Movimentação de carga durante a pandemia e o seguro Transporte
O setor de transportes sempre foi considerado uma indústria essencial e se manteve ativo durante a pandemia. No entanto, as oscilações ocorridas em alguns segmentos de mercado fizeram com que o seguro de transporte considerasse alguns ajustes importantes.
A queda na movimentação de cargas ocorrida em alguns setores levou à necessidade de algumas empresas negociarem cláusulas de apólice com as seguradoras, como, por exemplo, o prêmio mínimo que é medido de acordo com a estimativa de carga movimentada no ano. Além disso, a tecnologia tem sido um grande suporte para o período garantindo a segurança dos negócios e dos trabalhadores.
A pandemia trouxe a clareza de que a logística é uma peça central no fluxo entre as várias cadeias de valor que movem a sociedade, independentemente de estarmos falando sobre um simples café que chega até a casa do consumidor ou do transporte de materiais essenciais para os trabalhos dentro de um grande hospital.
Muitos processos mudaram ou foram interrompidos durante a crise, mas diante disso tudo as mercadorias precisavam continuar sendo transportadas e armazenadas com segurança para que os prejuízos não fossem maiores ainda para as empresas. Neste cenário, ter um seguro de transportes de carga se tornou fundamental para a sustentabilidade dos negócios.
Tópico 1
Resumidamente, o seguro de transporte é um tipo de proteção que funciona como um compromisso de entrega e recebimento da carga transportada por meios ferroviários, rodoviários, aéreos e hidroviários. A depender da cobertura contratada, é possível receber indenização por danos às mercadorias causados por colisão, tombamento, incêndio, capotagem, explosão, além de roubo por assalto à mão armada ou desaparecimento da carga.
De acordo com a Superintendência de Seguros Privados (Susep), no acumulado de janeiro a setembro, a arrecadação deste tipo de seguro somou R$ 2,53 bilhões, redução de 7,4% em relação ao mesmo período do ano passado. Isso se deve pela queda de mercadorias transportadas nas estradas que atingiu algumas indústrias específicas como, por exemplo, a automobilística que inevitavelmente sofreu uma baixa na demanda chegando a um decréscimo de 50%, conforme dados internos da Willis Towers Watson.
Dados da Confederação Nacional do Transporte (CNT) mostram que o volume de serviços prestados pelo setor de transporte, entre janeiro e setembro, obteve uma queda de 8,6% comparado ao mesmo período do ano passado. No entanto, o fluxo de veículos pesados nas rodovias voltou ao seu nível pré-crise da Covid 19 entre os meses de agosto e setembro, o que revela um cenário em recuperação.
Essas indústrias que tiveram que lidar com um declínio considerável na movimentação de carga precisam agora estar atentas à questão do prêmio mínimo estabelecido no contrato com a seguradora, valor que deverá ser pago independentemente do número de embarques ou outras variações. Para melhor entendimento, é preciso deixar claro que o prêmio é o quanto a empresa vai desembolsar para ter a cobertura de seguro e que a maioria das apólices de seguro de transporte hoje são contratadas pelo chamado modelo ajustável em que no ato da renovação é passado uma estimativa de volume movimentado para os próximos 12 meses.
Com base nessa estimativa é realizada uma projeção de acordo com risco e tipo de carga transportada, exposição e uma série de outros fatores que podem incluir a sinistralidade que se teve nos períodos anteriores; a região principal de circulação da carga, por exemplo o sudeste hoje exige um valor maior devido a maior probabilidade de roubo nas estradas; o perfil dos transportadores envolvidos na operação e o nível de franquia optado.
Ao término da vigência, é preciso informar para a seguradora a efetiva movimentação de carga que se teve durante todo o ano que será comparado com o valor estimado. Se a empresa tiver movimentado um volume a mais, é realizado o pagamento de um complemento. Se for menos, caso não existisse a situação do prêmio mínimo, seria necessário ter algum tipo de devolução do valor. Essa é a principal forma de se fazer seguro transporte no Brasil, o que elimina a burocracia e evita que as empresas tenham que ficar fazendo relatórios rotineiros para cobrança do prêmio.
Todas as empresas que fizeram as renovações pré-pandemia, naturalmente, estavam estimando um orçamento que não levava em conta essa crise e todos seus impactos. No segmento automotivo, por exemplo, as movimentações foram em média 50% menores. Essa diferença entre o que foi efetivamente movimentado e o que foi estipulado é que precisa ser negociada.
