Opinião

A política externa brasileira deve buscar maior alinhamento com os EUA? SIM

Adriano Gianturco e Lucas Azambuja
No mundo ideal, a política externa é pautada por princípios e valores, não há alianças fixas com ninguém e se olha caso por caso; as nações oprimidas têm líderes políticos democratas que se erguem contra os abusos das grandes potências. A realidade é bem diferente: no sistema internacional se lida com os interesses específicos dos grupos governantes, e é preciso escolher.

Os governos petistas escolheram a cooperação “Sul-Sul”, fazendo alianças motivadas por concepções antiamericanistas e terceiro-mundistas, além de uma aliança socialista latino-americana materializada em organismos como Alba, Unasul e o Foro de São Paulo.

O Mercosul foi altamente politizado e desviado de seu objetivo originário. Assim, nos aproximamos de regimes autoritários como Irã, China, Angola, Moçambique, Venezuela e Cuba.

Os resultados não foram positivos. O Brasil teve ativos confiscados no exterior, como a refinaria da Petrobras na Bolívia; 20% dos contratos do BNDES para obras no exterior foram decretados sigilosos e abrangem obras suspeitas, como a mansão do ditador angolano, o porto de Mariel, em Cuba, e o aeroporto fantasma em Moçambique, mostrando-se parte de um esquema internacional de corrupção.

Agora, muitos desses governos beneficiados estão declarando calote que chagam a dezenas de bilhões de dólares que serão pagos por nós. E ainda é preciso que se investigue o caso da apreensão da mala do filho do ditador da Guiné Equatorial com milhões de dólares.

O comércio com a China resultou em superávit com a exportação de commodities, porém ao preço da desindustrialização. Dilma escolheu não entrar no Acordo Trans-Pacífico porque um acordo comercial com países ricos nos prejudicaria! O marxismo delineia o horizonte mental antiocidental, e a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, vinculada à ONU) dá as justificativas econômicas.

Simplificando, os blocos de poder relevantes hoje são liderados pelos EUA, China, Rússia e o mundo árabe; portanto, essas são as opções. China, Rússia e países árabes não são países livres, na verdade são ditaduras, que violam os direitos humanos.

Alguns podem até elogiar esses países, mas ninguém demonstra isso de fato indo viver lá. EUA e Europa (o chamado Ocidente) não são sociedades perfeitas, mas de longe as mais livres, igualitárias e prósperas em toda a história.

A escolha entre se aproximar do Ocidente ou da China e África é a escolha entre se alinhar com regimes democráticos ou com ditaduras. Pragmaticamente, nossa economia compete menos com as economias avançadas do que com outros países de renda média.

Comercialmente, por exemplo, a atuação da China tem sido marcada por práticas agressivas como roubo de propriedade intelectual e medidas protecionistas, ou seja, menos conforme às regras do livre comércio do que o Ocidente. A escolha não deve se pautar em concepções ideológico-partidárias, mas em elementos mais estruturais como a natureza do regime político, o respeito aos direitos humanos, ao livre-comércio e ao Estado de Direito.

Os EUA são o principal destino dos emigrantes brasileiros (dados de 2010 do IBGE); muitos outros se mudam para Canadá, Austrália e Nova Zelândia. Ninguém quer emigrar para o Irã, Angola, Venezuela, Cuba. As pessoas tentam fugir de lá! Por que a política externa deveria ir em sentido oposto? Os brasileiros já escolheram o Ocidente.

Tudo isso não precisaria nem ser objeto de debate. Quando muda o governo na França ou no Canadá, ninguém pensa em se aliar com Venezuela, Cuba, Angola ou Irã. É hora de escolher se queremos fazer parte do mundo mais livre ou do menos livre, do lado menos pior ou do lado pior.

Adriano Gianturco
Coordenador do curso de relações internacionais no Ibmec-MG

Lucas Azambuja
Doutor em sociologia pela USP e professor titular no Ibmec-MG

Fonte: Folha de S. Paulo

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