Opinião

O “nunca normal” é a realidade para a cadeia de suprimentos

Se você olhar para trás e pensar em todos os desafios que as cadeias de suprimentos enfrentaram nos últimos anos, não é difícil ver que ainda estamos vivenciando problemas muito reais. À medida que o novo ano começa a se desenrolar, não há dúvidas de que novos imprevistos ocorrerão em 2023.

Por exemplo, ainda não vencemos completamente a Covid-19, ao passo em que novas mutações são descobertas. Também é difícil dizer quando a guerra na Ucrânia finalmente terminará, juntamente com o aumento dos preços dos combustíveis e dos alimentos.

Mas mesmo quando esses desafios terminam, como podemos ter certeza de que as coisas estão “normais” novamente? Bem, eu geralmente gosto de citar o co-fundador e sócio da Nexxworks, Peter Hinssen: temos que nos acostumar com o “Never Normal”, ou “Nunca Normal”.

A verdade é que a noção de normalidade se tornou obsoleta nos últimos anos, com as mudanças que alteraram a política e a realidade socioeconômica que estavam estabelecidas durante algumas décadas. E enfrentaremos mais das mudanças climáticas que colocam o comércio global em desordem, ou pelo menos em algum estado imprevisível.

Pode parecer um pouco assustador, certo? Mas se nos concentrarmos no que está acontecendo agora, com os dados certos e colaboração, podemos agir melhor no futuro e seu constante “estado de fluxo”.

Desse modo, eis algumas das razões pelas quais 2023 só aprofundará o conceito de “Nunca Normal”:

2023 trará mais e diferentes considerações de custo. Haverá mais alterações aos requisitos regulamentares com escrutínio dos relatórios de sustentabilidade. As regras IMO 2023, da Organização Marítima Internacional (IMO) das Nações Unidas, significarão que os navios mais antigos deverão desacelerar para reduzir as emissões com um efeito em cadeia, pois os navios reduzirão o número de viagens. Os problemas de capacidade afetarão as taxas de frete, pois a demanda ainda é forte. Os operadores da cadeia de suprimentos e seus clientes terão que incorporar essa consideração em seus orçamentos e planos gerais de logística.

Os custos trabalhistas também aumentarão à medida que os trabalhadores exigirem aumentos salariais para lidar com a crise do custo de vida. Já vimos esse impacto nos portos e nos armazéns, quando as empresas atenderam ao pico de demanda na última temporada de compras de final de ano. Em relatório publicado em outubro, a project44 já apontava Nova York se tornando o porto número 1 dos Estados Unidos, ultrapassando Los Angeles devido a temores sobre greves do International Longshore e do Warehouse Union. Em outro relatório, a project44 estimou que a greve de oito dias no Porto de Felixstowe (Inglaterra) provocou um impacto de aproximadamente US$ 4,7 bilhões.

Eventos climáticos extremos também estão em ascensão. Especialistas estão alertando sobre os impactos sociais e econômicos de eventos climáticos extremos provocados pelas mudanças climáticas, como a seca no Mississippi, nos EUA, e no Reno, na Europa. De fato, os baixos níveis de água no Reno obrigaram muitos a utilizar redes ferroviárias e caminhões para o transporte marítimo, adicionando custos intermodais inesperados e dores de cabeça na entrega. Tais mudanças imprevisíveis também têm um efeito em cadeia para outros portos, tornando essencial ter visibilidade na cadeia de suprimentos, em tempo real, para que as rotas logísticas possam se adaptar.

Fatores geopolíticos continuarão a pressionar as economias globais. E não não estou falando apenas sobre a guerra na Ucrânia e como isso impactou o fluxo de bens como petróleo e gás, bem como grãos e muitas outras commodities. A instabilidade política e econômica na China constitui uma das maiores ameaças aos Estados Unidos e a outros países ocidentais.

Alguns desses fatores também influenciarão as decisões que as empresas da cadeia de suprimentos tomarão em torno do nearshoring (alocação de operações em países mais próximos) versus o offshoring (dependência de operações e fornecedores de países distantes, como os asiáticos). Mas o nearshoring terá um efeito em cadeia nas redes regionais e poderá, no curto prazo, criar mais pressão sobre a mão de obra local, bem como a capacidade de transporte e a infraestrutura existente.

O que está claro em nossos dados é que o desempenho da cadeia de suprimentos é um sistema de alerta precoce para um potencial abrandamento no desempenho econômico. Isso deixa claro como ter boa visibilidade é um valor estratégico para os negócios. Com essa visibilidade, as empresas podem planejar como ajustam a produção para refletir onde a demanda está patinando, e ao mesmo tempo, identificar onde ela está aumentando.

E a verdade é que as companhias nunca tiveram visibilidade suficiente na cadeia logística. Pelo menos não em suas próprias operações, e não em suas cadeias de suprimentos, para tomarem decisões ágeis baseadas em dados. Ainda vemos muitos processos manuais ou ineficientes. E a cadeia de suprimentos, por definição, é colaborativa – porque é uma cadeia! Mas, por razões obscuras, a noção desse princípio parece ter se perdido.

Se as empresas querem mudar, ser mais eficientes e produtivas e ter novos modelos de negócios digitais, elas devem colaborar – e os dados de visibilidade são a melhor maneira de começar a fazê-lo. Dados em si não têm valor, mas se você puder classificá-los por quantidade e qualidade, e souber como utilizá-los, então você terá uma paisagem completa. Independentemente da situação do fluxo “Nunca Normal” em que sua organização está.

 

 

 

Fonte: Bart De Muynck é Chief Industry Officer da project44. Com uma carreira de mais de 25 anos, atuou em empresas como EY, GE e PepsiCo, e foi vice-presidente de Pesquisas do Gartner

 

 

 

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