Consultoria BCG aponta desafios para cadeia de combustíveis avançar em competitividade
A cadeia de combustíveis esteve no centro da crise resultante da paralisação dos caminhoneiros em maio de 2018. Olhando em perspectiva, ficou evidente que os fatores desencadeadores vão muito além dos combustíveis, tendo a greve decorrido sobretudo do reflexo dos incentivos ao financiamento de caminhões. Porém, um aspecto positivo é que o fato lançou luzes para um tema de alta relevância: a necessidade de avanço em direção à maior competitividade do fornecimento de combustíveis – assunto aprofundado pelo Boston Consulting Group (BCG) no relatório Agenda para a Competitividade da Cadeia de Combustíveis no Brasil.
Segundo o estudo da consultoria, existem grandes desafios para aumentar a competitividade da cadeia no Brasil. O primeiro deles está relacionado à formação de preços dos combustíveis. O BCG verificou que os preços e tributos brasileiros mostram-se em linha com práticas internacionais, entretanto, a combinação da participação dos tributos no preço final, associada à sua complexidade, abre espaço para concorrência assimétrica mediante sonegação. Além disso o modelo tributário é pouco capaz de absorver a volatilidade dos preços internacionais dos combustíveis.
O segundo diz respeito à concentração do mercado brasileiro de combustíveis, que nos mostra uma estratificação entre os elos da cadeia. Nessa análise, despontam como elementos críticos a necessidade de maior pluralidade de oferta no suprimento, bem como o acesso à infraestrutura essencial, em particular na importação de derivados.
Uma terceira frente estudada pelo BCG é o impacto da concorrência desleal. Avaliando o peso de atividades ilícitas em R$/l, o BCG constatou que a sonegação e a inadimplência podem significar vantagem de 5% a 30% no preço final do combustível.
A eficiência da cadeia de combustíveis é mais um desafio aprofundado. As análises de ganhos de eficiência no setor apontam para alavancas de ganhos logísticos e nos serviços aos consumidores, seja por economias de escala, pela utilização de modais de alto volume ou por modelos de negócios inovadores com custos mais enxutos. Com isso, a dinâmica competitiva gerará ganhos a serem compartilhados com os consumidores.
Por fim, o último alvo de discussão é a estrutura da cadeia produtiva. Com a aguardada superação de desafios críticos, como a concentração no fornecimento e a redução da complexidade do regime tributário, é esperado que barreiras que ainda existam no setor sejam paulatinamente removidas, a fim de permitir soluções de negócios que façam mais sentido do ponto de vista empresarial e de atendimento aos clientes.
A competitividade é um imperativo para o bom funcionamento dos mercados, em que a concorrência acarreta benefícios aos consumidores e aos empreendedores mais eficientes e inovadores. Mas uma evolução nesse sentido exigirá esforços articulados em torno de frentes interdependentes:
Multiplicidade de oferta no suprimento de derivados: incremento da competição na oferta, evitando práticas de preços desalinhados com o mercado e aumentando a assertividade de novos investimentos no downstream;
Expansão e acesso efetivo à logística primária: viabilizador da concorrência a montante e a jusante, otimizando uso da infraestrutura existente e novos investimentos.
Fortalecimento de práticas leais de concorrência: redução da evasão fiscal e melhoria do ambiente de negócios, resultando na sustentabilidade em termos de qualidade e nível de serviço.
Aumento da eficiência setorial: busca contínua de soluções para atendimento ao consumidor com menores custos.
Remoção de barreiras regulatórias: flexibilidade para arranjos competitivos, favorecendo empreendedores e consumidores.
“Esses são alguns dos caminhos que vemos para levar a indústria a um novo patamar. Em nossa visão, uma agenda como essa traria reflexos positivos tanto para consumidores quanto investidores, atraindo investimentos para a expansão continuada da oferta de produtos e infraestrutura. Porém, devido ao tamanho e impacto dessas mudanças, uma transição deve ser muito bem estruturada e planejada em fases, assegurando benefícios e mitigando riscos de descontinuidades e desequilíbrios”, destaca André Pinto, sócio do BCG e um dos autores do estudo.
Fonte: TN Petróleo