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Parceria entre China e Rússia pode afetar embarques do Brasil

A crise entre Rússia e Ucrânia realçou a importância da região em alguns setores básicos para a economia global. Para além de petróleo e gás, chamou particular atenção seu peso no setor agrícola, tanto na produção de grãos como trigo e milho quanto na fabricação de fertilizantes. Duas áreas das mais importantes para o Brasil, que tenta contabilizar os reflexos do conflito nas próximas semanas, meses e até anos.

Não é de hoje que Marcos Sawaya Jank, professor de Agronegócio Global do Insper e coordenador do centro Insper Agro Global, estuda o potencial da Rússia e de países vizinhos no agro. E ele nota que o conflito deflagrado tende a estreitar uma parceria entre Rússia e China que já tem influenciado o aumento da produção russa de alimentos e que, no longo prazo, poderá avançar sobre as vendas de produtos brasileiros ao mercado chinês.

No curto prazo, Jank concorda que os reflexos mais palpáveis do conflito serão a escassez de fertilizantes, a alta das cotações internacionais dos grãos e alguma redução na oferta de carnes de frango e suína. Para o Brasil, observa, haverá efeitos negativos derivados da falta e do encarecimento de adubos e também do aumento do trigo importado, mas o país poderá se beneficiar da alta de soja e milho e também conseguir alguma avanço no embarque de proteínas.

“O que me preocupa é o que está por trás dessa nova configuração geopolítica que ganha força. Agora ‘asiocêntrica’, a Rússia reaparece com maior influência no comércio global, e sua aliança com a China – cujas relações comerciais com os EUA ainda são problemáticas – pode significar maior estímulo ao crescimento da produção agrícola na região. No longo prazo, Rússia e países vizinhos poderão se tornar grandes concorrentes do Brasil”, afirma Jank.

“Com quase 100 milhões de hectares de terras agricultáveis, e com a mudança climática já deixando novas áreas para a agricultura abertas na Sibéria, a Rússia detém um grande potencial inexplorado para cobrir parte da pujante demanda chinesa por alimentos”, escreveu Jank em artigo publicado no Valor no dia 18 deste mês. Além de trigo e cultivos de inverno, há potencial para o incremento das colheitas de soja e milho, os grãos mais produzidos e exportados pelo Brasil – no caso da soja, sobretudo à China.

Para a China, lembra Jank, além das questões geopolíticas há uma clara vantagem logística nessa aproximação com a Rússia. E o movimento torna mais urgente que o Brasil consolide relações bilaterais mais sólidas, com mais credibilidade e transparência, para garantir mercados no futuro.

“A China tem que ser tratada como a parceira importante que é, ao mesmo tempo em que não podemos esquecer que a Rússia também pode ser um mercado mais importante para as nossas exportações. A melhor estratégia é mantermos, neste momento, uma equidistância prudente. Temos que ter boas relações com todos os países envolvidos no conflito”.

Nesse processo, afirma, é importante que a iniciativa privada faça a sua parte. Na Ásia, defende Jank, é preciso que as empresas exportadores tenham presença mais ativa, com operações locais mais relevantes.

 

 

 

 

Fonte: Valor

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