Gigantes do petróleo podem quebrar tabu sobre dividendos e frear endividamento
As maiores empresas de petróleo e gás do mundo podem quebrar um tabu do setor e considerar cortes de dividendos, em vez de tomar novas dívidas para que os pagamentos sejam mantidos, em um momento em que as consequências da pandemia de coronavírus são enfrentadas, disseram investidores.
O chamado “top 5” das gigantes do setor têm evitado há anos reduzir dividendos para manter os investidores tranquilos, e em 2019 acumularam um montante adicional de 25 bilhões de dólares em dívidas para assegurar as despesas de capital e, ao mesmo tempo, retornar bilhões aos acionistas.
A estratégia foi desenvolvida para manter o apelo das ações de petroleiras em meio à pressão de ativistas climáticos para que investidores abandonem tais papéis e ajudem o mundo a caminhar mais rapidamente rumo ao cumprimento das metas de emissão de carbono.
Agora, porém, a estratégia está em risco. Os preços do petróleo despencaram 60% desde janeiro, para nível inferior aos 30 dólares por barril, diante do colapso de demanda causado pela pandemia e guerra de preços entre Arábia Saudita e Rússia, que ameaçam inundar o mercado com a commodity.
“No longo prazo, é apropriado cortar os dividendos. Nós não somos a favor de aumentar a dívida para sustentar o dividendo”, disse Jeffrey Germain, diretor da Brandes Investment Partners, que possui diversas petroleiras europeias no portfólio.
Combinadas, as dívidas de Chevron, Total, BP, Exxon Mobil e Shell somaram 231 bilhões de dólares em 2019, pouco abaixo da marca de 235 bilhões de dólares atingida em 2016, quando os preços do petróleo também recuaram abaixo dos 30 dólares por barril.
Delas, a Chevron foi a única a reduzir dívidas no ano passado.
O mais recente colapso dos preços do petróleo fez com que as companhias recuassem, justamente no momento em que se recuperavam do “crash” anterior, quando o valor do barril caiu de 115 dólares em 2014 para 27 dólares em 2016.
Da Exxon à Shell, as empresas já anunciaram planos para cortes de gastos e suspensão dos programas de recompra de ações, visando equilibrar seus balanços e evitar que os já elevados níveis de dívidas disparem.
Até aqui, nenhuma delas anunciou planos de cortar dividendos.
“Ainda há muita incerteza, mas se os mercados de commodities se desenvolverem conforme o esperado, nós achamos que as gigantes europeias vão começar a reduzir dividendos no segundo semestre de 2020”, afirmou Martijn Rats, analista do Morgan Stanley.
“Considerando todos os pontos negativos, não vejo desvantagem em cortar os dividendos temporariamente e, uma vez que as circustâncias mudarem, aumentá-los de forma adequada”, acrescentou Darren Sissons, gerente de portfólio da Campbell, Lee & Ross.
Fonte: Reuters