Construção civil prevê maior crescimento desde 2013, apesar do descontrole de preços e da falta de aço no mercado
O descontrole do preço e o desabastecimento do aço vendido pelas siderúrgicas brasileiras continuam sendo o grande empecilho para o crescimento mais acelerado da indústria da construção civil brasileira, que começou 2021 com expectativa de crescer 4% no ano. Com os desafios decorrentes da pandemia e a continuidades dos aumentos nos custos dos materiais, esse número foi reduzido para 2,5%, em março.
Agora, apesar da capacidade de produção limitada, principalmente em função do aço, a expectativa da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) para o PIB do setor voltou a subir para 4%, o que seria seu maior crescimento desde 2013. As informações fazem parte do estudo Desempenho Econômico da Indústria da Construção do 2º trimestre de 2021, realizado pela CBIC.
Em junho, o nível de atividade do setor atingiu 51 pontos. Foi o melhor desempenho desde setembro do ano passado (51,2 pontos) e também o melhor mês de junho desde 2011, quando o indicador alcançou 51,7 pontos. O resultado alcançado em junho de 2021 também foi o melhor observado no primeiro semestre do ano e é superior à média histórica do índice (45,6 pontos). Os números são da Sondagem Indústria da Construção, realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) com o apoio da CBIC.
Para o presidente da CBIC, José Carlos Martins, apesar dos resultados positivos, a construção está crescendo bem abaixo de sua capacidade: “A construção é como uma Ferrari com freio de mão puxado. Poderia ser um ano histórico em termos de crescimento e contratação de trabalhadores. Mas alguns fatores, como o aumento dos insumos, criaram temor nos empresários e acabou que não estamos com a atividade que poderíamos estar.”
A falta ou o alto custo de matéria-prima continua sendo o principal problema enfrentado pelos empresários da construção pelo quarto trimestre consecutivo, alcançando 55,5% dos pesquisados na Sondagem. Desde o 3º trimestre de 2020, o setor vem sentindo os efeitos do aumento expressivo nos custos dos seus insumos. O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), calculado e divulgado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), acumulou, nos últimos 12 meses encerrados em junho, alta de 17,36%. Esse resultado é justificado pelo incremento expressivo no custo com materiais e equipamentos, que no mesmo período registrou alta de 34,09%. Trata-se de um recorde histórico para o período desde que a série começou a ser divulgada pela FGV, em 1996.
A elevada carga tributária foi apontada pelos empresários como o segundo principal problema enfrentado no 2º trimestre de 2021. Na comparação com o trimestre passado, esse foi o item com maior crescimento nas assinalações, passando de 24,7% para 31,5%. De acordo com a Sondagem Indústria da Construção, as expectativas dos empresários do setor permanecem positivas em julho, apesar de menos intensas do que em junho. Considerando a melhora nas atividades no final do 2º trimestre e a manutenção do nível de atividade atual, a expectativa é que o PIB do setor poderá registrar alta de 4% em 2021. Caso confirmado, esse será o melhor desempenho da construção desde 2013, quando o crescimento foi de 4,5%.
O incremento do financiamento imobiliário, as taxas de juros ainda em baixo patamar, a melhora do ambiente econômico, a demanda consistente, mesmo diante da pandemia, e a continuidade de pequenas obras e reformas são algumas das razões que ajudam a justificar a projeção atual. Segundo a economista da CBIC, Ieda Vasconcelos, essa melhora não significaria um forte crescimento. “É preciso considerar que de 2014 até 2020 o setor acumulou uma queda de 33,34%. E mesmo com o crescimento de 4% em 2021, a retração desse período continuará superior a 30%, o que é bastante expressivo. A construção precisará continuar a crescer mais alguns anos nessa intensidade para que a recuperação total aconteça.”
A média do Índice do Nível de Atividade para o setor, no 2º trimestre de 2021, foi a melhor, para o período, desde 2012. A demanda consistente por imóvel, as baixas taxas de juros, o incremento do crédito imobiliário, o novo significado da casa própria para as famílias e a melhora nas expectativas para a economia são alguns dos fatores que ajudam a explicar esse resultado. Desagregando o indicador do Nível de Atividade da Construção por segmento, observa-se que o maior ritmo está na Construção de Edifícios, enquanto as Obras de Infraestrutura e os Serviços Especializados, apesar do incremento observado nos últimos meses, ainda estão em patamares de queda.
A Utilização da Capacidade Operacional (UCO) das empresas de construção cresceu um ponto percentual em junho, em relação a maio, e atingiu o seu maior patamar (64%) desde novembro de 2014 (66%). O resultado também é superior à média histórica do indicador (62%). Marcelo Souza Azevedo, gerente de análise econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), diz que a combinação de percepção de uma situação melhor e a expectativa progressiva de melhoria é o que reflete na confiança do empresário: “O aumento dos materiais é um entrave não só da construção civil, mas de toda indústria da transformação, que também vem sendo afetada. Antes, o principal problema relatado pelos empresários era o percentual de carga tributária e agora é a questão do aumento dos insumos. Essa situação segura um pouco as expectativas, mas ainda há confiança apesar da acomodação nos últimos meses.”
A construção finalizou o mês de maio com 2,430 milhões de trabalhadores com carteira assinada, de acordo com dados do Ministério da Economia. Em maio de 2020, esse número correspondia a 2,113 milhões. Assim, o incremento no estoque de trabalhadores no setor em um ano foi de 15,01%. Nos primeiros cinco meses de 2021, a construção gerou 156.693 novos postos de trabalho com carteira assinada. Usando como referência os resultados do Caged e do Novo Caged, observa-se que este foi o melhor resultado, para o período, desde 2012. A expectativa é que o setor gere 350 mil novos empregos em 2021. De acordo com o presidente da CBIC, sem os entraves que impedem um crescimento mais acentuado a construção poderia gerar 600 mil novos postos de trabalho este ano: “O número de trabalhadores com carteira assinada comprova essa expectativa de ascensão, pois mão de obra não se estoca. Se dividir o saldo positivo de 317 mil novas vagas que tivemos em 12 meses pelo número de dias úteis, 1.250 novos trabalhadores foram contratados por dia. Ou seja, são 1.250 famílias que passaram a ter seu sustento via construção civil. E quando geramos 1.250 empregos por dia, podemos multiplicar por 1,5 de empregos indiretos, o que significa um grande apoio para a economia do Brasil, ajudando na recuperação do país em um momento tão difícil como esse de pandemia.”
Fonte: Petro Notícias