O porto que se importa
Marinheiro deriva de mar: aquele que se dedica exclusivamente ao mar. Já o porto é a porta terra e mar; na maioria das vezes, mais lembrado por suas vinculações com o mar do que com a terra. Paradoxalmente, aproveitamos da imagem do marinheiro para provocar um novo olhar para o porto: mais vinculado ao território.
A figura do marinheiro nos remete ao elemento humano presente no ambiente portuário. O marinheiro não pertence ao quadro de funcionários do porto, não participa das atividades no cais, sequer é considerado como parte do porto. Entretanto, está em todo porto.
Assim acontece também com o território, aqui entendido como cidade, comunidade e espaço territorial onde os portos estão localizados. A expressão “relação cidade e porto” é comumente usada para se referir a essa vinculação do porto com o território. Essa relação merece mais atenção se o objetivo é avançarmos na sustentabilidade portuária.
Todo porto traz a relação cidade e porto como item de seu Plano de Desenvolvimento e Zoneamento/PDZ. Em muitos deles, um ou dois parágrafos falando sobre visitas técnicas ou ações educativas pontuais. Esse é o retrato do porto que ainda não incorporou a sustentabilidade ao seu core business.
Sustentabilidade portuária tem a ver com uma nova gestão dos portos, agora mais próxima dos territórios onde se situa. Fazer do E (environmental) missão de sobrevivência planetária, do S (social) propósito do negócio e do G (governance) uma nova forma de conduzir a gestão do porto.
Trabalhar o Social requer um novo olhar do porto para o território, e proponho que isso seja feito como inovação social. A inovação social nos portos implica enxergar o elemento humano ali presente. Retomar a imagem do porto gateway apenas para resgatar a lembrança terra/mar/terra. Lembrar que o fluxo de mercadorias acontece num espaço localizado territorialmente, num lugar com história, com dinâmicas próprias, com vida que se entrelaça à do porto.
Em sua essência, a mensagem é sobretudo de um novo olhar do porto sobre ele mesmo: mais humanizado e menos autocentrado. Um porto que se enxerga porque olha para fora, um porto que se importa e, assim, desculpa o trocadilho, importa – o #portoqueseimporta.
Fonte: Flavia Nico Vasconcelos é doutora em Sociologia e especialista em cidades portuárias. Desenvolve soluções de sustentabilidade para que os portos brasileiros e seus operadores implementem a agenda ESG e os ODS da Agenda 2030. Está contribuindo com a Secretaria de Portos/MINFRA, desde 2021, como Coordenadora Geral de Descentralização e Delegações