Oil & Gas

Com avanço de carros elétricos e híbridos, petroleiras correm para fazer combustível verde

O crescente cerco às emissões de carbono dos automóveis tradicionais tem levado petroleiras a aumentarem os investimentos em combustíveis verdes, com uma combinação de óleos vegetais e petróleo durante o processo de refino. O movimento, acelerado pela pandemia do coronavírus, ocorre ao mesmo tempo em que diversos países desenvolvem políticas para eliminar carros movidos a gasolina e diesel ao longo desta década.

No Brasil, a Petrobras está à frente dessa tendência. A companhia pretende investir US$ 1 bilhão, nos próximos cinco anos, em uma área de combustíveis verdes. A estatal já desenvolveu o chamado diesel renovável e só espera regulamentação do governo para vender o novo combustível ao setor de transporte de carga.

A expectativa do mercado é que o governo defina as regras de uso ainda neste semestre, já que o diesel renovável não demanda mudança no motor dos veículos.

A Petrobras ainda pretende produzir querosene de aviação renovável (bioQav), além de, no futuro, desenvolver gasolina de nafta renovável com etanol. Para isso, a estatal estuda construir biorrefinarias no país e atualizar algumas refinarias para os novos combustíveis.

Para Márcio Felix, presidente da EnP Energy, os combustíveis verdes podem ajudar no processo de transição dos carros com motor a combustão para veículos híbridos e elétricos. Os combustíveis verdes podem ser, para o Brasil, uma oportunidade em uma área na qual já tem experiência e competitividade.

— Vivemos hoje uma disputa sobre qual modelo vamos ter no futuro, se serão os carros elétricos, os híbridos ou aqueles com combustíveis verdes. Ainda não sabemos qual será o modelo vencedor — afirma Felix, que foi secretário executivo do Ministério de Minas e Energia no governo Michel Temer.

Planos para biorrefinarias
O diesel renovável da Petrobras tem como matérias-primas óleos vegetais e gorduras animais, que, no refino, são combinadas com o diesel comum. É a mesma matéria-prima do biodiesel, que é misturado ao diesel vendido nos postos. A diferença é que o diesel renovável usa uma reação com hidrogênio que permite, dizem estudos, reduzir a emissão de gases em 15% em relação ao biodiesel.

— O diesel renovável veio para ficar e vai concorrer com o biodiesel — diz Ricardo Pinto, consultor sênior da Petrobras.

A estatal está vendendo parte de suas refinarias, o que vai acabar com a concentração de mercado e pode abrir espaço para que outras companhias do setor invistam em combustíveis verdes no país. O diesel renovável é o que mais cresce no mundo em termos percentuais, embora, em vendas, esteja atrás do etanol e do biodiesel.

Na Europa, entre 2010 e 2019, o uso do diesel renovável avançou 31%, segundo dados da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva. Nos Estados Unidos, a previsão é que a produção de diesel renovável aumente 49% só neste ano, frente a 2020.

Para Valéria Lima, diretora do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), o Brasil, apesar de ter gasolina com 27% de etanol e diesel com 12% de biodiesel, ainda está atrasado na agenda ambiental do setor:

— Esses movimentos buscam a descarbonização da matriz de transporte. O diesel renovável é uma evolução tecnológica. Não podemos ficar reféns só de uma tecnologia.

Petroleiras ampliam portfólio
O movimento da Petrobras é seguido por outras petroleiras no mundo. A britânica BP tem a ambição de ter 20% do mercado global de biocombustível de aviação até 2030. A italiana Eni está transformando em biorrefinaria sua unidade no Porto Marghera, em Veneza, na Itália.

Na França, a Total — que pediu para se desligar da American Petroleum Institute (API), associação de petroleiras que faz lobby junto ao governo americano, por divergências em relação às políticas climáticas do grupo — já conta com uma biorrefinaria desde 2019.

No interior de São Paulo, a Raízen, controlada por Shell e Cosan, inaugurou recentemente sua primeira planta de biogás, que usa resíduos de cana para gerar energia e gás biometano, usado para substituir o diesel em frotas pesadas:

— Investimos no etanol de segunda geração, um biocombustível produzido por meio da biomassa da cana. Este produto é fundamental para a evolução da matriz energética e para a economia global de baixo carbono — diz Claudio Oliveira, vice-presidente de Relações Institucionais da Raízen.

Ele ressalta, porém, que são necessárias políticas públicas para incentivar essa descarbonização dos transportes. Em nota, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) informou que o Comitê Nacional de Política Energética (CNPE) instituiu grupo de trabalho para analisar e opinar sobre a inserção de biocombustíveis no ciclo diesel no âmbito da Política Energética Nacional.

Segundo o MME, assim que a ANP finalizar o processo de regulamentação, o diesel verde poderá ser usado.

 

 

 

Fonte: O Globo

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