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Integração e inovação: os motores para que os países da região abordem o futuro das hidrovias e dos portos fluviais

A mesa de diálogo do AAPA LATINO reunirá especialistas-chave que analisarão como soluções criativas e uma abordagem multimodal ajudarão a enfrentar crises, tais como interrupções e mudanças climáticas na logística de rios e bacias hidrográficas.

Um território tão vasto e diversificado como a América Latina tem sido capaz de encontrar múltiplas vocações produtivas em seus países, mesmo assim de potenciar diferentes formas de ligar regionalmente e globalmente os serviços e produtos que resultam destas atividades econômicas.

O comércio exterior e a logística, sendo a espinha dorsal desta atividade, surgem como duas poderosas linhas de ação para as nações do continente, constituindo, além disso, um foco essencial para promover seu desenvolvimento nos próximos anos, especialmente no contexto da recuperação pós-pandêmica, com empresas multinacionais e uma cadeia de fornecimento global que se voltam para a América Latina com muito mais interesse do que há alguns anos.

Mas este intercâmbio incessante de mercadorias entre e desde os países da região não só tem seu ponto essencial de circulação nos portos marítimos e nas principais rotas marítimas, mas também tem descoberto pontos de diversificação que lhes permitem aproveitar ao máximo suas realidades geográficas e otimizar suas vantagens estratégicas: assim, o trânsito de comex através dos rios e terminais fluviais também tem sido parte da essência dos portos latino-americanos.

Um assunto que será analisado em detalhe durante o 30º Congresso Latino-americano de Portos, que acontecerá de 28 a 30 de novembro na cidade brasileira de Santos e que contará com a presença de mais de 600 representantes, acadêmicos, especialistas e líderes da indústria logística regional.

A mesa de diálogo “Portos fluviais e hidrovias” analisará como nos últimos anos a integração econômica e física entre os países tem sido abordada através deste modo de transporte, identificando as ações e desafios que as autoridades da região têm trabalhado em conjunto, fornecendo também um selo sustentável para a atividade.

Este painel de discussão, coordenado por Juan Carlos Muñoz Menna, Diretor da Administração Nacional de Navegação e Portos (ANNP) e Diretor do Centro de Armadores Fluviais e Marítimos (CAFYM) do Paraguai, reunirá -entre outras autoridades de renome – a Juan Curbelo, Presidente da Administração Nacional de Portos (ANP) do Uruguai; José Renato Ribas Fialho, Diretor Interino da ANTAQ do Brasil; René Puche, Presidente do Porto de Barranquilla, Colômbia e José Beni, Controlador da Administração Geral de Portos (AGP) da Argentina.

UM ÍCONE DE INTERLIGAÇÃO

A América Latina, em particular a América do Sul, tem na hidrovia um sistema de interligação comprovado, altamente estratégico e que responde aos interesses e necessidades de seus territórios. A região, com uma superfície total de 17,8 milhões de quilômetros quadrados, tem cerca de 12,4 milhões de quilômetros cobertos por algumas de suas bacias hidrográficas, sendo as mais importantes a Amazônia, Orinoco, Paraguai-Paraná e La Plata: em outras palavras, 70% de suas terras são parte de uma bacia, a maioria delas com rios navegáveis.

Casos como a hidrovia do rio Magdalena, que interliga o porto de Barranquilla com vários pontos de produção de hidrocarbonetos e carga seca em território colombiano, garantindo sua chegada ao resto do mundo, são exemplos interessantes de sistemas nacionais focalizados e atuais, embora sempre com a ameaça que representam os efeitos da mudança climática, como a seca.

Outras iniciativas, como a hidrovia amazônica, que a Autoridade Portuária Nacional Peruana aspira a realizar entre os rios Marañón e Amazonas, ligando em algum ponto o Peru à Colômbia e ao Brasil, ainda são projetos em nível de estudo sem uma data concreta para a sua realização.

No entanto, provavelmente a icônica hidrovia multinacional por excelência é a Paraná/Paraguai, um corredor natural de transporte fluvial que liga -com uma extensão de mais de 3.400 quilômetros- a cidade de Puerto Cáceres no Mato Grosso do Sul (Brasil) com o porto de Nueva Palmira no Uruguai, abrangendo vastos territórios da Argentina, Bolívia, Brasil, todo o Paraguai e Uruguai, com mais de 3 milhões de quilômetros quadrados de área de influência.

Entre 19 e 21 milhões de toneladas de mercadorias, a jusante e a montante, transitam anualmente pelos diversos portos fluviais espalhados ao longo das margens da torrente que une cinco nações, sem contar a atividade do porto de Buenos Aires -que atua como o terminal deste sistema e um pilar no embarque de alguns destes produtos para outras partes do globo- sendo os terminais do Paraguai os mais movimentados, com aproximadamente 80% deste total, a maior parte dos quais são grãos, farinha e óleo.

