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Dólar dispara a recorde acima de R$5,40 com aposta sobre Selic e exterior

O dólar bateu novos recordes históricos nesta quarta-feira, e no mercado futuro a cotação acelerou fortemente a alta perto do fim do pregão, em parte por um ajuste ao movimento do câmbio global na véspera, mas sobretudo pela escalada das apostas de corte de juros no Brasil, que faz minguar ainda mais as expectativas para o fluxo cambial.

O dólar à vista subiu 1,89%, a 5,4094 reais na venda, um recorde nominal para encerramento de sessão.

Durante os negócios, a cotação foi a 5,4160 reais, também um patamar histórico.

No exterior, moedas emergentes se desvalorizaram, depois de na véspera —quando o mercado local permaneceu fechado por feriado— já terem perdido terreno.

Na B3, o dólar futuro teve alta ainda mais forte nesta sessão, de 2,68%, a 5,4640 reais.

“Esse patamar não está fora do razoável”, disse Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos. Embora acredite que no fim do ano o dólar deva ficar na casa de 4,80 reais, o profissional entende que a incerteza de curto prazo é tamanha que justifica a busca por proteção na moeda dos Estados Unidos.

Em apenas dois pregões nesta semana —o mercado de câmbio não abriu na terça-feira pelo feriado de Tiradentes—, o dólar já acumula ganhos de 3,31% frente ao real. Essa esticada teve suporte na mudança de tom do Banco Central com relação aos juros.

Na segunda-feira, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, negou que a política monetária tenha perdido eficácia e admitiu que o cenário econômico se deteriorou desde a última reunião do Copom.

Foi a “senha” para o mercado turbinar apostas em corte de juros. Na curva de DI, operadores embutiam 100% de chance de corte de 0,75 ponto percentual da Selic em maio e 12% de probabilidade de uma redução ainda maior, de 1 ponto. Os contratos futuros da B3 apontavam Selic nominal média de 2,6% em dezembro, 1,15 ponto percentual aquém da meta Selic atual (3,75% ao ano).

Um juro mais baixo coloca o Brasil —historicamente conhecido por suas altas taxas— em desvantagem competitiva em relação a outros emergentes na tentativa de atrair fluxo de capital para a renda fixa.

Esse desestímulo fica mais evidente uma vez que o Brasil há tempos deixou de ser grau de investimento pelas principais agências de classificação de risco, diferentemente do México, por exemplo, um dos principais “concorrentes” do Brasil por capital externo.

FLUXO NEGATIVO
Em 2020, o fluxo cambial ao Brasil está negativo em 12,878 bilhões de dólares. No mesmo período de 2019, havia superávit de 1,295 bilhão de dólares.

“O mercado está antecipando uma saída de dólar ainda mais profunda”, disse Helena Veronese, economista-chefe na Azimut Brasil Wealth Management.

Para ela, o movimento que poderia levar o BC a ser mais agressivo nas intervenções cambiais “já aconteceu” (citando o dólar a 5,40 reais). Diante disso, Veronese entende que o comportamento do real, passado o pico da pandemia do coronavírus —num quadro já de economias reabertas—, deve ser mais informativo sobre o debate a respeito do grau de atuação do BC.

“Se ainda assim a gente observar um dólar pressionado, com fatores domésticos no radar e a política (local) pesando, aí sim vejo um BC mais ativo.”

O BC anunciou nesta quarta-feira oferta líquida de 10 mil contratos de swap cambial (500 milhões de dólares), dos quais vendeu 6.600 (330 milhões de dólares).

O cenário segue instável. O Credit Suisse, por exemplo, vê o dólar renovando máximas históricas no curto prazo e mantém avaliação “bearish” (negativa) para a moeda brasileira, enxergando um patamar de 5,50 reais.

Em relatório desta quarta, estrategistas do banco citam o tom mais “dovish” do Banco Central e a escalada do ruído político —com a demissão do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta sendo considerada pelo banco suíço um desenvolvimento “muito importante” desse processo.

“Suspeitamos que os mercados provavelmente vão prestar mais atenção às ações do que às palavras a partir de agora: continuamos céticos”, resumiram.

Alguns analistas fazem alertas sobre o pós-crise. “A questão definitivamente não é o nível do câmbio, mas a sensibilidade do risco estrutural a que estaremos expostos após a passagem deste choque. Tratar as reservas como proteção suficiente me parece pouco prudente”, disse Adeodato Volpi Netto, estrategista-chefe da Eleven Financial Research.

Fonte: Reuters

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