Arqueólogo diz que ‘navio misterioso’ revela mais detalhes a cada recuo da maré em SP
Estrutura voltou a aparecer na praia do Embaré, em Santos, após a baixa da maré desta terça-feira (21). Grupo de pesquisa monitora local mensalmente, mas não conseguiu captar recursos para dar inicio à projeto de escavação.
Uma equipe de arqueólogos do Centro Regional de Pesquisas Arqueológicas esteve no local onde destroços de um navio, encalhado na praia do Embaré, voltaram a aparecer em Santos, no litoral de São Paulo, nesta semana. O G1 conversou, nesta quinta-feira (23), com o arqueólogo que lidera o grupo de pesquisa, Manoel Gonzalez, sobre a embarcação.
Segundo o arqueólogo, a tentativa de executar o projeto de escavação dos destroços foi suspensa no fim do ano passado. “Não conseguimos verba para realizar os estudos, pois não existiu nenhuma preocupação para financiar este trabalho”, explica. O grupo precisaria captar cerca de R$ 2 milhões para que o projeto fosse aceito pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Mesmo assim, o especialista afirma que o trabalho não foi abandonado. “Apenas paramos as pesquisas aprofundadas, mas os monitoramentos constantes continuam, mês a mês.” Os monitoramentos são para avaliar como a subida e descida da maré afeta o material. “Até o momento não notamos alterações relevantes. Como está submerso, ele está sendo bem conservado”
“Observamos que a cada descida da maré, mais material aparece. No início, eram apenas cinco centímetros expostos, agora já lidamos com 40 centímetros de destroços expostos ao ambiente”, conta o pesquisador.
“Nós temos uma história naval na região muito rica, não apenas pelo porto, mas desde a colonização do Brasil. Quando nós encontramos embarcações naufragadas, retomamos o processo de transição dos navios e embarcações que ocorreram durante a História”, explica. “Podemos descobrir como foi feita a construção, resgatar como era o dia a dia dos marinheiros que navegavam nelas. Conseguimos também preencher lacunas que ainda temos na evolução, encontrando indícios que corroboram ou que criam outras histórias a partir das descobertas.”
Veleiro Kestrel
A hipótese considerada como ‘mais provável’ pelo grupo de pesquisas é que os destroços sejam do veleiro inglês Kestrel, que encalhou em 11 de fevereiro de 1895, na mesma região onde o barco foi encontrado,. “É a hipótese mais provável, mas não podemos ter certeza sem a escavação”, diz o arqueólogo.
De acordo com uma publicação da época, o encalhe do Krestel ocorreu pela ausência de um capitão a bordo. Uma ventania levou a embarcação à praia e um rebocador que navegava pela barra da cidade ainda tentou fazer o resgate, sem sucesso.
Além disso, um objeto de metal de seis metros de comprimento foi encontrado dentro da embarcação, após sondagem da área com sonar. O grupo de pesquisas chegou a acreditar que poderia ser uma caldeira ou até um canhão, mas as hipóteses foram descartadas.
As imagens mostraram, ainda, que a proa do navio (parte frontal) está na direção de São Vicente e que a popa (parte traseira) está próxima ao Canal 5, mas que não encosta ou passa por baixo da estrutura, construída em 1927.
Baixa da maré
De acordo com a Prefeitura de Santos, a baixa da maré fez com que a estrutura, que se assemelha a um casco de navio, composta de pedaços de madeira e metal com mais de 50 metros de comprimento, ficasse exposta, atraindo a atenção dos moradores. Ocasionalmente, partes do navio acabam ficando expostas mas, nesta semana, a carcaça completa passou a ser exibida.