CRISE IMINENTE

O número, entretanto, está diminuindo. A crise climática, somada principalmente aos engarrafamentos e problemas logísticos do ano passado, semeia hoje incertezas quanto à projeção do comércio através deste importante sistema fluvial, instalado no coração do continente, enquanto paralelamente outras alternativas de conexão entre países estão avançando, como o corredor bioceânico que se projeta -ainda em forma de esboço- para unir mais de 5.000 quilômetros entre Santos (Brasil) e os portos de Ilo (Peru) e Antofagasta (Chile).

“Em julho comemoramos três anos de baixos níveis de água e falta de chuva em ambas as bacias dos rios Paraguai e Paraná com diferentes volumes de carga. A hidrovia Paraguai-Paraná, que começa em Corumbá, passando pelo Paraguai até o Río de la Plata e os portos do Uruguai, é a bacia mais afetada. Em termos gerais, os tempos dobraram e o uso de embarcações atingiu às vezes apenas o 50% de sua capacidade, portanto o impacto sobre os prestadores de serviços e cargas tem sido significativo”, reconhece Juan Carlos Muñoz Menna, Diretor da ANNP e moderador do painel temático do AAPA LATINO.

A seca provocou a redução dos tempos de navegação, o que levou a diversificar as possibilidades de atender indústrias ou setores que -em menos tempo- significam maiores fluxos de carga. Projetos associados ao cimento, celulose e ferro, principalmente no Brasil, aparecem a médio prazo -cerca de 2025- com possibilidades de crescimento. Ao mesmo tempo, no nível administrativo, o objetivo é fortalecer medidas que promovam a recuperação de uma perspectiva de integração regional -e não apenas nacional- na gestão da via fluvial.

E enquanto isso? “Os próximos três anos serão usados para começar a pensar em soluções mais criativas, que são as que apresentaremos no AAPA LATINO, especialmente para o rio Paraguai, que é um rio de planície sem qualquer tipo de intervenção. Um antigo projeto do início dos anos 90 está sendo retomado, que é uma barragem de baixa altura na região de Valle Alegre, que é o ponto de referência tripartite entre Bolívia, Paraguai e Brasil, bem ao norte do rio Paraguai, que poderia ser uma alternativa (…) O que é certo e concreto é que no setor público e privado existe a convicção de que, de uma vez por todas, algo mais do que simples dragagem de manutenção deve ser feito”, argumenta o executivo paraguaio.

PERSPECTIVAS

René Puche, Presidente do Porto de Barranquilla e um dos palestrantes da Mesa de Diálogo “Portos fluviais e hidrovias”, diz -com base em suas experiências à frente do principal porto fluvial colombiano- que é a favor da exploração dos modos multimodais, que integram soluções baseadas na navegação fluvial com outras formas de movimentação de cargas e mercadorias, a fim de aproveitar ao máximo as possibilidades oferecidas pela diversidade territorial da América Latina.

“Acho que falar de uma via navegável em nível nacional ou mesmo entre vários países é em si uma inovação, considerando que atualmente favorecemos o modo rodoviário para o transporte de carga. Acredito que, se queremos ter uma logística eficiente e sustentável no futuro próximo, devemos mobilizar nossos esforços para o multimodalismo, no qual, de acordo com as condições de cada país, podemos integrar diferentes tipos de transporte que permitam uma conectividade ágil e segura”, afirma, antecipando parte dos temas de sua apresentação.

Puche, que considera que o AAPA LATINO “é o cenário ideal para colocar um tema como este sobre a mesa”, apela para “gerar um ambiente colaborativo em relação ao desenvolvimento dos cursos d’água, já que em logística parece que os diferentes negócios associados cresceram organicamente, mas não necessariamente buscando integrar-se com outros atores da cadeia”.

Igualmente, José Beni, Controlador da Administração Geral de Portos (AGP) da Argentina, assegura que não devemos perder de vista as responsabilidades de cada Estado na gestão de rotas fluviais compartilhadas, entendendo que há também uma visão comum e estratégica entre as nações.

“A gestão da Hidrovia Tronco Argentina, e especialmente a decisão de recuperar um papel central para o Estado na tomada de decisões, é de natureza estratégica para nosso país, entendendo também que somos parte de um sistema, uma bacia integrada que forma uma parte central da logística de toda nossa região”, diz ele, concordando que hoje é prioritário enfrentar desafios como a seca, a partir de uma gestão que maximize “o uso das oportunidades”.

Sobre sua participação no painel, Beni afirma que “o AAPA LATINO é um dos eventos portuários mais importantes da América Latina, reunindo as principais autoridades e especialistas do setor” e que neste marco esperam “compartilhar o trabalho realizado pela Administração Geral de Portos na administração da Hidrovia Tronco, e ter a oportunidade de discutir e coordenar políticas em nível regional sobre a gestão da Hidrovia Paraná-Paraguai, que são questões fundamentais para a integração, o comércio e o desenvolvimento de nossas economias”.

 

 

 

Fonte: PR Ports LLC

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