Dólar alto já afeta importação de equipamentos

O mercado financeiro viveu nesta sexta-feira mais um dia de elevadíssimo estresse à medida que os casos de coronavírus não param de crescer no mundo, inclusive no Brasil, colocando em xeque a capacidade das principais economias globais de reagirem e pressionando o dólar. As ações na Bolsa de São Paulo recuaram mais de 4%, com o Ibovespa despencando abaixo de 98 mil pontos.
As ações com peso importante no índice tiveram desvalorizações expressivas. Os papéis preferenciais da Petrobras (PN, sem direito a voto) recuaram 9,53% a R$ 22,88, enquanto as ações ordinárias (ON, com direito a voto) perderam 9,92% a R$ 24,15.
Os sucessivos recordes do dólar nos últimos dias já impactam a importação de insumos essenciais para expansão da produção brasileira, de acordo com a Associação de Importadores de Máquinas e Equipamentos Industriais (Abimei). Montadoras de automóveis já apontam risco de interrupção da produção de alguns modelos no mês que vem.
Segundo Paulo Castelo Branco, presidente-executivo da Abimei, que reúne mais de 80 empresas do setor, fábricas paralisaram novos contratos por não saberem até quando o patamar elevado da moeda americana irá permanecer.
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– Está todo mundo aguardando, você não vai fazer um trabalho desses se o câmbio pode baixar. O pessoal está com pé no freio. No caso da definição de contrato de uma máquina de US$ 500 mil, com sinal de 30%, uma diferença de 10% no dólar pode fazer toda a diferença no negócio – explica.
O Brasil é um grande importador de bens de capital, como máquinas e equipamentos, essenciais para o avanço da produção brasileira. No entanto, com a queda da confiança do empresariado diante da incerteza dos efeitos do novo coronavírus na atividade global, a decisão de investir em aparelhagem está cada vez mais distante.
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Segundo Castelo Branco, somente as empresas que necessitam da máquina para exportar um produto estão investindo com o dólar em patamar acima de R$ 4,60.
Próximos 2 meses decisivos
No ano passado, o setor externo encerrou 2019 com contribuição negativa de 0,5 ponto percentual no PIB, com as exportações caindo 2,5% ante 2018, e importações subindo 1,1%.
Com as importações em compasso de espera, Castelo Branco afirma que os próximos dois meses serão decisivos para o avanço da produção brasileira.
A encomenda de um equipamento feita hoje, por exemplo, demora cerca seis meses para chegar ao país e viabilizar o início da produção. Assim, os ganhos de produtividade só viriam em 2021.
– Quando você tem uma previsão de faturamento e um investimento proporcional a isso, mas no fim não aumenta o faturamento, vai ter uma revisão desse investimento – ressalta.
Fonte: O Globo