ONS pede troca de mais de 600 equipamentos da GE na rede elétrica após explosões
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apresentou ao governo brasileiro relatório que sugere a substituição de ao menos 662 transformadores de corrente de um modelo específico da fabricante norte-americana GE instalados no sistema elétrico do país, após o registro de elevado número de explosões do equipamento nos últimos anos.
No documento, visto pela Reuters, o ONS disse que houve nos últimos seis anos um total de 53 explosões de equipamentos como esses, instalados em subestações de energia, sempre do modelo CTH-550 e de dois determinados padrões de fabricação, em uma “concentração de ocorrências” que “sugere que estejam associadas a problemas de projeto ou material”.
O problema é do conhecimento de empresas de transmissão de energia, e há entre elas uma preocupação sobre como seria conduzida a troca dos equipamentos, devido a temores de que a GE conteste as conclusões do ONS e não queira se responsabilizar pelos custos, disseram à Reuters dois executivos da indústria.
Procurado para comentar o relatório, o ONS afirmou em nota que indicou a troca, mas ressaltou que “o plano de substituição é realizado pelas empresas” e “as questões associadas à parte comercial são de responsabilidade dos agentes e do fabricante, com envolvimento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).”
A GE afirmou que não teve acesso ao material produzido pelo ONS, mas questionou algumas de suas conclusões.
“Estamos cientes dos incidentes que ocorreram nas instalações de alguns de nossos clientes no Brasil e, atualmente, não há evidências de que a causa esteja relacionada ao design, aos materiais ou aos processos de fabricação do produto”, defendeu a companhia, em nota.
“Este produto está instalado e vem operando há anos em todo o mundo. Há uma clara concentração de incidentes em uma parte da rede elétrica brasileira”, acrescentou a fabricante, ressaltando que “continua a fornecer total suporte aos clientes e está preparada a continuar cooperando com o operador do sistema e as empresas afetadas para endereçar a questão”.
As conclusões do ONS apontam que as explosões aconteceram principalmente em sistemas de transmissão que fazem a conexão entre as regiões Norte e Sudeste e entre Goiás e Mato Grosso.
Os transformadores de corrente são utilizados para baixar a corrente elétrica que passa por uma linha de energia ou transformador de potência, de forma que ela possa ser medida, uma vez que os equipamentos que fazem essa leitura não suportam correntes elevadas como a do sistema de transmissão, explicou o consultor Ambrosio Melek, da Siseletro.
Além de eventuais interrupções no fornecimento de energia, uma explosão de um transformador de corrente também gera riscos para trabalhadores das empresas de transmissão, acrescentou ele.
“Uma explosão pode ser um acidente grave. Se tiver alguém na proximidade, fazendo uma manutenção, pode machucar a pessoa, até matar.”
O ONS disse que não houve até o momento registro de pessoas feridas devido ao problema com os transformadores de corrente.
Mas uma fonte de uma empresa de transmissão explicou à Reuters que as elétricas têm tomado providências para minimizar riscos enquanto o assunto não é tratado.
“Independente de qualquer ação decorrente do relatório, medidas internas foram tomadas pelas empresas, como isolar o equipamento, no sentido de evitar pessoas circulando por perto deles”, afirmou a fonte, que falou sob a condição de anonimato.
RESPONSABILIDADES
Uma segunda fonte do setor de transmissão disse que cada transformador de corrente custa entre 50 mil e 100 mil reais, um valor baixo perto dos milionários investimentos das empresas de energia, mas que ganha porte devido ao número de equipamentos envolvidos.
Em seu relatório, o ONS disse ter conhecimento de 662 unidades do transformador de corrente CTH-550 que precisariam ser substituídas, mas ressaltou que há ainda 484 equipamentos na rede cujos códigos não foram identificados em seu levantamento, “o que pode elevar o número atual”.
De acordo com a primeira fonte, as empresas de transmissão entendem que “há um problema sistêmico, do fabricante, e não do concessionário” e que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) deveria atuar para que as elétricas não sofram prejuízos com a substituição.
“Esperamos que a Aneel possa resolver com a gente. Tem que entender o lado das transmissoras, isso não é risco do negócio, é um problema, um risco oculto”, disse.
Procurada, a Aneel não respondeu um pedido de comentário sobre o relatório do ONS.
O Ministério de Minas e Energia, por meio da assessoria de imprensa, disse que teve conhecimento do documento em reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) em dezembro e acompanha o caso junto ao ONS, mas não quis comentar.
O relatório do ONS surgiu após um levantamento encomendado pelo ministério ainda em 2014 levar à identificação de “número excessivo de explosões” de transformadores de corrente CTH-550 da GE, o que originou um trabalho mais detalhado, que envolveu reuniões com empresas e o fabricante.
Segundo o documento, “não foram registradas ocorrências similares em equipamentos fabricados por outras empresas” e nem mesmo em equipamentos da GE que não fossem das séries com código T.A. igual a R6 e R7.
Fonte: R7