Rota de saída
Sem sinais de recuperação forte da economia brasileiro em curto prazo, as empresas nacionais estão exportando mais. Entre janeiro e abril deste ano, as vendas para fora do País foram as maiores desde 1997.
O turista brasileiro se tornou persona non grata nos cinco continentes por causa do agravamento da pandemia no País, mas os produtos Made in Brazil ESestão marcando presença mundo afora. Por oportunidade ou necessidade, as empresas brasileiras exportaram US$ 82,1 bilhões na soma de janeiro a abril deste ano, alta de 26,6% sobre um ano antes e o maior desde 1997, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério da Economia.
Como as importações ficaram em US$ 63,8 bilhões no mesmo período – avanço de 14% na mesma base de comparação –, a balança comercial brasileira teve saldo positivo de US$ 18,2 bilhões, disparada de 106,4% sobre o mesmo período de 2020. Até então, o maior saldo positivo foi em julho de 2020 (US$ 7,6 bilhões).
A desvalorização do real, que barateia o preço dos produtos brasileiros no exterior, e o represamento da atividade industrial no ano passado, por causa da pandemia nas maiores economias, ajudam a explicar o fenômeno da multiplicação das vendas para o mercado internacional.
“Países da Ásia sofreram pouco os efeitos da pandemia e continuaram a comprar produtos brasileiros, principalmente agrícolas, alimentícios”, afirmou o subsecretário de Inteligência e Estatísticas de Comércio Exterior, Herlon Brandão. “É natural que em um contexto de recuperação econômica internacional haja demanda crescente.”
A performance brasileira no comércio global não chama a atenção apenas pelos porcentuais de dois ou três dígitos no primeiro quadrimestre do ano, mas pelo fato de estar acelerando. Em abril, as exportações atingiram US$ 26,4 bilhões, crescimento de 50,5% sobre o resultado do mesmo mês de 2020. Já as importações alcançaram US$ 16,131 bilhões e tiveram aumento de 41,1% sobre abril do ano passado.
Segundo o economista Welber Barral, estrategista de comércio exterior do Banco Ourinvest, os exportadores estão, aproveitando o atual nível de câmbio para aumentar as vendas para fora e ampliar suas escalas de produção. “As empresas têm se beneficiado do dólar caro, da alta da demanda global por commodities e da valorização na cotação internacional de insumos como petróleo, soja e milho.”
O agronegócio é, de fato, uma das estrelas da balança comercial brasileira neste ano. Em abril, as exportações do setor cresceram 44,37% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Os produtos do campo só ficaram atrás, porcentualmente, da indústria extrativa, que contabilizou alta de 73,22%. Na avaliação do economista Diogo Coelho, professor de comércio exterior, o Brasil acabou sendo beneficiado mais pela conjuntura externa do que pelo aumento da competitividade das empresas. “Em produtos manufaturados, continuamos sem condições de concorrer com qualquer economia da Ásia.”
BOM PARA NAVEGAR Mesmo sem condições de bater de frente, o cenário de exportação está mais favorável para as fabricantes de bens de consumo como calçados, vestuário, artigos de higiene e beleza e alimentos industrializados, com destino principalmente a países como Estados Unidos e China. Em março, o setor calçadista faturou US$ 70,84 milhões com a exportação de 12,3 milhões de pares, salto de 38,5% sobre um ano antes. Na comparação com fevereiro, a expansão foi de 23,3% em volume e de 15% em receita. Para Haroldo Ferreira, presidente da associação do setor, a Abicalçados, o resultado simboliza a normalização no mercado internacional, que ocorre com o avanço da vacinação em massa, principalmente nos EUA. A expectativa é de aumento de 13% em volume em relação a 2020, mas ainda abaixo de 2019.
No mesmo caminho, a indústria brasileira de alimentos ganha corpo no mercado internacional. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), a alta na exportação é de 14,1% no primeiro trimestre no confronto ao mesmo período de 2020. Para as fabricantes de massas secas, biscoitos, bolos e pães industrializados, o mercado externo deve crescer 15% no primeiro semestre na comparação com igual período de 2020. Já na área de beleza e higiene pessoal, as exportações avançaram 3,6% no primeiro trimestre, para
US$ 148,5 milhões, enquanto o setor têxtil aumentou em 11%, segundo Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).
Diante desse desempenho positivo, o País deve encerrar 2021 com um superávit de US$ 89,4 bilhões, resultado de US$ 266,6 bilhões em exportações e US$ 177,2 bilhões em importações, pelas projeções da Secex. Seja para a vizinha Argentina, que aumentou em 88,1% a compra de itens brasileiros desde janeiro, para a China (alta de 37%) ou Estados Unidos (alta de 33,6%), as matérias-primas e os produtos fabricados aqui devem continuar viajando pelo mundo. Um alento até que o mundo volte a se abrir também para os cidadãos Made in Brazil.