Conta de luz pode ter bandeira tarifária mais cara a partir de maio, dizem analistas
Chuvas bem abaixo da média histórica na área das hidrelétricas, principal fonte de geração do Brasil, e uma estratégia adotada por geradores devem pressionar custos da energia em 2019, aumentando chances de as contas de luz terem a partir de maio a chamada “bandeira vermelha nível 2”, disseram especialistas à Reuters.
As bandeiras tarifárias aumentam os custos da eletricidade quando saem do patamar verde para o amarelo ou vermelho, dividido em dois níveis, em um mecanismo criado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para sinalizar aos consumidores a maior ou menor oferta.
A definição da bandeira é dada pela agência a cada mês com base nos preços spot da eletricidade, influenciados pelas chuvas, e no nível de produção das hidrelétricas, conhecido no setor pela sigla “GSF”.
O gerente de monitoramento estratégico da comercializadora Esfera Energia, Daniel Ito, explicou que os geradores apostaram em massa em preços da energia mais altos no segundo semestre em 2019 e alocaram a energia que possuem para venda neste ano principalmente partir de maio.
Esse movimento, já visto no passado, foi ainda mais agressivo em 2019, o que na prática deve levar a produção das usinas hídricas a ficar bem abaixo do que elas comprometeram a se entregar nesses meses, diante das chuvas insuficientes para encher os reservatórios.
Haveria assim, a partir de maio, um “déficit hidrológico”, ou GSF abaixo de 1, aumentando chances de acionamento das bandeiras, explicou ele.
“Em maio podemos já passar para bandeira vermelha nível 2, pelo menos vermelha. E em junho, com certeza (seria bandeira vermelha), se continuar esse cenário ruim (de chuvas)”, afirmou Ito, apontando que o mecanismo tarifário poderia seguir no nível mais crítico até novembro.
Por outro lado, a estratégia dos geradores de vender mais energia no segundo semestre favorece uma produção hidrelétrica acima dos volumes comercializados por eles até abril, o que reduz chances de cobrança adicional nesses meses, mesmo diante de chuvas desfavoráveis.
“Nossa expectativa é que até mais ou menos abril a gente vá ter bandeira verde, por mais que o preço (spot) seja elevado”, acrescentou Ito.
O diretor da Energética Comercializadora, Laudenir Pegorini, também avaliou que a estratégia de alocação de energia dos geradores, conhecida como “sazonalização”, aumentará os riscos de sobrecusto com bandeiras tarifárias no segundo semestre.
“Só com isso já nos indica que há uma grande probabilidade de termos bandeira tarifária nível 2 de junho até novembro. Claro que vai depender de São Pedro, se vai chover daqui pra frente, mas, olhando o passado…”, apontou ele.
Os analistas ressaltaram, no entanto, que a regulamentação das bandeiras prevê que a Aneel pode alterar as normas de acionamento a cada mês de abril, o que eventualmente poderia impactar as atuais projeções.
CENÁRIO PIOROU
A bandeira tarifária foi verde em janeiro e fevereiro, apesar de as chuvas no período terem ficado abaixo do previsto, levando a uma disparada nos preços spot da energia.
Se a hidrologia não melhorar, um cenário de bandeira tarifária vermelha a partir de maio ou junho representaria uma frustração de expectativas positivas vistas no final de 2018, quando acreditava-se que as chuvas poderiam ter menos impacto na conta de luz neste ano.
Em 2018, a bandeira tarifária vermelha nível 2 foi acionada em todos os meses de maio a outubro —o que gera um sobrecusto de 5 reais a cada 100 kilowatts-hora para os consumidores.
Após começarem a recuar ainda em meados de dezembro, as chuvas na região das hidrelétricas ficaram em janeiro abaixo de 70 por cento da média histórica, enquanto as projeções para fevereiro apontam para 71 por cento da média no Sudeste, que concentra os maiores reservatórios.
Fonte: Reuters