O futuro da logística no Brasil está na nossa costa
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Entre 2005 e 2008 eu tive a oportunidade de participar do setor de cabotagem. Lembro de estarmos revisitando a estratégia e falando dos principais motivadores para o crescimento da empresa. Dentre eles, as dimensões continentais e a concentração do PIB na região costeira. Quase 20 anos depois, após um expressivo crescimento do setor, ainda vejo um cenário de oportunidades e desafios para o setor logístico.
Nosso extenso território, combinado com uma costa de mais de 8 mil km e 34 portos públicos — que movimentaram mais de 1 bilhão de toneladas de carga em 2023 — é um palco com enorme potencial para a transformação do setor. A navegação costeira, então, desponta como uma eficiente alternativa para transportes de longas distâncias, conectando produção com consumo.
Em um país onde a maioria das cargas são transportadas pelo caminhão, a cabotagem é uma solução muito interessante, seja por motivos financeiros ou ambientais. O mercado já vislumbra um cenário favorável para o crescimento do modal: empresas de grande porte pretendem aumentar em 38% o uso da cabotagem até 2025, de acordo com o Instituto de Logística e Supply Chain (ILOS). Os indicadores revelam a confiança no setor e na sua capacidade de melhorar a eficiência das cadeias de suprimentos.
O transporte marítimo apresenta-se como uma solução mais sustentável, no que diz respeito à emissão de gases de efeito estufa: navios emitem até quatro vezes menos CO2, conforme dados do Observatório do Clima. Na COP-29, realizada neste ano no Azerbaijão, o governo brasileiro se comprometeu a reduzir as suas emissões líquidas de gases de efeito estufa em até 67% até o ano de 2035. Desta forma, vejo com ainda mais certeza a cabotagem como uma aliada importantíssima para auxiliar no alcance dessa meta e liderar a transformação ambiental que o país tanto precisa.
Diante desse cenário desafiador, a discussão sobre o uso de outros modais de transporte tende a ser inevitável nos próximos anos, caso o Brasil pretenda ser referência em políticas de sustentabilidade e eficiência econômica. É possível reduzir o custo operacional logístico da cadeia de suprimentos, através da do uso combinado entre diferentes modais de transporte com a cabotagem. A integração, através do modelo de hubs logísticos multimodais que conecta portos a ferrovias e rodovias, pode otimizar ainda mais a eficiência do transporte de cargas, garantindo um fluxo contínuo e integrado.
A entrega do serviço porta a porta hoje é uma realidade do setor. Cerca de 70% dos contêineres transportados por nós, são realizados na modalidade porta a porta. Essa sinergia entre modais tem o potencial de reduzir ainda mais os custos, entregando uma proposta mais completa de valor para o cliente, aumentando a competitividade das empresas brasileiras.
Retorno ao setor animado com as oportunidades e consciente dos desafios. Aqui na Norcoast, acreditamos que a navegação costeira tem o potencial de liderar a agenda do desenvolvimento da infraestrutura do país, se consolidando como uma solução mais eficiente, segura e sustentável.
Fonte: Mundo Logística – Fabiano Lorenzi é CEO da Norcoast