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Crise cambial na Argentina reduz em 64% exportações da Zona Franca de Manaus

A crise cambial argentina, sentida no comércio brasileiro desde o ano passado, está afetando as exportações no Amazonas. Sendo um dos principais parceiros comerciais da Zona Franca de Manaus (ZFM), o valor das vendas para o país vizinho caiu 64%, passando de US$ 33,8 milhões, no primeiro bimestre de 2018, para US$ 12,1 milhões entre janeiro e fevereiro deste ano.

O dado é preocupante, uma vez que as exportações do Estado não começam bem o ano. Do total de US$ 127,7 milhões de exportações do Estado, nos dois primeiros meses de 2018, houve recuo de aproximadamente 11,45% no mesmo período de 2019 com registro de US$ 113 milhões.

Para o gerente do Centro Internacional de Negócios da Federação das Indústrias do Amazonas (Fieam), Marcelo Lima, os carros-chefes da ZFM – setores de duas rodas e eletroeletrônicos – podem ter uma recuperação lenta devido a esse problema cambial no Argentina.

“Espera-se que um país como a Argentina não perdure nessa crise e que esse mau começo seja um período temporário. Estimamos que a solução deve vir até a médio prazo. No Mercosul, o peso argentino tem grande valor para o Brasil nas vendas de veículos pesados e motocicletas, especialidade do Amazonas”, ressaltou.

No cenário nacional, o valor das exportações para o terceiro maior parceiro comercial do Brasil caiu 42,5%, de US$ 2,68 bilhões no primeiro bimestre de 2018 para US$ 1,54 bilhão no mesmo período de 2019.

O recuo afeta sobretudo as exportações de produtos industrializados, cujas vendas para o mercado argentino caíram 43,7% na mesma comparação. A maior queda percentual ocorreu com os veículos de carga, em que as exportações para o mercado vizinho diminuíram 64,7%.

Tradicionalmente, o Brasil exporta itens industrializados para o mercado argentino, também comprando produtos manufaturados. O comércio bilateral concentra-se no setor automotivo, na metalurgia e em produtos petroquímicos.

Alternativas

O gerente do centro internacional de negócios da Fieam criticou a dependência do mercado argentino e citou possibilidades que podem acelerar a exportação regional. “É perigoso ter apenas um país com predominância no comércio exterior, porque se ele tiver uma crise, ficamos de mãos atadas. Países como o Chile, Colômbia, Equador e Peru são prospecções confiáveis cuja atenção dos investidores deveria estar voltada”, enfatizou.

O presidente do Centro das Indústrias do Amazonas (Cieam), Wilson Périco, disse que “não há o que fazer quando a situação econômica do mercado não está bem”. “A alternativa é aguardar uma estabilização da economia argentina para retomarmos as exportações. Não só ela, como outros países também estão nessa situação. Quem determina o mercado, é o próprio mercado e não há como fugir disso”, avaliou.

Para se ter uma ideia da crise atual, em 2007 o Amazonas chegou a gerar mais de R$ 1 bilhão em exportações, com a participação do mercado argentino em 30,5 %, um total de R% 335,9 milhões. Já em 2018, registrou-se um crescimento de 1% sobre 2017, em que o Estado faturou R$ 678 milhões ao longo do ano, com uma fatia de R$ 180 milhões da Argentina.

A desvalorização do peso argentino diminui a capacidade de o país comprar mercadorias brasileiras, prejudicando todas as categorias de produtos. As exportações de produtos semimanufaturados caíram 45,8%, de US$ 86 milhões no primeiro bimestre do ano passado para US$ 39,4 milhões em janeiro e fevereiro deste ano. As vendas de produtos básicos (bens agropecuários e minerais) recuaram 6,7%, de US$ 104 milhões para US$ 96,7 milhões.

Setor automotivo aponta queda

O setor automotivo não espera que as exportações de veículos cresçam este ano, principalmente por causa da situação na Argentina, que passa por uma crise cambial. “O nosso principal problema é o nosso principal parceiro, que é a Argentina, que infelizmente, está em uma situação muito difícil e acreditamos que o mercado argentino será muito baixo este ano. Estamos fazendo um esforço importante para mandarmos veículos para outros países como Colômbia, Chile e Uruguai. Estamos buscando novos mercados fora da América Latina também”, disse o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antonio Botelho Megale.

Em fevereiro, as exportações atingiram a marca de US$ 876 milhões. “Abaixo de US$ 1 bilhão. E US$ 1 bilhão é uma referência boa para a gente. Acima é um número razoável. Mas estamos abaixo. Se somarmos janeiro e fevereiro estamos com R$ 1,6 bilhão. É muito aquém, 36% abaixo do ano passado”, disse Megale.

Situação preocupante

O vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Nelson Azevedo, considerou preocupante a crise cambial argentina.

“Desperta a necessidade de procurarmos outras opções para o mercado exterior e mesmo aumentar a produção para o mercado interno, em que é possível driblar a perda com a crise argentina. Sabemos que eles estão com essa dificuldade lá e as empresas têm que buscar outras alternativas para manter o nível de produção com outros destinos de mercado. Nós, como federação, procuramos dar todo o apoio necessário às empresas na diversificação dos seus destinos comerciais. Estamos em diálogo com a Suframa na promoção do aumento das relações comerciais. Em abril, membros do conselho econômico da União Europeia virão à Fieam para tratar de novos investimentos e nós podemos abordar a expansão da exportação local. O ideal é que tenhamos mais parceiros na balança comercial para fugirmos ao máximo do estado de reféns em circunstâncias adversas”, disse o vice-presidente

Falta plano de desenvolvimento

“Apesar de exportamos entre 90 a 95% do que produzimos ao mercado interno, cometemos uma negligência com as multinacionais daqui. É um tipo de desvalorização de potencial, em que poderíamos estar numa situação melhor do que estamos. Para expandirmos o nosso mercado a outros países, precisamos urgentemente de um plano de desenvolvimento nacional, pois vivemos de dias, semanas e meses não anos, como foi o tempo das medidas dos últimos governos. Destravar as legislações aduaneiras, que são pesadas, e melhorar a nossa infraestrutura são os fatores que vão subir os nossos índices econômicos. O governo ainda não tem uma política definida, pois não entrou com nenhum processo legislatório para mudar o atual processo. Os custos para contornar essa falta de investimento têm sido altíssimos”, acrescentou o economista Wallace Meirelles.

Fonte: A Crítica

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