Importação de carvão mineral cresce alavancada por termelétricas
Parte extremamente relevante para a matriz energética e a balança comercial do Estado, a importação de carvão mineral tem apresentado números crescentes, de forma gradual, nos últimos anos.
Entre 2015 e 2018, houve um aumento de 237,43% no valor da compra do insumo para o Ceará, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia. Além disso, o carvão foi responsável por 24% de todo o volume de produtos importados pelo Estado no ano passado. Contudo, apesar de ser fundamental para geração de energia térmica e para a produção da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), o Governo estadual afirmou que não deverá mais investir em usinas a carvão mineral nos próximos anos. A nova diretriz deverá reduzir, no futuro, a importação do insumo no Ceará.
Em 2018, foram gastos US$ 620,049 milhões na compra de 5,257 milhões de toneladas de carvão mineral. Três anos antes, em 2015, a Secretaria de Comércio Exterior aponta que o Estado importou US$ 171,760 milhões (3,151 milhões de toneladas).
Especialistas do setor de energia consultados pela reportagem afirmaram que esse aumento pode ter sido causado por dois motivos: a flutuação do preço do carvão mineral no mercado mundial, por ser uma commodity; e a uma possível elevação dos níveis de produção da CSP.
De acordo com Adão Linhares, especialista em energias renováveis e ex-secretário adjunto de Energia da Secretaria da Infraestrutura do Ceará (Seinfra), a matriz energética do Estado tem, sim, enfrentado mudanças nos últimos anos, mas nenhuma delas é relativa à geração de energia nas termelétricas a carvão mineral instaladas aqui. “Esse crescimento não tem muito a ver com energia, e talvez seja um fator sazonal relacionado à produção da CSP. Nada mudou nos últimos anos relacionado às térmicas, porque a eficiência é sempre a mesma, é constante. E também não houve implantação de novas usinas”, afirmou Linhares.
Matriz
Atualmente, segundo dados do Banco de Informações de Geração da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), as usinas térmicas ainda são a principal fonte de geração energética do Ceará. O levantamento aponta que as termelétricas são responsáveis por gerar 49,66% da energia no Ceará, com uma potência de 2.158.808 quilowatts (kW). Ao todo, são 37 usinas no Estado. A térmica instalada na CSP é responsável pela geração de 218.000 kW de potência.
O ranking da Aneel ainda traz os parques eólicos logo na sequência na lista de principais fontes de energia no Ceará, sendo eles responsáveis por 47,16% da geração e com uma potência de 2.049.964 kW em 80 parques.
Contudo, esse perfil deverá mudar nos próximos anos. Em nota, a Seinfra afirmou que a nova política energética do Ceará “prioriza as fontes renováveis de energia, em especial a eólica e a solar”. A Pasta ainda afirmou que as fontes eólicas deverão ultrapassar as térmicas em 2019, se tornando as principais geradoras de energia no Ceará. Ainda conforme a Seinfra, o Governo estadual não deverá mais buscar a atração de investimentos para novas termelétricas.
“Para 2019, não há perspectivas de aumento de geração térmica no Ceará, visto que as fontes renováveis (eólica e solar) devem continuar sendo alvo de investimentos devido a posição favorável do Estado no mercado, que tem um diferencial competitivo em logística, potencial de geração, capacitação de mão de obra, ambiente de negócios e capacidade financeira”, explicou a secretaria.
Impactos
Essa perspectiva de evolução da matriz energética deverá trazer vários benefícios para o Estado, segundo o consultor em energia João Mamede Filho. Mesmo sendo a segunda fonte mais barata de geração de energia, as usinas térmicas são muito mais poluentes.
O consultor ainda afirmou que, no futuro, além do custo ambiental, as térmicas deverão ficar mais caras do que as fontes renováveis, com o avanço das tecnologias de armazenamento. “O Estado deve focar seus recursos em energias renováveis, porque temos um potencial muito disponível, enquanto que, para as térmicas, temos que importar os insumos”, disse. “Existem baterias de armazenamento que já estão sendo usadas na Europa, mas elas são muito caras. A tendência é elas ficarem mais baratas e, com isso, nós poderemos ter as fontes solar e eólica ainda mais competitivas”, completou.
Renováveis estão mais competitivas
Foco do governo de vários países e estados – como é o caso do Ceará -, as fontes de energia renovável deverão se tornar cada vez mais competitivas no mercado mundial e deverão liderar matrizes energéticas em um futuro próximo. A perspectiva foi defendida por duas entidades ligadas à geração de energia eólica e solar, a Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica) e a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar).
Segundo o presidente executivo da Absolar, Rodrigo Sauaia, as fontes fotovoltaicas estão evoluindo consideravelmente nos últimos anos e se tornando cada vez mais competitivas. Atualmente, apenas 3,15% da matriz energética do Ceará vêm de placas solares, mas 100% dos novos projetos em desenvolvimento no Estado, segundo a Aneel, estão relacionados à energia solar. Serão mais 81.000 kW.
Sauaia ainda enalteceu a postura do Governo do Ceará de focar nas fontes renováveis.
“O Ceará deverá ter investimentos de cerca de R$ 2 bilhões nos próximos anos, e isso deverá gerar milhares de empregos É sempre relevante ver estados focando em energia limpa”, disse.
Presidente da ABEEólica, Elbia Gannoum afirmou que, além de ficarem cada vez mais baratas, as fontes de energia renovável representam um avanço na questão ambiental.
“Sobre novas contratações e sobre o futuro da energia eólica, é importante explicar que entendemos que a escolha de sua contratação faz sentido do ponto de vista técnico, social, ambiental e econômico”, disse.
Fonte: Diário do Nordeste