Neste cenário, o papel da corretora se tornou ainda mais crucial para ajudar o cliente a fazer esse ajustamento de prêmio com a seguradora de forma que a situação seja equilibrada e não prejudique nenhuma das partes. Além disso, a contratação de um suporte especializado se faz sempre necessário para ajudar o cliente a equilibrar a balança e entender o quanto vale a pena investir em gerenciamento de risco para obter uma melhor cobertura das seguradoras.
Tecnologia e segurança
Muito mais do que custo, é preciso que as empresas entendam a dimensão da proteção que o seguro traz não somente para o transporte da carga delas, mas para os motoristas e demais trabalhadores envolvidos na atividade. A partir disso, a tecnologia também tem sido uma importante aliada para os seguros de transporte neste período.
A telemetria é um exemplo de solução tecnológica que hoje auxilia a manter o foco na segurança por meio do monitoramento de situações, como fadiga e distração do motorista, e da estrada, como distância de segmento e proximidade de veículos. Além disso, as empresas de transporte de carga, em conjunto com seguradoras e corretoras realizam treinamentos específicos dos motoristas para que eles saibam lidar em situações de risco, não apenas em período de pandemia, para terem cuidados de preservar o sono, se alimentar bem, evitar ingestão de bebida alcoólica e outros entorpecentes que podem desviar a atenção do motorista, por exemplo. As paradas também são sempre planejadas, em pontos estratégicos, com o objetivo de garantir uma segurança maior do motorista e da carga.
As empresas também precisam manter os investimentos em soluções tanto para tentar evitar a perda da carga como também para recuperá-la após o roubo. As ocorrências de roubo de carga nas estradas federais do Brasil recuaram 27,1% em agosto de 2020, de acordo com dados da Polícia Rodoviária Federal. Mas o número de casos ainda é alto.
Para se ter uma ideia da proporção do problema que o roubo de cargas representa, um levantamento anual da NTC&Logística (Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística) mostrou que, em 2019, o Brasil registrou 18.382 ocorrências de roubos de cargas. O Brasil é um dos que mais sofrem com a insegurança do transporte ocupando a sétima posição do ranking realizado pelo Reino Unido com 57 países em todo o mundo.
As iscas móveis, que podem ser personalizadas e escondidas na mercadoria, continuam exercendo um papel importante e auxiliando na recuperação de carga. Podemos colocar as iscas no meio do rolo de tecido, dentro de caixa de bebida, de caixa de celular, misturado com pallet, aí a criatividade não tem limite, justamente para que você deixe ela o mais disfarçado e camuflado possível para que quando os ladrões estiverem fazendo a transferência da carga, eles não localizem e descartem as iscas. Elas possuem uma tecnologia híbrida que pode enviar sinal tanto por satélite quanto por rádio frequência. Vale deixar claro que esse recurso é uma contingência, não evita que a carga seja roubada, mas ajuda a localizá-la, e quanto mais rápida a ação da equipe de gerenciamento, maiores as taxas de sucesso.
Já para evitar o roubo da carga, também é possível trabalhar com rastreadores instalados no veículo transportador e diversos tipos de sensores – sensor de baú, de abertura de porta, de presença na cabine, botão de pânico, além é claro, do controle de horários, de transportadores, de motoristas e de rotas. Ou seja, é um conjunto de medidas de gerenciamento de riscos que são trabalhadas e acompanhadas de perto por profissionais especializados do mercado segurador que buscam trazer o que há de mais novo e eficaz para o mercado brasileiro.
Em resumo, é preciso …
Revisar constantemente as estratégias, buscando sempre novas tecnologias e melhorando processos para obter melhores resultados. A gestão do risco e proteção financeira por meio de um programa de seguros irá permitir que as empresas tenham uma melhor visibilidade dos principais problemas e fragilidade de sua operação logística, permitindo trabalhos efetivos de prevenção de perdas com o suporte de seu corretor de seguros especializado.
A pandemia deixou as principais seguradoras lutando para se ajustar, se adaptar a novos paradigmas e se alinhar de acordo com a necessidades dos clientes. E toda essa movimentação pode trazer mudanças permanentes que serão favoráveis para a evolução do setor.
Fonte: Eduardo Michelin Franco é líder da área de transportes, casco marítimos &
aeronáutico da corretora e consultoria global Willis Towers Watson