Cenário da Navegação no Brasil
A operação marítima de transportes de cargas realizada por empresas de navegação movimentou em 2022 cerca de 1,2 bilhão de toneladas. O maior volume foi realizado pela navegação de longo curso, que representou cerca de 71,6% do total, seguido pela cabotagem, com estimados 22,2%, e a navegação interior com 6%. Esses números, estimados a partir de estatísticas da Antaq, apresentam a relevância das exportações de petróleo, grãos e minério de ferro. Itens que representam os maiores volumes enviados ao exterior, em sua maioria através de empresas internacionais, e dos petroleiros da Transpetro.
Nas importações e na cabotagem, o destaque foi o crescimento das operações com contêineres. As importações da China são 55% em contêineres. A carga em contêineres movimenta empresas brasileiras de cabotagem que os distribuem para portos menores (não concentradores). As operadoras internacionais de contêineres que dominam a exportação, a importação e as linhas feeders são a MSC com Log-In (adquirida em 2022); Maersk com a Aliança Logística; e CM CGM com a Mercosul Line.
A MSC, fundada em 1970, com sede em Genebra, na Suíça, em 2022 foi considerada a maior operadora mundial de contêineres, ultrapassando a Maersk, e adquiriu o controle da brasileira Log-In, ampliando suas operações no Brasil. Opera 730 navios, em mais de 260 rotas, atendendo 520 portos, movimenta 23 milhões TEUs/ano e emprega 150 mil pessoas. A Maersk, com sede na Dinamarca, foi fundada em 1904, opera 380 navios, movimenta 12 milhões de TEUs/ano, atendendo a 300 portos no mundo.
No Brasil controla a Aliança Navegação e Logística. Através da subsidiária APM opera terminais de contêineres nos portos de Pecém (CE) e Itajaí (SC). Com sócios brasileiros controla, o Porto de Itapoá. Em 2022, a APM adquiriu em leilão área no estaleiro Atlântico Sul (PE) para operação de terminais de contêineres. A CMA CGM opera 584 navios, atendendo 420 portos e movimenta 22 milhões de contêineres/ano e emprega 150 mil pessoas. É acionista controladora da brasileira Mercosul Line.
São nove as empresas brasileiras de cabotagem associadas à Associação Brasileira de Armadores de Cabotagem (Abac): Aliança Navegação e Logística Ltda., Companhia de Navegação Norsul, Empresa de Navegação Elcano S.A., Flumar Transporte de Químicos e Gases Ltda, Hidrovias do Brasil – Cabotagem Ltda., Log-In Logística Intermodal S.A, Mercosul Line Navegação e Logística Ltda., Petrobras Transporte S.A. – Transpetro e Lyra Navegação Marítima. A Transpetro é a maior, com 33 navios, sendo 11 Suezmax; 4 Aframax; 3 Panamax; 4 Produtos, 6 Gaseiros e 5 aliviadores (transportam petróleo das plataformas de produção offshore para terminais no continente).
A Antaq informa que as principais mercadorias movimentadas na cabotagem em participação, no terceiro trimestre de 2022, foram: derivados de petróleo (48,5%), petróleo bruto (14,7%), contêineres (13,7%) e bauxita (10,6%). Demonstra a importância da Transpetro na cabotagem brasileira. Além disso, a Transpetro atua no transporte transoceânico das exportações brasileiras de petróleo. Sendo a empresa brasileira de navegação com relevante operação no transporte de longo curso.
O Banco Mundial publicou em janeiro de 2023 o Global Economic Propects com a previsão que o crescimento da economia mundial vai sofrer uma desaceleração para 1,7 %, a menor taxa de expansão das últimas três décadas. É o resultado esperado das políticas monetárias restritivas, aplicadas de forma geral pelos governos para combater a inflação. As publicações especializadas estimam que haverá uma redução do comércio mundial, como reflexo da redução das economias. O Banco Mundial é especialmente pessimista com às economias emergentes. Porém, alguns analistas preferem notar algumas características que podem minimizar impactos para a navegação brasileira.
Deve ser observada a situação da produção de petróleo, que no Brasil está em expansão e com volumes expressivos de investimentos. Relatório da Westwood, divulgado agora em janeiro, aponta que existem 75 a 85 poços de petróleo em perfuração ou em processo de iniciar perfurações, sendo que na América do Sul o Suriname-Guyana e o Brasil continuam sendo as regiões que lideram pelo volume investimentos previstos. Para a navegação de apoio marítimo, a notícia confirma as expectativas de um mercado em expansão 2023.
Na navegação interior, a expansão deve prosseguir, impulsionada pela mudança o eixo logístico de exportação de grãos pelos portos do Arco Norte, na bacia do Rio Amazonas. Na navegação de cabotagem, a expansão resulta da uma nova situação de custos logísticos competitivos para abastecimento das regiões do Norte e Nordeste. No longo curso, vemos que a inserção internacional dos fluxos de comercio do Brasil representam cerca de 18% do PIB, um dos baixos entre os países da América Latina.
Além disso, o que observamos ao pesquisar as grandes operadoras de transporte marítimo em operação no país é o aumento de seus investimentos.
Fonte: Ivan Leão é diretor da Ivens Consult