Opinião

Aeroporto de Guarulhos: Infraestrutura impacta competitividade e exige soluções urgentes

Em um período em que a economia global exige eficiência para se destacar, o Brasil não pode se dar ao luxo de ser ultrapassado por problemas internos de logística.

O aeroporto de Guarulhos, um dos terminais de carga aérea mais movimentados do Brasil, enfrenta problemas críticos de infraestrutura que afetam diretamente a operação logística e impactam gravemente empresas que dependem de agilidade e precisão. Essa situação levanta uma questão essencial: o Brasil está preparado para lidar com a crescente demanda de importação e exportação no mercado globalizado?

A resposta, infelizmente, parece pender para o negativo. A sobrecarga do terminal de Guarulhos se tornou um gargalo logístico, acumulando cargas que, em vez de seguirem diretamente para a linha de produção ou distribuição, aguardam em longas filas, expostas até mesmo ao clima, resultando em avarias e desperdício. A questão aqui não é apenas a capacidade dos armazéns, que operam além do limite — o problema maior é estrutural. Sem investimentos consistentes e modernização do terminal, a logística fica refém de suas próprias limitações.

Essa situação impõe ao importador custos adicionais que vão além do transporte aéreo, já tradicionalmente mais caro. Imagine o cenário de uma empresa que, para suprir a demanda da Black Friday, paga um frete premium apenas para encontrar suas mercadorias paradas em Guarulhos, expondo-se a riscos de perda de prazo e qualidade. O efeito em cascata é evidente: os preços das tarifas aéreas aumentam, o que eleva o custo final do produto e, em última análise, prejudica a competitividade das empresas brasileiras.

Em termos práticos, Guarulhos sofre com uma demanda que já não comporta, o que tem levado companhias aéreas a buscarem alternativas em outros terminais, como Viracopos, em Campinas, e essa migração oferece uma válvula de escape. No entanto, mesmo essa alternativa apresenta desafios logísticos e limitações, visto que outros aeroportos brasileiros não foram projetados para absorver o fluxo extra. A situação, portanto, é paliativa e não uma solução definitiva.

Buscar soluções concretas e de longo prazo é fundamental para que o comércio exterior brasileiro possa competir globalmente. Em primeiro lugar, é imperativo que Guarulhos passe por uma expansão que considere a sua posição estratégica no comércio exterior brasileiro.

A ampliação de armazéns e melhorias nas operações internas devem ser realizadas com urgência para evitar o acúmulo de cargas e reduzir a incidência de backlog. Além disso, incentivar o uso de outros aeroportos próximos, como Viracopos e Confins, pode aliviar a pressão sobre Guarulhos, mas é necessário um planejamento para distribuir melhor os voos de carga entre diferentes regiões. Assim, a modernização e otimização desses terminais são indispensáveis para evitar que sobrecarreguem.

Outro ponto fundamental é a adoção de planos contingenciais, pois a falta de previsibilidade é um agravante. Se Guarulhos tivesse um plano de contingência sólido para lidar com picos sazonais, como Black Friday e Natal, importadores e exportadores teriam a segurança de que as operações seriam mantidas sob controle. Investir em soluções emergenciais para infraestrutura e agilidade em épocas de alta demanda pode reduzir significativamente o impacto do caos logístico.

Além disso, a adoção de sistemas automatizados para o controle de cargas e rastreamento é fundamental. O uso de tecnologias avançadas pode reduzir o tempo de processamento e localização de mercadorias, facilitando a logística tanto para os agentes de carga quanto para os importadores. Investimentos em soluções tecnológicas devem ser prioridade, já que contribuem para minimizar as dificuldades operacionais.

A situação do terminal de Guarulhos reflete um cenário maior de atraso no setor logístico brasileiro, o que compromete a competitividade das empresas nacionais no mercado global. Um comércio exterior que precisa lidar constantemente com entraves e custos altos perde atratividade frente a países com infraestrutura moderna e competitiva.

Em um período em que a economia global exige eficiência para se destacar, o Brasil não pode se dar ao luxo de ser ultrapassado por problemas internos de logística. Sem ações concretas para melhorar Guarulhos e oferecer alternativas viáveis aos importadores e exportadores, o comércio exterior brasileiro permanecerá vulnerável a prejuízos econômicos e logísticos. Mais do que uma infraestrutura funcional, o setor precisa de visão estratégica e investimentos adequados. Afinal, a competitividade não é construída apenas com produtos de qualidade, mas com eficiência em cada etapa do processo.

Essa transformação não é apenas uma responsabilidade do setor público. Agentes de carga e empresas privadas também podem e devem pressionar para que o Brasil avance rumo a uma logística mais eficiente e moderna. O comércio exterior depende diretamente de uma infraestrutura forte, capaz de atender à crescente demanda e competir em um mercado global cada vez mais dinâmico.

 

 

Fonte: Rogerio Giacomini é Air Freight Director da Skymarine

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