Colheita atrasa, venda de soja cai 50%, e agro perde participação nas exportações
Os dados da balança comercial do primeiro bimestre deste ano, divulgados nesta segunda-feira (1º), mostraram o quanto o agronegócio é dependente da soja.
O volume exportado desse produto caiu 50% em janeiro e fevereiro, em relação a igual período do ano passado. Com isso, a participação da agropecuária nas exportações, que foi de 15% no primeiro bimestre de 2020, recuou para 12,8% neste ano.
A ausência da soja nos portos brasileiros fez com que as exportações totais da agropecuária recuassem para US$ 2,39 bilhões no ano, 11% menos do que em igual período de 2020.
Em valores, as exportações de soja recuaram 45%, e as importações aumentaram 122%, de acordo com dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior).
O agronegócio começa o ano com as exportações patinando, mas esse ritmo deverá ter mudanças a partir deste mês. O atraso na colheita, provocada pelo plantio tardio, escasseou a soja nos portos. A partir de agora, as vendas externas tomam um ritmo mais acelerado.
O segmento de açúcar continua a recuperação ensaiada no ano passado e é um dos mais dinâmicos do agronegócio neste ano. A demanda externa aquecida e as previsões de redução da oferta do produto no mercado internacional permitiram ao Brasil colocar 4 milhões de toneladas no mercado externo no primeiro bimestre, 38% mais do que em 2020.
Problemas climáticos em países concorrentes e uma possível interferência do governo nos preços dos combustíveis —que, se realmente houver, prejudicará o etanol— vão dar sustentação à produção açúcar neste ano.
Além de elevar as vendas externas, o exportador está recebendo, em média, 10% a mais pelo produto, segundo os dados da Secex.
Internamente, a saca de 50 quilos está sendo negociada a R$ 110, com aumento de 36% em 12 meses, segundo dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
O setor de proteínas, o segundo maior na balança do agronegócio, também perde fôlego neste ano. As exportações de carne bovina recuaram 3%, e as de aves, 1,4%.
As vendas externas de carne suína, após avanços recordes no ano passado, também perdem ritmo devido a uma recuperação do setor de suinocultura na China, maior importador mundial dessa proteína. Os preços das carnes recuaram neste ano, principalmente os de aves e suínos.
Ao contrário das exportações, as importações de alimentos crescem. A evolução no primeiro bimestre foi de 19%, em relação a 2020. Trigo, milho e soja encabeçam a lista. Após ter esgotado os estoques de soja e ter reduzido os de milho, o Brasil gastou 122% a mais com as compras externas da oleaginosa no primeiro bimestre e 150% a mais na importação do cereal.
A expansão da agricultura brasileira força o país a elevar também as importações de insumos usados nas lavouras. Com boa renda há vários anos, os produtores aumentaram a área de plantio e elevaram os gastos para obter melhor produtividade.
Para atender essa demanda, as indústrias de fertilizantes já trouxeram 5,7 milhões de toneladas do produto do exterior neste ano, 50% acima do volume de igual período do ano passado. Os gastos somam US$ 1,1 bilhão.
As importações de agrotóxicos também crescem. As indústrias colocaram 50,3 mil toneladas desses produtos no país no primeiro bimestre, 3% mais do que em 2020.
Fonte: Folha SP