Opinião

O impacto da supply chain colaborativa na distribuição de peças de reposição de veículos

Constantes mudanças e evolução tecnológica fazem parte da história do mercado automotivo desde sua origem, mas, nos últimos anos, a velocidade de transformação ganhou um ritmo cada vez maior, prometendo alterar profundamente o perfil do setor, agora totalmente focado em soluções de mobilidade.

Os direcionadores desta transformação estão relacionados à conectividade e digitalização dos produtos e serviços automotivos, à influência dos canais de e-commerce, bem como à tendência de adoção de modelos alternativos de uso (carros compartilhados, alugados, uberização etc.) e da propulsão elétrica.

Mais recentemente, o tema da mobilidade foi amplamente percebido como fundamental, em função de seu impacto em questões de saúde pública.

Esses movimentos demandam também transformações profundas no mercado de peças de reposição, com enorme crescimento na importância da velocidade e de garantia de excelentes níveis de serviço aos clientes, sempre acompanhados do aspecto de competitividade que é característico desta indústria. Para viabilização, torna-se imprescindível a inovação através de novos desenhos de negócio, mais abertos e focados em modelos colaborativos e integrados de supply chain.

A cadeia de suprimentos da indústria automotiva se caracteriza por ser bastante longa, complexa e com elevado nível de terceirização, entretanto, neste segmento do pós-venda automotivo, ainda predominam no Brasil operações com baixo nível de integração, o que bloqueia a captura de potenciais ganhos com sinergia, escala, eficiência e especialização que emergem em uma abordagem colaborativa.

Neste modelo, um operador logístico com conhecimento e experiência no segmento gerencia múltiplos fluxos de forma inteligente para a rede de distribuição de peças de reposição de várias montadoras, promovendo consolidações visando aumentar a frequência e reduzir os lead times das entregas em todas as praças. A utilização compartilhada de veículos especiais também impacta positivamente em menor tempo de descarga nos destinos e redução de avarias, algo muito significativo neste segmento.

Toda esta operação de peças de reposição também requer visibilidade total das entregas, bem como uma área dedicada e especializada no atendimento aos dealers, incluindo pesquisas frequentes em relação à experiência deles com o serviço recebido.

No Brasil, o potencial sinérgico é ainda maior, pois em 22 capitais do País, 70% dos dealers estão em um raio de até 4 km, ou seja, uma situação que propicia com que volumes bem combinados sejam suficientes para realizar entregas diárias sem que o custo seja proibitivo, e ao mesmo tempo otimizando emissões de CO² pelos ganhos de ocupação.

No México, por exemplo, a DHL tem uma prática consolidada e ampla de logística para aftermarket automotivo. São quatro escopos de serviço: gestão do armazém de peças; distribuição para revendedores; entregas para grandes distribuidores; transporte de peças consideradas de maior risco segundo a legislação local. Além disso, a DHL coordena viagens de retorno de produtos de Cross Docks e provenientes de outras indústrias de forma a aproveitar muito mais os veículos. A companhia serve mais de 10 das principais indústrias automotivas do México, chegando a mais de 900 concessionárias de veículos atendidas com OTD (on time delivery) superior a 97% em data e hora. Há 15 hubs para combinação de fluxos e consolidação de cargas, com mais de 100 rotas de transporte, pelas quais passam mais de 60% das peças de reposição no México, com garantias de eficiência em custos e elevados níveis de serviço. Toda esta operação voltada a serviços e peças de reposição, também provê solução de visibilidade total das entregas e um processo de pesquisa de experiência das concessionárias.

Uma prática semelhante, mas em escala menor, também é empregada no Brasil. A DHL já serve à quatro clientes neste segmento gerando muitos desses benefícios, como por exemplo os indicadores de avarias, muito abaixo da média do mercado de transportes. Uma difusão maior do modelo no Brasil daria margem para ganhos mais amplos e a formação de uma infraestrutura ainda mais completa com vantagens para toda a cadeia de valor do setor: fornecedores, montadoras, concessionárias e revendedores de peças.

O momento atual mostra mais do que nunca que é vital para a perpetuação dos negócios desafiar certos paradigmas e inovar não apenas em termos tecnológicos, como também nos modelos de negócios. Para a indústria automotiva, tanto a colaboração como a terceirização da logística de partes e peças de reposição, incluindo as atividades de armazenagem e picking, se colocam como soluções viáveis e confiáveis, endereçando muitos dos desafios modernos que se apresentam para este segmento, colocando sempre no centro a prestação de serviços de mobilidade para um cliente final cada vez mais exigente e digital.

 

 

 

Fonte: Maurício Almeida é Head Setor Automotivo da DHL Supply Chain Brasil

Assessoria

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