Corrente de comércio supera US$ 100 bilhões no primeiro trimestre
A corrente de comércio (soma das exportações e importações) do Brasil cresceu 20,6% no primeiro trimestre de 2021, atingindo US$ 109,62 bilhões. As exportações cresceram 16,8% no acumulado do ano e somaram US$ 55,63 bilhões, enquanto as importações subiram 24,8% e totalizaram US$ 53,99 bilhões.
A balança comercial teve superávit de US$ 1,65 bilhão no período, um recuo de 62,5%, pela média diária, em relação aos três primeiros meses do ano passado. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (1º/4) pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia (ME).
No mês de março, as exportações cresceram 27,8% e somaram US$ 24,5bilhões, e as importações subiram 51,7% e totalizaram US$ 23,02 bilhões. Assim, a balança comercial registrou superávit de US$ 1,48 bilhão no mês, com queda de 63%, e a corrente de comércio aumentou 38,3%, alcançando US$ 47,53 bilhões.
Veja os principais dados da balança comercial.
Em entrevista coletiva, o secretário de Comércio Exterior do ME, Lucas Ferraz, lembrou que as exportações e importações brasileiras já vêm aumentando desde o terceiro trimestre do ano passado. “Então, se observa a economia brasileira se recuperando e isso, de certa forma, se refletia nas importações, sobretudo, além de uma economia internacional também em recuperação lenta, se refletindo no crescimento das nossas exportações”, comentou.
Os dados da Secex mostram que os resultados do trimestre também refletiram o impacto da entrada de plataformas para exploração de petróleo via Repetro – regime aduaneiro especial para bens destinados às atividades de pesquisa e de lavra das jazidas de petróleo e gás natural -, que, somente em março, somaram US$ 5,821 bilhões – um aumento de 1.664,38% em relação a março de 2020.
No acumulado do ano, a importação de plataformas chegou a US$ 9,284 bilhões, com aumento de 290,63%, na comparação com os três primeiros meses de 2020. “O saldo do trimestre foi afetado muito por uma questão conjuntural, que são essas operações contábeis com plataformas. Em março, se desconsiderássemos essas operações, teríamos um superávit de US$ 7 bilhões e não de US$ 1,4 bilhão”, explicou o subsecretário de Inteligência e Estatísticas de Comércio Exterior, Herlon Brandão. No entanto, frisou, mesmo sem as plataformas ainda há crescimento significativo, de 15,6%, nas importações do mês. “Isso mostra, também, a recuperação da demanda interna”, pontuou Brandão.
De acordo com o subsecretário, a Secex está concluindo um estudo técnico para aprimorar a metodologia das estatísticas em relação à Repetro e outras questões semelhantes. “A maioria dessas operações com plataformas são contábeis e causam essas distorções”, disse, lembrando que instituições como a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Banco Central (BC) aplicam tratamentos diferenciados para esse tipo de operações contábeis.
Commodities em alta
Do lado das exportações, a surpresa em março foi o crescimento das vendas de soja, que ainda não estavam contabilizadas nos resultados da balança em janeiro e fevereiro devido ao atraso na safra. As vendas da oleaginosa chegaram a US$ 5,356 bilhões no mês e US$ 6,511 bilhões no trimestre, crescendo, respectivamente, 36,90% e 11,42%.
Também contribuiu com as exportações o crescimento de economias mais expressivas – como China e Estados Unidos – o que vem pressionando o preço das commodities, tanto do setor extrativo quanto agrícola. No caso do minério de ferro, por exemplo, houve aumento de US$ 105,9% de janeiro a março, alcançando US$ 9,243 bilhões.
Previsões
A Secex também divulgou nesta quinta-feira as previsões para 2021, com expectativa de aumento de 27% nas exportações, chegando a US$ 266,6 bilhões, e de 11,6% nas importações, com US$ 177,2 bilhões. Dessa forma, a corrente de comércio deve subir 20,4%, atingindo US$ 443,8 bilhões, e o saldo – com alta de 75% – pode chegar a US$ 89,4 bilhões. “Seria o maior saldo da série histórica brasileira. Nas exportações também, se confirmadas, será o maior valor exportado pelo Brasil, com recorde da série histórica”, destacou o secretário Lucas Ferraz.
Segundo ele, as estimativas estão em linha com a previsão da Organização Mundial do Comércio (OMC) de que este ano haverá um aumento expressivo do comércio internacional. Se no ano passado houve queda de 5,3% em volume, para 2021 a expectativa da OMC é de um crescimento da ordem de 8%.
“Há toda uma conjuntura mais favorável, evidentemente trazida pela perspectiva de processos de vacinação mais rápidos em todos os países do mundo, sobretudo nos países desenvolvidos e, em menor escala, também em países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, que vem acelerando o seu ritmo de vacinação”, explicou.
Diante desse cenário mais favorável, Ferraz entende que mesmo uma nova onda global da pandemia não deve trazer tanto impacto negativo nas economias como aconteceu no segundo trimestre do ano passado. “Há uma concordância de visões no âmbito internacional de que o impacto negativo tenderá a ser menor, em função de políticas públicas mais bem focalizadas”, justificou.
Além disso, o secretário lembra que não só os governos já tiveram um aprendizado com a crise de 2020, como também os consumidores, que aprenderam a conviver em um ambiente em que o uso de tecnologias se torna mais intenso e mais necessário. “Ainda que tenha um impacto negativo, nós não acreditamos que seja um impacto alto o suficiente para mudar completamente a rota do que nós estamos prevendo neste momento para o final do ano”, afirmou o secretário de Comércio Exterior.