medidas mundiais de isolamento para conter a disseminação do vírus, acrescentaram as fontes.
O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, afirmou em dezembro acreditar que poderia levantar de 2 bilhões a 4 bilhões de dólares com a negociação de uma fatia de Marlim. Mas isso foi antes da atual crise de demanda por petróleo, que persiste mesmo depois que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) reduziu a produção.
“Com o petróleo em seus níveis atuais, não faz sentido discutir um ativo tão interessante”, disse uma fonte com conhecimento direto do assunto.
“Quando pode ser vendido depende de quando os preços se recuperarem. A ideia (de vender) não morreu.”
Nos últimos dois anos, a Petrobras vendeu dezenas de ativos —desde campos de petróleo na Nigéria até uma refinaria no Texas— em uma tentativa de reduzir sua enorme dívida, que somava 87,1 bilhões de dólares no fim de 2019.
A venda de Marlim, no entanto, traria maior reforço a essa estratégia.
Enquanto a maioria dos campos de petróleo que a Petrobras vendeu até agora produz menos de 20 mil barris de óleo equivalente por dia (boed), os quatro campos de petróleo que compõem o polo Marlim produziram cerca de 243 mil boed, de acordo com dados de março da agência reguladora ANP. O volume é equivalente a quase 10% da produção total da empresa.
Parte da produção de Marlim está no chamado pré-sal, uma formação geológica submarina onde bilhões de barris de petróleo ficam presos sob uma camada de sal no fundo do oceano.
A Petrobras não anuncia a venda de nenhum ativo do pré-sal desde 2016, quando a francesa Total comprou fatias nas concessões das áreas de Lapa e Iara, ambas na Bacia de Santos, como parte de uma aliança estratégica, em negócio de mais de 2 bilhões de dólares.
A mais recente venda de ativos de tamanho comparável pela companhia ocorreu em 2017, quando ela fechou a venda de uma participação de 25% em seu campo de Roncador para a norueguesa Equinor por 2,9 bilhões de dólares.
A Petrobras preferiu não comentar.
Executivos da companhia já comentaram anteriormente sobre a possibilidade de vender uma fatia em Marlim.
Entre 2017 e 2019, a Petrobras manteve sem sucesso negociações com a China National Petroleum Corp (CNPC) por uma participação de 20% no polo, em um acordo que faria com que a chinesa se tornasse parceira na conclusão de uma refinaria em área do Comperj, em Itaboraí (RJ).
Castello Branco afirmou em dezembro que considera vender uma participação em Marlim —o que segundo ele poderia levantar até 4 bilhões de dólares—, além do campo de Papa-Terra, muito menor.
Em fevereiro, a Petrobras e a parceira Chevron colocaram à venda suas participações no campo de Papa-Terra.
Executivos da Petrobras afirmaram nas últimas semanas que ainda veem forte apetite pelos ativos da empresa que estão à venda.
No entanto, eles também reconheceram que a redução da dívida se tornou mais difícil, dadas as atuais condições do mercado. No final de abril, a empresa previu concluir 2020 com dívida bruta no mesmo patamar do final de 2019.
Fonte: Reuters