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Coronavírus afeta exportações das cooperativas paranaenses

De calculadora nas mãos, Dilvo Grolli, presidente da Coopavel Cooperativa Agroindustrial, com sede em Cascavel, no Oeste do Paraná, faz contas e mostra com números o impacto do novo coronavírus nos negócios.

Segundo ele, de toda a produção de frangos e suínos da cooperativa, metade vai para o mercado externo. A China é a maior compradora, ficando com 20% do total. O grande problema é que a cadeia logística de distribuição no país asiático está prejudicada, com atraso para descarregamento nos portos, ainda por causa do impacto do Covid-19.

“O atraso no desembarque lá acaba prejudicando todo o processo logístico, com a distribuição para os consumidores finais em todo aquele país e, consequentemente, a saída de novas encomendas daqui”, explica Grolli.

Ainda falando de suínos e frangos, os europeus diminuíram as compras da Coopavel após o início da pandemia e o México, que foi um bom cliente em 2019, ainda não abriu a cota de importações para 2020. Tudo isso, porém, de acordo com o presidente da cooperativa paranaense, até o momento não impactou na produção e no faturamento. “Estamos direcionando para o mercado interno”, resume.

Sobre o planejamento e as perspectivas para os próximos meses, Grolli responde que o momento é de “cautela”.

“Estamos observando, em detalhes, o que está acontecendo na China e em outros países que começaram a ter problemas com a doença há mais tempo, no sentido de ver se haverá controle ou solução. No caso do frango, um pintinho fica 21 dias incubado no ovo e depois mais 45 dias no campo. Ou seja, são 66 dias do nascimento ao abate. Para o suíno, são 115 dias de gestação e outros 150 a 160 dias do nascimento ao abate, um ciclo de 270 a 280 dias. Este é o tempo que a gente leva para mudar a cadeia. Não é do dia para a noite”, enfatiza Grolli.

Em relação às exportações de grãos, a logística está fluindo normalmente, de acordo com o presidente da Coopavel. Em 2019, com a exportação de grãos, derivados de grãos e carnes, a cooperativa faturou US$ 150 milhões. “Ainda não dá para dizer se teremos números melhores ou piores em 2020. O certo é que os próximos 60 dias serão de muita preocupação”, finaliza.

Contêineres retidos
A logística é fator de preocupação também para a C. Vale Cooperativa Agroindustrial, com sede em Palotina, no Oeste do Paraná. O presidente Alfredo Lang afirma que o principal problema causado pelo novo coronavírus é a retenção de contêineres nos portos chineses.

“Nós estávamos enviando os contêineres normalmente quando a epidemia começou na China. Então, eles passaram a restringir a circulação de pessoas e mercadorias. Os contêineres começaram a ficar parados nos portos ou a demorar muito mais do que o normal para chegar aos destinos. Os principais portos chineses ficaram abarrotados e o retorno desses contêineres ficou muito mais lento. Logicamente, com a escassez, o custo da locação subiu. Isso, lentamente, está voltando à normalidade”, explica Lang.

Questionado sobre como vê o cenário para um futuro próximo, o presidente da C. Vale diz que ainda é cedo para ter absoluta clareza.

“O agronegócio brasileiro é um fornecedor de alimentos em grande escala e muito competitivo. Em algum momento, a situação se normaliza e as pessoas voltam às suas atividades, a consumir normalmente. O que a gente não consegue estimar é a duração e o tamanho do impacto sobre a economia. O Brasil e o mundo precisam de alimentos e a gente tem que estar preparado para a retomada”, destaca Lang.

Sem aperto de mãos
Na Cooperativa Agroindustrial Coamo, com sede em Campo Mourão, no Centro-Oeste do Paraná, as negociações com os associados, como uma entrega de soja, por exemplo, costumam ser finalizadas com um forte aperto de mãos. Ou, melhor, costumavam. A norma agora é um aceno com a cabeça e palavras de agradecimento. Nem tapinha nas costas é recomendável.

“Sei que é difícil para os nossos cooperados e os nossos colaboradores mudarem os hábitos. É como se o negócio não tivesse se finalizado. Mas é necessário e estamos em um trabalho intenso de conscientização”, explica Carlos Eduardo Rosa Mildenberger, médico do trabalho e membro do Comitê de Prevenção ao Coronavírus da Coamo.

Liderado pelo presidente do conselho de administração da cooperativa, José Aroldo Gallassini, o comitê tomou iniciativas para evitar a disseminação de casos de Covid-19 entre os oito mil funcionários e 29 mil associados, espalhados por três estados e 71 municípios. Por enquanto, não há informação sobre nenhum caso confirmado. Em torno de 20% dos associados da Coamo têm mais de 60 anos de idade, grupo que tem mais risco de desenvolver quadros graves causados pelo vírus.

“Estamos incentivando a lavagem das mãos e o uso intenso do álcool gel, determinando o afastamento do funcionário com tosse e febre, sem a necessidade de nos apresentar atestado médico, e já adquirimos vacinas contra a gripe, com quatro cepas, para vacinar todos os que trabalham conosco nos próximos dias. A vacina não protege contra o Covid-19, mas diminui os casos de pessoas com sintomas que podem ser confundidos com a nova doença”, explica Mildenberger.

Todos os eventos foram cancelados e estão suspensas as viagens de funcionários da Coamo para o exterior. As participações da empresa em feiras do setor também foram canceladas e até a ginástica laboral dos colaboradores não está acontecendo.

“Nós temos esta responsabilidade social, de orientar, educar e ajudar a evitar um pico do número de contágios, o que seria desastroso. Estamos utilizando todas as mídias para transmitir as nossas mensagens. O mais difícil está sendo a reeducação sobre os contatos pessoais. Um processo doloroso. Nosso povo é afetuoso. Mas insistimos para trocarem os abraços pelos sorrisos”, finaliza o médico.

Fonte: Globo Rural

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