Opinião

O novo começo do Porto de Vitória

5 de setembro foi um importante dia para o setor portuário brasileiro e capixaba: a assinatura da entrega da concessão do Porto de Vitória. Motivo de comemoração para uns e de luto para outros. Infelizmente, dois lados.

Tenho acompanhado esse processo, atuo com os portos brasileiros e sou capixaba: estou no meu lugar de fala. Como acadêmica, preciso analisar. Como capixaba, preciso expressar: precisamos superar essa polarização.

O Porto de Vitória, por muitas vezes “porto laboratório”, inaugura essa nova etapa da história portuária brasileira. A modelagem focou em eficiência e desburocratização. No caminho, interesses variados não foram acomodados. No caminho, diferentes stakeholders não foram engajados. Sim, uma tarefa difícil e sem fórmulas mágicas. Porém, fundamental para que ao final — ou no novo começo — não houvesse um lado em luto e um em comemoração.

Um porto não pode ter lados, ele tem que ser ponte. Dentre suas inúmeras funções, o porto é a ponte entre terra e mar, ponte entre comércio exterior e crescimento econômico, ponte entre história e desenvolvimento local. O que diferencia um porto e lhe dá identidade única é a forma como se insere no lugar onde está — é o porto em sua comunidade portuária. A sinergia com o território é fundamental para o sucesso do negócio portuário.

Nenhum processo é todo bom ou todo ruim. A diferença de visões se for bem canalizada possibilita a evolução. Caberá a nova gestão do Porto de Vitória o desafio de sanar, no que for possível e se possível, o que não foi resolvido no caminho da desestatização. Oportunidade de um novo capítulo que parta do reconhecimento do que deu errado e reposicione o porto de forma mais próxima ao território.

Fato é que algo novo está aí, com a esperança inerente ao início de novos ciclos. Particularmente, trago o otimismo de um potencial motivo para comemorar: uma nova gestão portuária que faça do Porto de Vitória mais humano, porque tem escuta ativa; mais sustentável, porque se reconhece como parte do lugar; mais competitivo, porque constrói sua estratégia com a comunidade portuária.

Já que foi dado o pontapé para uma nova forma de gestão dos portos públicos, que o Porto de Vitória seja verde, seja ponte e se importe – #portoqueimporta. Assim, sinalizará para os demais portos públicos brasileiros que novos tempos chegaram.

 

 

 

Fonte: Flavia Nico Vasconcelos é doutora em Sociologia e especialista em cidades portuárias. Desenvolve soluções de sustentabilidade para que os portos brasileiros e seus operadores implementem a agenda ESG e os ODS da Agenda 2030. Está contribuindo com a Secretaria de Portos/MINFRA, desde 2021, como Coordenadora Geral de Descentralização e Delegações.

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