Contrabando, legislação branda e falta de investimento em segurança pública explicam a ocorrência do crime de roubo de cargas
Acompanhado por representantes da Polícia Rodoviária Federal (PRF), da Associação Brasileira de Profissionais de Segurança (ABSEG), o diretor do Departamento de Defesa e Segurança da Fiesp, Flavio Porto, abriu a 5ª edição do Fórum Nacional de Prevenção de Roubo de Cargas, realizada no Hotel Tivoli Mofarrej, em São Paulo. Em pauta, o plano do governo para diminuir os roubos de cargas em rodovias e nos centros urbanos brasileiros.
O Brasil está inserido no grupo de países mais inseguros para transportar carga no mundo. Em 2018, quadrilhas especializadas em roubos de cargas realizaram mais de 22 mil ataques a motoristas em todos os Estados, o que resultou em prejuízo para o setor produtivo estimado em R$ 2 bilhões.
“O roubo de cargas faz parte de um crime organizado muito maior”, advertiu o diretor da Fiesp. “O mercado ilícito já corresponde a quase 20% da nossa economia e é caro e difícil de ser combatido porque integra empresários, políticos e policiais e está conectado a outros tipos de crimes, como descaminho, fraudes veiculares e fraudes fiscais”, acrescentou o especialista.
Porto atribuiu a existência e o crescimento exponencial do roubo de cargas ao contrabando, à legislação branda e à falta de investimento em segurança pública. “A solução para esse tipo de crime é complexa porque todo mundo é causa, consequência e vítima e porque o combate é pontual”, argumentou o diretor.
Como Porto, Autair Iuga , diretor da Associação Brasileira de Profissionais de Segurança (ABSEG), acredita no potencial de uma integração entre os sistemas de inteligência do governo e da iniciativa privada.
“Não existe convergência na apuração desses delitos, então essas informações estão sendo dissipadas”, observou Iuga. “Não adianta saber de forma isolada onde está acontecendo determinado tipo de crime, se não tivermos um núcleo onde as informações sejam tratadas e uma integração entre as polícias, as autoridades, os sindicatos e a sociedade civil organizada, e para isso o governo federal vai ter que investir, assim como Estados e Prefeituras já vêm investindo”, sugeriu.
O representante da Polícia Rodoviária Federal Paulo Monteiro concordou que integração e inteligência são palavras de ordem quando a discussão é combate ao roubo de cargas e lembrou que algumas iniciativas nesse sentido já vêm sendo implementadas, como o Sistema Único de Segurança Pública, instituído em junho de 2018, a Operação Lábaro, iniciada no mesmo ano e aplicada em todo o país.
“Com a Operação Lábaro, agimos em todas as regiões do Brasil simultaneamente e, assim, conseguimos combater crimes interestaduais”, disse Monteiro. “Sem dúvida, conseguimos planejar bem as ações e conquistar resultados consideráveis quando fazemos operações integradas entre polícias, Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado e Ministério Público”, reconheceu o agente.
Embora seja fundamental, garantir integração entre os agentes de segurança não é o bastante para combater o roubo de cargas e, por consequência, exterminar o mercado ilícito. Também é necessário que haja integração na política, de acordo com os participantes.
“Sempre surgem pessoas com ideias brilhantes, mas com as eleições surgem novas políticas, novas determinações, novos prefeitos e novos secretários de segurança, paralisando a máquina e comprometendo as ações que vinham sendo executadas antes”, rechaçou Flavio Porto.
Combate à impunidade e punição aos criminosos completam o quadro de medidas úteis na guerra contra o roubo de cargas. A pena prevista para um indivíduo acusado de envolvimento nesse tipo de crime é de 1 a 4 anos, ou seja, uma pena branda, especialmente se comparada àquela prevista aos enquadrados por tráfico de drogas, equivalente a 15 anos. “O conjunto de causas apontados tem reflexo direto na impunidade e consequentemente na atratividade da atividade ilícita”, ressaltou Porto.
Não menosprezar a gravidade do roubo de cargas e seus praticantes é atacar diretamente o mercado ilícito e o crime organizado, segundo os especialistas que integraram o encontro.
Fonte: FIESP