Nova Engevix busca investidor para hidrelétrica São Roque, que ainda exigirá R$360 mi
O grupo de engenharia Nova Engevix está em negociações com investidores em busca de um comprador para a hidrelétrica São Roque, em Santa Catarina, após ter negociado em leilão realizado pelo governo neste mês uma parte da produção futura do empreendimento, disse à Reuters um executivo da companhia.
A usina foi licitada originalmente em 2011 e teve a concessão arrematada pela então Engevix, mas a empresa paralisou as obras após ser alvo de acusações na Operação Lava Jato, em que autoridades investigaram enorme esquema de corrupção envolvendo empreiteiras, estatais e políticos no Brasil.
Com a suspensão da construção, a empresa conseguiu negociar com sucesso o cancelamento de todos os contratos de venda da energia da usina, para evitar multas. Mas, depois de uma reestruturação que envolveu mudança de nome, a agora Nova Engevix inscreveu o projeto no chamado leilão A-6 e negociou novos contratos, com entrega a partir de 2025.
“Estamos buscando parceiros, em negociações bastante avançadas com futuros investidores para terminar o projeto. Ele está 80% concluído… como é para entrega em 2025, temos aí um tempo bom para terminar a construção”, disse o diretor de Novos Negócios da Nova Participações, controladora da Nova Engevix, Filipe Koefender.
Ele estimou que ainda serão necessários cerca de 360 milhões de reais para concluir a obra. Segundo ele, o objetivo da Nova Engevix é vender a usina a um novo empreendedor e ficar responsável apenas pela construção, como contratada.
“Mas estamos abertos a várias estratégias comerciais. Eu espero sinceramente que terminemos as negociações ainda neste ano”, afirmou o executivo.
As tratativas ainda devem envolver o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco de Desenvolvimento da Região Sul (BRDE), que já desembolsaram cerca de 400 milhões de reais recursos para o empreendimento.
“O comprador… tem que negociar com o banco também, as garantias e condições”, afirmou.
Segundo Koefender, os contratos de 30 anos a partir de 2025 fechados pela usina São Roque no leilão A-6 devem possibilitar a atração do desejado investidor. A hidrelétrica terá cerca de 142 megawatts em capacidade instalada quando concluída.
“É um contrato longo, com bom preço, ajuda a alavancar financiamentos…será muito bom para ajudar a retomar as obras”, disse o executivo.
Ele também destacou que a usina negociou no leilão volume de energia correspondente a 60 megawatts médios, de um total de 91,3 megawatts, o que ainda permitirá o fechamento de mais contratos de venda no mercado livre de eletricidade.
A comercializadora de energia Focus chegou a negociar a compra de São Roque às vésperas do leilão A-6, mas não fechou negócio, disseram duas fontes com conhecimento do assunto à Reuters. Houve dificuldade nas negociações sobre a dívida, segundo uma das pessoas.
A Nova Engevix não comentou as empresas interessadas.
BUSCA RETOMADA
Em paralelo à negociação para retomar as obras de São Roque, a Nova Engevix tem passado por uma reestruturação e celebrado novos contratos enquanto busca uma “retomada” após a Lava Jato, afirmou o diretor da empresa e da controladora Nova Participações.
“Isso vai durar ainda uns dois anos, em que a gente continuará ‘pagando’ esses legados. Mas, por outro lado, mantivemos equipe e estamos buscando novos contratos. Desde a Lava Jato assinamos 40 contratos.”
Koefender afirmou que entre os negócios da companhia está o desenvolvimento de projetos solares, como instalações para aeroportos e um complexo de geração fotovoltaica com 1,2 gigawatt em capacidade, em Sergipe.
“Estamos em especial com esse projeto (em Sergipe) já no mercado para vender, desenvolvido integralmente na casa. Estabelecemos acordo com o BTG (Pactual), que está nos assessorando”, afirmou.
A empresa também tem apostado no desenvolvimento de projetos de pequenas hidrelétricas (PCHs e CGHs).
A Nova Participações pertence atualmente a José Antunes Sobrinho, um dos proprietários da ex-Engevix que comprou a fatia dos ex-sócios no negócio após a Lava Jato e renomeou-a em 2016.
“Desde 2016 para cá houve uma verdadeira revolução dentro da empresa”, afirmou Koefender, destacando uma nova política de compliance que segundo ele visa eliminar quaisquer suspeitas de irregularidade sobre o grupo.
“Hoje o maior dos ativos das empresas é a segurança ética”, defendeu o diretor.
Fonte: Reuters