Petrobras adia cronograma para contratar plataforma para campo de Itapu, dizem fontes
A Petrobras adiou em 90 dias a data limite para o envio das propostas de construção e afretamento de plataforma para o campo de Itapu, na Bacia de Santos, para 17 de julho, em meio a um cenário de incertezas relacionadas ao novo coronavírus, afirmaram à Reuters duas fontes com conhecimento do assunto.
A plataforma, que está prevista no plano de negócios da petroleira estatal para entrar em operação em 2024, é a primeira a ter seu cronograma de licitação alterado diante do agravamento do cenário econômico global devido à pandemia, segundo as fontes, que pediram para ficar no anonimato.
O campo de Itapu faz parte da região cedida em 2010 pelo governo à Petrobras sob regime de cessão onerosa —em 2019, a empresa adquiriu em leilão direitos sobre o petróleo excedente na área.
Anteriormente, a data limite de entrega de propostas para a plataforma de Itapu era 20 de abril.
“Adiaram a avaliação das propostas do FPSO de Itapu em mais 90 dias”, disse uma das fontes.
“É um péssimo momento para o Brasil e para o Rio de Janeiro”, frisou, lembrando que o país se tornou grande mercado para o afretamento de plataformas, especialmente após licitar diversas e promissoras áreas do pré-sal para gigantes multinacionais nos últimos anos.
Mas o cenário agora ganhou incertezas, após os preços do petróleo terem fechado março com as maiores quedas mensais e trimestrais da história.
As duas fontes afirmaram que o movimento já era esperado.
Apesar do adiamento para Itapu, o mercado de contratação de plataformas de petróleo do pré-sal do Brasil, que envolve as maiores companhias do setor, como SBM e Modec, é visto como mais resiliente do que em muitas partes do mundo, devido à alta produtividade de poços da região produtora, que tem campos como Lula, Búzios e Sapinhoá.
“Eu até esperava isso (o adiamento de Itapu), imaginei que fosse acontecer”, disse uma segunda fonte.
Segundo essa pessoa, as companhias que participam do processo de licitação de grandes plataformas precisam de uma estrutura complexa de financiamento para executar o projeto, com grande alavancagem, e conseguir fazer isso agora, em um cenário tão incerto, “é muito difícil”.
A Petrobras tinha inicialmente o direito de explorar até 350 milhões de barris de óleo equivalente em Itapu, a partir do contrato original da cessão onerosa e, em novembro de 2019, pagou ainda sozinha 1,77 bilhão de reais ao governo pelo direito de explorar os recursos excedentes, não revelados.
Procurada, a Petrobras disse que não comentará o assunto.
DEMAIS PROJETOS
Pelo menos outros dois processos de licitação da Petrobras para a contratação das plataformas Mero 3 e Mero 4, para o campo de Mero, na área de Libra, no pré-sal da Bacia de Santos, seguem em curso, segundo ambas as fontes.
Mero 3, também prevista para entrar em operação em 2024, recebeu propostas da holandesa SBM Offshore e da malaia Misc dentro do prazo, no mês passado, enquanto Mero 4, ainda sem data publicada para entrar em produção, teve seu processo iniciado recentemente e tem prazo para a entrega de propostas até meados de agosto.
Procuradas, a SBM Offshore afirmou que “não comenta nenhuma possível atividade de licitação com nenhum cliente”, enquanto a Misc não pôde ser contactada imediatamente.
O resultado de uma licitação como a de Mero 3 leva cerca de três ou quatro meses para ser conhecido, segundo explicou a segunda fonte.
Também havia perspectiva no mercado para o desenvolvimento de projeto para a plataforma Sergipe Alagoas, da Petrobras, prevista para iniciar produção em 2024, em um modelo diferente pensado pela companhia, que previa assumir a operação da mesma após um determinado tempo.
Além dos processos em curso pela Petrobras, afretadoras e fornecedores do setor naval têm no radar perspectivas para avaliar contratos de plataformas ainda neste ano para o campo de Gato do Mato, da anglo-holandesa Shell, além de Carcará e Pão de Açúcar, ambas da norueguesa Equinor.
No entanto, não há muita certeza no mercado se os projetos serão mesmo contratados neste ano, segundo as fontes.
Procurada, Shell Brasil disse que tem atuado em diferentes frentes de trabalho com o objetivo de otimizar processos e dar celeridade à execução do projeto.
A companhia lembrou que neste ano iniciou uma nova perfuração em Gato do Mato e realiza a análise de dados de sísmica e campanhas anteriores.
“Essas atividades irão contribuir para o detalhamento do escopo do projeto e seu consequente processo de contratação.”
Já a Equinor não respondeu imediatamente a pedidos de comentários.
Fonte: Reuters